A pandemia que nos afecta terá efeitos paralisantes a todos os níveis, social, económico e financeiro nos próximos meses. Face a este drama, seria de esperar que a zona euro se unisse, quer a nível monetário, quer a nível fiscal/orçamental, para implementar medidas de fundo e mitigar o risco de uma recessão severa.

Ora, aquilo a que assistimos nas últimas semanas foi a uma desorganização completa, ou seja, cada país para seu lado, a anunciar medidas de umas parcas centenas de milhões de euros.

Fico a pensar se queremos pertencer a este grupo, que nas crises não tem capacidade de resposta, nem de coesão, apesar de repetidamente ouvirmos a frase “faremos tudo para salvar a zona euro”. De facto, não existe um orçamento comum, uma forma de financiamento autónoma, ou até um apoio do Banco Central Europeu (BCE), a exemplo do que fez a Reserva Federal americana (Fed).

No espaço de duas semanas a Fed cortou as taxas de juro em 1,5%, cedeu dinheiro de forma quase ilimitada aos bancos, implementou um programa de compra de activos no valor de 700 mil milhões de dólares e uma linha de crédito para papel comercial no valor de um bilião de dólares.

Por seu turno, Trump tenta aprovar um aumento da despesa em 1,2 biliões de dólares, parte da qual irá directamente para os bolsos dos americanos, através de cheques ou créditos fiscais. Estas medidas representam 15% do PIB e já estão a ter impacto nas expectativas das famílias e nos mercados financeiros, que antecipam maior consumo dentro de alguns meses.

Na zona euro, temos um BCE, que graças a Mario Draghi, já não tinha muito para entregar ao mercado e aos cidadãos europeus. Ficámo-nos com um tímido programa de compra de títulos de dívida pública no valor de 120 mil milhões euros e dinheiro ilimitado para os bancos.

Neste momento, devemos perguntar-nos se se justifica dar mais dinheiro aos bancos, e se não é uma ajuda para enfrentar os problemas de crédito malparado que inevitavelmente irão surgir.

Uma das medidas a adoptar a nível europeu seria uma moratória em todas as dívidas ao sector financeiro e governos por, pelo menos, três meses. Não se trataria de incumprir, mas adiar os pagamentos sem impacto contabilístico nos bancos ou governos, dando mais confiança às famílias e empresas.

Como resultado da inacção do BCE, as taxas de juro italianas a 10 anos mais do que duplicaram, subindo de 1% para 2,3%, e as portuguesas mais do que triplicaram de 0,35% para 1,15%. Ou seja, em vez de acalmarem os mercados, nervosos com a pandemia, temos um BCE ineficaz, uma Comissão Europeia incapaz de tomar medidas comuns e os países onde cada um implementa como pode o seu programa de estímulo.

Não fosse Trump e a Fed e os mercados não tinham parado a queda de 40% num mês, que fica para a história como um dos piores períodos desde 1929.

Para o investidor de longo prazo, os estímulos fiscais e monetários em todo o mundo servem de indicador de oportunidades de investimento únicas, no ano que ficará marcado pela quarentena de milhões de cidadãos em todo o mundo.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.