O Fidesz, partido do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, usou os dados dos cidadãos das inscrições de vacinas Covid-19 para divulgar mensagens de campanha antes da eleição da Hungria em abril de 2022, de acordo com um relatório da Human Rights Watch, que considera que o ato “prejudicou a privacidade e prejudicou ainda mais um campo de jogo já desigual em favor do partido no poder”
Para além de ter usado os dados recolhidos de pessoas que se inscreveram para a vacina Covid-19, mas também os dados dos pedidos de benefícios fiscais e registos de membros de associações. Por isso, a ONG afirma que “as linhas ténues entre os recursos do governo e do partido no poder, incluindo dados, e a captura de instituições-chave pelo governo levaram à aplicação seletiva de leis que beneficiaram ainda mais o Fidesz”.
“Usar os dados pessoais das pessoas recolhidos para que possam aceder a serviços públicos para bombardeá-los com mensagens de campanha política é uma traição de confiança e um abuso de poder”, disse Deborah Brown, investigadora sénior de tecnologia da Human Rights Watch. “O governo húngaro deve parar de explorar dados pessoais para campanhas políticas e garantir condições equitativas para as eleições.”
A investigadora salientou ainda que, atualmente, as campanhas eleitorais “dependem fortemente de dados, muitas vezes recolhidos de uma forma que não é transparente. Governos, especialistas em privacidade e eleições, a indústria de tecnologia e outros devem garantir que campanhas baseadas em dados não prejudiquem a privacidade das pessoas ou seu direito de participar de uma eleição democrática.”
Para elaborar o relatório “Trapped in a Web: The Exploitation of Personal Data in Hungary’s 2022 Elections”, a Human Rights Watch entrevistou especialistas em privacidade e proteção de dados, integridade eleitoral e campanhas políticas; representantes de partidos políticos; empresas envolvidas em campanhas baseadas em dados; e pessoas cujos dados foram mal utilizados por campanhas políticas. A ONG também realizou análises técnicas de sites de partidos políticos e campanhas para entender como eles lidavam com os dados dos usuários, esclarece.
Orbán conquistou o quarto mandato consecutivo como primeiro-ministro nas eleições de abril de 2022, mas observadores internacionais disseram que as condições nas quais as eleições gerais ocorreram não foram justas. Este relatório junta-se a esse coro.