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Os desafios do mundo VUCA

A aceleração tecnológica acelerou o ‘gap’ entre as organizações altamente eficientes e as que não acompanham o ritmo. Estaremos dispostos a evoluir rapidamente para organizações mais ágeis e orgânicas?
10 Julho 2019, 09h25

O emergir de uma nova economia num mundo VUCA – o acrónimo em inglês para volatilidade, incerteza complexidade e ambiguidade –, em que aquela é baseada em grandes corporações, cachos de startups, fusões e aquisições, automação e machine learning, faz com que a criação de valor dependa cada vez mais das pessoas. As suas capacidades de apreender, acumular, criar e disseminar conhecimento passam a ser as suas principais ferramentas de trabalho, ajudando a organização a gerar respostas adaptativas.

Os mais recentes estudos na área destacam de forma muito clara os contornos do desafio que hoje enfrentamos:

1. A produtividade não acompanhou o ritmo do desenvolvimento tecnológico. O que hoje conseguimos fazer com a tecnologia não é aproveitado porque continuamos a trabalhar como se estivéssemos nos anos 80. Por isso mesmo, continuamos a usar o mail como o principal meio de comunicação e arquivo, quando hoje temos espaços de colaboração muito mais eficientes, todos na cloud e alguns deles com custos perfeitamente marginais comparados com os custos tradicionais do IT.

Isto para não falar do custo inerente ao “ruído organizacional” que o uso desproporcionado do mail criou, seja em termos de produtividade, seja em termos de saúde ocupacional e stresse no trabalho (e fora dele, já agora, uma vez que estamos permanentemente “ligados”);

2. A produtividade no trabalho reflete-se hoje em dia em atividades tão elementares como a forma como tiramos notas, por exemplo. Continuamos a tomar notas muitas vezes sem um sistema montado que nos permita aproveitar a informação num flow eficiente e não tiramos proveito da capacidade das diversas aplicações comunicarem entre si para criarmos um ecossistema ágil de produtividade, continuando à espera que grandes sistemas de informação deem resposta a todos os nossos problemas;

3. Mas a produtividade também tem a ver com modelos mentais e modelos de gestão e organização do trabalho a nível corporativo. Muitas vezes não organizamos os nossos rituais de gestão para tirarmos proveito da tecnologia: continuamos obcecados com o presenteísmo (temos de ver os colaboradores para sabermos que eles estão verdadeiramente a trabalhar), dando primazia ao paradigma do controlo em detrimento do paradigma da responsabilização, o que obstaculiza o trabalho remoto, por exemplo.

Rituais de controlo dos processos em vez de apuramento de resultados geram muitas vezes reuniões excessivas, redundâncias e desperdício, em muitos casos fruto de regras de compliance nas multinacionais que não são flexíveis o bastante para tirar o proveito devido das possibilidades que as tecnologias oferecem;

4. A legislação também não acompanha esta evolução, seja na tecnologia seja naquilo que as novas gerações valorizam (o que dizer a um jovem engenheiro que reclama querer fazer 15 minutos de almoço para depois sair mais cedo e ir ao ginásio? Segundo a legislação laboral portuguesa atual, isso não é permitido).

Face a este cenário, o problema central reside na competitividade sustentável: a aceleração tecnológica acelerou o gap entre as organizações altamente eficientes e as que não acompanham o ritmo… e nunca como hoje tantas empresas fecharam ou faliram, por não se conseguirem manter competitivas. Estaremos dispostos a evoluir rapidamente para organizações mais ágeis e orgânicas?

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