A definição da política monetária comporta muitas variáveis e no caso do Banco Central Europeu (BCE) não é diferente. No entanto, e porque decorre de forma muito direta do seu mandato, o BCE presta especial atenção à estabilidade de preços no seu processo de decisão. Esse facto tem sido amplamente comunicado pelo próprio Banco Central, sobretudo nos últimos meses, ao justificar a subida dos juros com a necessidade de combater a inflação.

Este ano, e sobretudo este trimestre, tem-se caracterizado por uma diminuição significativa da inflação, reduzindo os riscos de o processo de subida dos preços se enraizar de forma mais permanente. Tendo em conta os números mais recentes, é bem provável que a inflação venha a surpreender ainda mais em baixa, contrariando os receios e as previsões algo histriónicas que se faziam no final no ano passado. Quem segue estas linhas, está familiarizado com a minha opinião de que a inflação iria baixar bastante em 2023, o que parece estar a concretizar-se.

É tentador, sobretudo para os bancos centrais, justificar uma evolução favorável da inflação com as suas decisões da política monetária. Ou seja, da mesma forma que o Governo português irá certamente destacar o papel do “IVA zero” na descida da inflação – um efeito que é muito marginal – a subida dos juros também teve influência na moderação dos preços, mas está longe de ser o principal fator.

Os fatores que, sequencialmente, provocaram o surto inflacionista: constrangimentos logísticos, subida dos preços da energia, falsa sensação de escassez de produtos e commodities devido à guerra e, finalmente, a expansão de margens, não só não são repetíveis como estão a dissipar-se, mas não graças ao BCE.

Portanto, é preciso ter sempre cuidado com as previsões catastrofistas, que a imprensa ajuda a fazer passar, e não menos com os discursos dos decisores que irão tentar ficar com os louros de uma evolução positiva para a qual pouco contribuíram.