Ler sobre a época fascinante dos Loucos Anos 20 do século XX pode dar-nos pistas para o que nos aguarda nos próximos anos.

Após o fim da I Guerra Mundial, a sociedade americana da década de 1920 assistiu a um crescimento económico sem paralelo. As famílias compraram, pela primeira vez, carros, telefones e rádios, as mulheres ganharam o direito ao voto, mudando a sua forma de vestir, apresentando-se à sociedade de forma mais ousada. O mundo ocidental, de súbito, tornou-se um lugar glamoroso, opulento, sedutor e decadente. No famoso ensaio de F. Scott Fitzgerald sobre a época, “Echoes of the Jazz Age”, escreveu: “Foi uma era de milagres, uma era de arte, uma era de excesso e uma era de sátira.”

Na Europa, o movimento modernista trouxe consigo novos valores artísticos que expressaram os horrores da I Guerra Mundial. Nada voltaria a ser igual. E como se não bastasse uma devastadora guerra com poder bélico letal, sofreram também os efeitos de um vírus que infetou milhões, a gripe pneumónica de 1917-18, que viria a causar a morte de mais de 50 milhões de pessoas.

A história parece condenada a repetir-se quando, um século depois, um novo vírus perigoso força ao fecho da economia global. Não houve uma guerra mundial, mas não têm faltado outo tipo de guerras e recessões económicas. Poderá a pandemia da Covid-19 ser um evento transformador dos nossos tempos? Voltando ao século XX: o que aconteceu realmente à sociedade após uma guerra sanguinária e uma pandemia brutal? Não perderam a vontade de socialização, foi exatamente o oposto. Partiram, mais do que nunca, para a celebração da vida. Houve dança, música e arte sem precedentes. Houve consumo em massa. A década acabou num crash massivo que levou a um novo ciclo de pobreza, mas naqueles breves anos deram-se a todos os excessos.

Como serão os anos 20 do século XXI? Com um plano de vacinação que permitirá atingir a imunidade de grupo e pôr fim à pandemia, é bem possível que se assista, a seguir, a um período “louco” onde reinará o otimismo, mas que também está condenado a ser breve, face aos muitos desafios que ainda estão por resolver. O desafio climático aguarda-nos como nuvens negras no horizonte e poderá ter impactos mais devastadores do que uma pandemia. E a nível laboral, a precariedade nunca foi tão alta ou problemática entre as novas gerações, um problema que não pode continuar a ser ignorado.

Ainda assim, a História ensina-nos que o poder dos seres humanos para criar, moldar e melhorar o ambiente em que vivem é uma característica que se mantém viva ao longo dos séculos. Queremos mesmo regressar ao velho triturar da máquina ultra-capitalista e mantermos um sistema minado por desigualdades que dificilmente nos irá proteger perante os novos desafios? E se não for agora o tempo de agir, será quando?