Há dois meses, tudo apontava para que Donald Trump terminasse 2017 sem grandes vitórias. Contudo, e contra as expetativas, a maior reforma fiscal desde a era de Ronald Reagan está a escassos processos de ser legislada, sendo apenas necessário a reconciliação dos planos apresentados pela Câmara dos Representes e Senado, aprovação da versão final pelos órgãos supracitados, e a assinatura final de Trump (que não se espera difícil!).

Assumindo que a reconciliação é célere e aprovada pelo Congresso, Trump poderá terminar o ano a receber (obtendo uma vitória no primeiro ano de mandato) e a dar (aos contribuintes) um grande presente de Natal.

As expetativas relativas a reforma fiscal poderão ser o trigger para o Santa Claus Rally (um fenómeno histórico de ganhos nos mercados acionistas no final de dezembro e inicio de janeiro) deste ano, com certos setores a serem especialmente beneficiados por este. O plano inclui um corte de impostos corporativos significativo (cerca de 15 pontos percentuais considerando a taxa de impostos corporativos de 20% proposta), beneficiando empresas de menor dimensão (vulgo small caps) e empresas de maior dimensão que apresentam taxas de impostos mais elevadas.

Neste raciocínio, o índice Russel 2000 (de small caps com uma taxa de imposto efetiva de cerca de 32%) será mais beneficiado que o S&P 500 (cuja taxa de impostos efetiva está à volta dos 24%).

As empresas no setor de consumo discricionário também deverão beneficiar do maior rendimento disponível por parte das famílias, concomitante com a redução dos impostos sobre o rendimento. O imposto único de repatriação de lucros offshore, a uma taxa de 10% de acordo com a proposta do Senado, beneficia as empresas com uma elevada percentagem destes, que podem repatriar e, replicando a situação semelhante de 2004, realizar programas de recompras de ações, aumentando o retorno para o acionista.

Por fim, o dólar norte-americano (USD) é também um dos potenciais beneficiados, sendo expectável uma valorização assente no impacto positivo da reforma fiscal no crescimento económico (projeção de um aumento de 0,8% no PIB base num período temporal de 10 anos segundo Joint Comitte on Taxation) e na geração de uma pressão inflacionista que poderá despoletar um ritmo mais acelerado de aumento de taxas de juro pela Reserva Federal.

Resumindo, é expectável que assistamos a um renascer do Trump Trade. O plano não é apenas um mar de rosas e as estimativas do Joint Comitte on Taxation apontam para que o plano fiscal aumente o défice em um bilião de dólares num período de 10 anos.

Não obstante os efeitos do plano fiscal a médio prazo, a sua passagem, a ocorrer, poderá sustentar o rally dos mercados norte-americanos no curto-prazo.