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Os momentos essenciais da segunda jornada do Congresso Nacional do PSD

Da catarse de Luís Montenegro que não vai “pedir licença a ninguém”, até à surpresa de Elina Fraga sentada ao lado do novo líder, passando pelo “quase desafio” de Nuno Morais Sarmento (dirigido a Marcelo Rebelo de Sousa) e desembocando no referendo sobre a eutanásia sugerido por Hugo Soares. Não faltaram motivos de interesse (e surpresa) durante a tarde de sábado.
  • Cristina Bernardo
17 Fevereiro 2018, 22h34

16h30m: Morais Sarmento insurge-se contra “frente popular de esquerda” na Madeira

Nuno Morais Sarmento, antigo governante e dirigente do PSD, procura mobilizar o partido para uma das três disputas eleitorais de 2019: as eleições regionais da Madeira. E traça desde logo uma analogia entre o desafio que Miguel Albuquerque (atual presidente do Governo Regional da Madeira que discursara alguns minutos antes de Sarmento) terá pela frente e a “geringonça” (os acordos de incidência parlamentar entre o PS e o PCP, PEV e BE) que, em 2015, derrubou o Governo PSD/CDS-PP. “Miguel Albuquerque vai enfrentar também e pela primeira vez, não o PS, mas a frente popular de esquerda, numa reedição da maioria do Parlamento nacional e no Governo da República,” alerta Sarmento.

Sarmento faz questão de “denunciar esta frente popular de esquerda que lá [na Madeira], como cá [no continente], teima em não se assumir, em ir escondida. No continente veio pelas costas, agora na Madeira prepara-se para ir disfarçada. Ela pode esconder-se atrás de Paulo Cafôfo, mas o truque é que já é bacoco, porque nós já o conhecemos.” E apela à mobilização do partido: “É enfrentar e sem medo toda esta frente popular de esquerda. E não é o presidente do PSD, temos que ser todos, todos os militantes do PSD a travar esse combate.”

Na parte final da sua intervenção, Sarmento lança um “quase desafio” ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, não sem antes elogiar o papel que tem desempenhado: “Devemos a Marcelo uma palavra de admiração e de agradecimento pelo exemplo que nos continua a dar.” Quanto ao “desafio”, trata-se de assumir o patrocínio de pactos de regime para desenvolver reformas estruturais no país. Ou seja, em linha com o discurso de Rui Rio na véspera que especificou as áreas que considera serem prioritárias: Justiça, Estado e sistema político. Cerca de duas horas após o seu discurso, Sarmento é confirmado como um dos novos vice-presidentes da Comissão Política Nacional do PSD, funções que já tinha exercido durante as presidências de Durão Barroso e Pedro Santana Lopes.

 

17h40m: Montenegro anuncia saída do Parlamento e admite futura candidatura à liderança do PSD

“Hoje neste congresso lançamo-nos para conquistar o futuro. Com o rasgo, a esperança e o reformismo de sempre. Hoje neste congresso arrancamos para vencer as terceiras eleições legislativas consecutivas em Portugal. E arrancamos para tornar a governar o nosso país”. É assim que Luís Montenegro inicia o seu discurso, colocando a fasquia no patamar mais alto – “para vencer” e “para tornar a governar” -, sob o olhar atento do novo líder.

O antigo líder da bancada parlamentar do PSD diz que não está “preocupado com o passado” mas a “olhar para o futuro”. E prossegue com uma série de perguntas e respostas: “Precisa o país de um bloco central de partidos? Não, não precisa. Precisa o país de um bloco central de interesses? Não, não precisa. Precisava o país de um bloco central de políticas? Isso sim, o país precisava disso. Precisava de dois partidos centrais que nas suas diferenças, e complementaridades, se contactasse naquilo que é estruturante e estratégico para Portugal.”

Num discurso emocionado em que dispara para todos os lados, inclusive para apoiantes de Rio que o terão acusado de “falta de coragem” por não ter avançado com a candidatura à liderança do PSD, Montenegro acaba por revelar que vai abdicar do mandato de deputado à Assembleia da República, no dia 5 de abril. “Não vale a pena alimentar guerras artificiais e adversários internos virtuais”, afirma, dirigindo-se a Rui Rio.

Mas deixa a porta entreaberta, preparando-se para o futuro próximo. “Quero que saibam que não vou abandonar o combate, vou fazê-lo noutro local, na rádio, na televisão e porventura nos jornais. Mas estejam descansados, não o farei como outros, nesse combate vou sempre ajudar e representar o PSD”, declara. Poucos minutos antes, ao explicar a decisão de não se candidatar à liderança, já tinha avisado: “Se algum dia entender dizer sim, não vou pedir licença a ninguém”.

 

18h00m: A grande surpresa de Elina Fraga por entre várias confirmações nas listas para os órgãos nacionais

Rui Rio sobe ao palco e anuncia os nomes das suas listas de candidatos aos órgãos nacionais do PSD. Ainda a digerirem o discurso anterior de Montenegro, os militantes do PSD reagem friamente à revelação das escolhas do novo líder. Entre as escolhas destacam-se algumas surpresas, desde logo Elina Fraga (ex-bastonária da Ordem dos Advogados) como vice-presidente da Comissão Política Nacional (CPN), a par de David Justino, Isabel Meirelles, Manuel Castro Almeida, Nuno Morais Sarmento e Salvador Malheiro. Na altura, Rio leu os nomes por ordem alfabética, mas apurou-se entretanto que Morais Sarmento deverá ser o primeiro vice-presidente, isto é, com primazia hierárquica sobre os outros cinco vice-presidentes.

Além dos seis vice-presidentes da CPN, confirma-se que Feliciano Barreiros Duarte vai suceder a José Matos Rosa no cargo de secretário-geral e indicam-se também os nomes dos vogais da CPN, a saber: André Coelho Lima, António Carvalho Martins, António Topa, António Maló de Abreu, Claudia André, João Cunha e Silva, Manuel Pinto Teixeira, Maria da Graça Carvalho, Ofélia Ramos e Rui Rocha. De resto, Pedro Santana Lopes encabeça a lista para o Conselho Nacional, seguido por Paulo Rangel, Arlindo Cunha e José Matos Rosa. Mais, Paulo Mota Pinto é apontado à Mesa do Congresso e José Nunes Liberato vai dirigir o Conselho de Jurisdição Nacional.

 

19h30m: O entendimento de Hugo Soares com Rui Rio e a “obrigação de ouvir o povo português”

Hugo Soares diz que teve “um orgulho enorme em presidir à bancada parlamentar” do PSD e desdramatiza o processo que levou à sua substituição, explicando: “Quer eu, quer o doutor Rui Rio, nunca nos desentendemos neste processo que diz respeito à liderança parlamentar do PSD. Tanto eu como o doutor Rui Rio respeitámos o tempo que foi pedido, a opinião de cada um. Tivemos os dois o comportamento que melhor defendeu o Grupo Parlamentar e o PSD”.

Por entre muitas críticas ao Governo do PS e ao primeiro-ministro António Costa, além de voltar a defender que o PSD deve anunciar desde já que vai votar contra o Orçamento do Estado para 2019 (mesmo não conhecendo o respetivo conteúdo), Soares acaba por surpreender os militantes ao propor um referendo nacional sobre a eutanásia. “Eu queria dizer ao Congresso Nacional do meu partido que, se quiserem iniciar o processo legislativo no Parlamento, temos obrigação de ouvir o povo português e fazer um referendo”, declara, salientando que o PSD nunca debateu internamente o tema da eutanásia.

 

23h50m: O apelo de Pedro Santana Lopes ao “sentido de responsabilidade” e à coesão interna do partido

“Eu não gostei de ver tentarem condicionar-te mal foste eleito e mesmo antes de tomares posse aqui neste congresso”, afirma Pedro Santana Lopes, dirigindo-se a Rui Rio. “Tu ganhaste e tens todo o direito de executares a tua estratégia”, sublinha. O discurso de Santana Lopes no 37º Congresso Nacional do PSD focou-se na união interna e lealdade para com o novo líder. O antigo primeiro-ministro diz estar “disposto a ajudar o presidente do partido a ganhar as próximas eleições”, embora reconhecendo: “Não tenhamos dúvidas, não é fácil”.

“Eu não gosto do ‘chico-espertismo’, destas manobras a que já fiz alusão de tentarem condicionar um líder eleito. Ou de entrevistas em que se diz que, daqui a dois anos, logo veremos se há oportunidade seja para quem for. Já todos vimos isso, nas histórias dos momentos menos bons do partido. Este é um momento bom e tem que ser um momento alto. Agora, não quero deixar de dizer que muitos de nós, que vamos dar a unidade e a convergência que alguns dos que te apoiaram nestas diretas nunca deram ao líder anterior do partido”, realça Santana Lopes, apelando ao “sentido de responsabilidade” e à coesão interna do partido.

 

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