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Os números do desemprego vistos pelos especialistas

O INE revelou hoje a estimativa provisória da taxa de desemprego de setembro de 2016, que se situou em 10,8%.
  • Rafael Marchante/Reuters
2 Novembro 2016, 16h16

Segundo os especialistas consultados pelo Jornal Económico, os números do desemprego refletem uma melhoria na economia e a possível quebra no ciclo negativo deixado pelos anos de maior austeridade.

 

João Duque (professor do ISEG):

“Eu não gosto muito de comentar os resultados do desemprego. Prefiro comentar os dados do emprego, porque estes dados divulgados pelo INE não são de todo explicativos da realidade portuguesa. Temos menos desemprego, mas porquê? Houve uma absorção de uma percentagem de desempregados pelas empresas? Emigraram? Deixaram de procurar emprego? Passaram à idade de reforma?

Mas a economia portuguesa está de alguma forma a contribuir para um acréscimo na taxa de empregados em Portugal. Eu diria que os setores que mais impulsionaram o crescimento do emprego foram o turismo e o imobiliário. Sobretudo o turismo, que tem sido também o grande foco das empresas portuguesas.”

 

José Reis (professor da Universidade de Coimbra):

“Estes dados são coerentes com a tendência de melhoria que vamos vendo na economia portuguesa. Acho que, em temos económicos, Portugal conseguiu estabilizar-se e ultrapassar a tendência de convulsão que se fez sentir nos últimos anos na economia portuguesa. Estes dados são também coerentes com a estratégia de recuperação da economia. Penso que este governo tem tentado reverter a situação económica deixada pelos anos de austeridade da troika. Estes dados do desemprego só não são melhores devido às dificuldades que a economia ainda atravessa.”

 

Pedro Lains (professor da Universidade de Lisboa):

“O desemprego em Portugal tem descido e o emprego tem subido, nos últimos trimestres, sem que tenha havido uma recuperação do investimento. Ora isso só pode significar que o grau de utilização da capacidade produtiva instalada aumentou. As crises financeiras têm precisamente um impacto negativo no grau de utilização da capacidade produtiva e esse efeito foi claro em Portugal, efeito agravado ainda pelas fortes medidas contracionistas do período da troika. A evolução positiva do desemprego (e do emprego) pode indicar que o ciclo negativo em que a economia portuguesa se encontrava foi interrompido, ainda antes da recuperação do investimento, que se espera venha a acontecer em breve.”

 

Nuno Ribeiro da Silva (presidente da Endesa e vice-presidente da AIP):

“A descida dos números do desemprego é sempre algo de positivo para a economia. O mês de setembro é ainda, à semelhança de agosto, um mês em que o turismo e outros serviços ligados ao lazer permitem estimular a economia e, por isso, era de esperar que os valores de setembro fossem bastante semelhantes aos de agosto, dada a esta ‘sazonalidade positiva’. A explicar os valores de setembro pode estar ainda a atividade ligada a obras camarárias, que se verificam agora com maior intensidade com o ciclo de proximidade das eleições. Esta tendência de descida, que já vem do Governo anterior, pode ser explicada ainda pelo ciclo migratório. No entanto, é importante considerar até que ponto é que a economia está a absorver o desemprego, sobretudo o desemprego de longa duração, e qual a real qualidade do emprego.”

 

Tiago Caiado Guerreiro (Advogado especialista em Direito Fiscal e Económico):

“Qualquer descida da taxa de desemprego é positiva. Mas a questão aqui é até que ponto essa descida se é significativa. Porque até pode haver uma grande diminuição do desemprego e um aumento do emprego mas se a dívida pública sobe, está tudo estragado. E a verdade é que a dívida pública tem aumentado, pelo sétimo mês consecutivo. E sem a criação de riqueza, estes valores não querem dizer nada.”

 

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