Onde está escrito que os servos têm de viver melhor do que os seus amos? Os políticos são os servos do povo. Foi mais ou menos isto que Zelenski disse na série de comédia satírica que o levou à presidência da Ucrânia.

Não podia estar mais de acordo e que bem que tal frase se adapta à realidade portuguesa!

Deputados que se reformam com poucos anos de actividade, deputados que legislam normas que depois não cumprem, ministros que praticam o nepotismo e amiguismo impunemente, políticos que defendem o SNS e o ensino público para o povo, mas depois usam os serviços privados, porque podem, políticos que não cumprem as regras urbanísticas para as suas casas, peculato abusivo dos bens públicos, carros com motoristas, viagens em primeira classe ou executiva, nomeação de comissário (rectius, comentador) político para organizar uma festa em 2025 e seguida da sua nomeação para ministro, só para dar alguns exemplos…

Não pretendo ser populista, mas apenas chamar a atenção para aquela frase que diz muito do povo português e da inexistência do elevador social fora da política ou do muito mérito – este tantas vezes combatido ferozmente, como se fosse um estigma social.

Na invasão da Ucrânia pela Rússia, onde os servos mostram a sua aparente solidariedade para com os refugiados da guerra e uma intolerância extrema para com os russos e a sua cultura – como se estes fossem os culpados das acções de um líder louco – relembro que Zelenski afirma num discurso à União Europeia que Portugal ainda está reticente no apoio inequívoco à Ucrânia. A comunicação social não deu importância a esta grave afirmação, o que denota uma gritante contradição entre o que este Governo diz e o que pratica na cena internacional, e a cumplicidade desta nossa comunicação social com os servos.

O silêncio grita. O povo está com a Ucrânia, mas aparentemente os servos não transmitem, como deveriam, esse apoio a quem de direito. Dito isto, não concordo com a intolerância com tudo o que a cultura russa produziu, com os saneamentos ideológicos de quem apoia a Rússia, da perseguição dos russos comuns que vivem em Portugal. Os cleptocratas têm de ser escrutinados e perseguidos, mas não os russos normais, que vivem pacificamente as suas vidas nos países que os acolheram e cujo acolhimento eles retribuíram. Não nos esqueçamos da tremenda injustiça que, na Segunda Guerra Mundial, nos EUA, foi feita aos japoneses que aí viviam. Os fins não justificam os meios.

Recentemente, tenho tido conhecimento de saneamento de russos, vivos e mortos, na ciência, na cultura, na comunicação social, nas empresas, etc…De instituições de créditos que ordenaram o fecho indiscriminado de contas bancárias de russos, de recusa de análise de vistos de residência a russos ou sociedades de advogados que fecham portas a clientes russos. Isto, num regime democrático, é ilegal, injusto e imoral.

Ainda me lembro do que Yuval Noah Harari escrevia nos seus best-sellers. Acreditava que não haveria mais guerras e que morriam no mundo menos pessoas de guerra do que de homicídio e suicídio. Este optimismo não contava com regimes autocráticos e líderes loucos, mistura explosiva. E há mais regimes destes…

Mas temos de separar o trigo do joio, o povo russo não tem culpa das loucuras do seu líder. E os políticos servos têm de ser duros com Putin, mas cumprir – e fazer cumprir – a lei no seu país. Slava Ukraini!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.