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Ouro foi o raro brilho em dia dramático para os mercados financeiros

A guerra dos preços do petróleo está a ter diversos efeitos colaterais. Desde o ‘sell-off’ das bolsas, com o Dow Jones a registar a maior perda pontual de sempre, até às ‘yields’ das obrigações a dez anos norte-americanas e alemãs terem renovado mínimos, os mercados financeiros estão em ebulição. Por enquanto, só o ouro traz retornos seguros.
10 Março 2020, 07h50

No domingo passado, o barril de Brent, a referência de petróleo mundial, desvalorizou 21% para os 35,73 dólares. A pressão sobre o preço do “ouro negro” fez-se sentir no dia seguinte. Ontem, em Londres, o Brent negociava nos 35,82 dólares, acumulando perdas de 33,49% desde sexta-feira, o último dia da reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) com os aliados liderados pela Rússia, que marcou o início da guerra de preços do crude.

Ainda não foram atingidos os mínimos de 2016, ano em que o Brent chegou a negociar nos 27,88 dólares, mas a rapidez com que a guerra de preços do petróleo se está a fazer sentir no mercado poderá significar que as quedas do crude poderão continuar.

Em causa está a falta de entendimento entre a Arábia Saudita, a líder de facto da OPEP, e a Rússia. Por causa do coronavírus, o consumo de petróleo caiu de forma abrupta – só as importações chinesas afundaram cerca de 20%. O reino saudita pretendia cortar a produção para 1,5 milhões de barris por dia a partir de 1 de abrir, data em que os acordos em vigor expiram. Mas Rússia de Vladimir Putin não aceitou.

A Arábia Saudita contra-atacou e anunciou não apenas um corte dos preços em todos os tipos de crude entre seis e oito dólares por barril, mas também o aumento da produção de dez milhões de barris por dia, a partir de abril. Foi nesta reação em cadeia que estalou a guerra de preços de petróleo, afetando diversas classes de ativos, nomeadamente as ações. Os efeitos colaterais não demoraram a fazer-se sentir.

O selloff mundial das ações

Encarnado. Foi com esta a cor que todas as ações que integram o EuroStoxx 50 encerraram a sessão europeia esta segunda-feira. A energética italiana ENI liderou as perdas, afundando 20,85%.

A tendência foi mundial. Na Austrália, o índice ASX perdeu mais de 6%, a maior queda desde a crise financeira, evaporando-se 130 mil milhões de dólares do índice.

Nos Estados Unidos, o Dow Jones registou a maior perda de pontos intraday de sempre, caindo 2.013 pontos, o que correspondeu a uma desvalorização de 7,79%. Mas o dia foi negro para os outros principais índices de Wall Street, com o Nasdaq e o S&P 500 a caíram 7,60% e 7,29%, respetivamente.

Por cá, o PSI-20 sofreu a maior queda diária desde 2008, ao perder -8,24%, arrastado por todas as 18 cotadas. A petrolífera Galp Energia, liderou, naturalmente, as quedas, com um tombo de 16,56% para 9,58 euros por ações, mínimos de janeiro de 2016. Nota também para o Millennium bcp tocou mínimos de 2017, ao cair 15,18% – a ação encerrou a negociar nos 0,12 euros.

Yieds norte-americanas e alemãs atingem mínimos

As yields das Obrigações do Tesouro (OT) norte-americano registaram esta segunda-feira a maior queda diária da última década. Com a queda das bolsas, os investidores ‘fugiram’ para porto seguro, e encontram nas OT a dez anos um refúgio.

Ontem, as OT a dez anos norte-americanos perderam 22 pontos base durante o dia, para 0,318%. Foi a maior queda das yields desde 2011, aquando da crise da dívida soberana da zona euro.

Na Alemanha, os investidores continuam a pagar para o motor económico da zona euro emitir dívida. A remuneração das OT a dez anos caíram para -0,909%, um novo mínimo. Desde junho de 2016, quando o Reino Unido votou a favor do Brexit, que as bunds alemãs não caíam tanto em apenas um dia.

A tendência verificou-se noutras maturidades. Por exemplo, na segunda-feira foi a primeira vez que as yields da dívida alemã a dois e a sete anos caíram abaixo do 1%.

Também a dívida a dois anos caíu 12 pontos base, a maior queda registada desde a crise da dívida soberana de 2011 da zona euro.

O refúgio dourado

O ouro, apesar de ser um ativo que não gera juros, é um dos ativos refúgio clássicos em tempos de intempérie nos mercados. Esta segunda-feira, às 21h00 em Portugal, a onça de ouro subia 0,5% para 1.678,70 dólares (a sessão asiática  de terça-feira já tinha começado). Apesar da ligeira subida, o metal precioso estava um abaixo do registado no início da sessão asiática da véspera, altura em que ultrapassou a fasquia dos 1.700 dólares.

A volatilidade deveu-se ao facto de alguns investidores terem vendido o metal dourado para angariar capital. Em paralelo, o mercado antecipa que a Reserva Federal norte-americana volte a cortar as taxas de juro, o que aumenta a atração pelo ouro.

À “Bloomberg”, Naeem Aslam, chief market analyst da Ava Trade, admite que o “o facto de o preço ter ultrapassado a fasquia dos 1.700 dólares leva a querer que existem fortes hipóteses de o preço voltar a ultrapassar esse nível”.

Os analistas da UBS vão um pouco mais longe, e estimam que a onça de ouro possa subir para os 1.800 dólares nas próximas semanas, enquanto o Citigroup antecipa que o metal precioso supere os dois mil dólares no final de 2021.

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