1. Do novo Governo, sobram as mensagens. Primeiro: paridade absoluta entre homens e mulheres (9-9, contando com o primeiro-ministro). Realmente, um bom exemplo de António Costa dirigido a toda a sociedade nacional. É imitar. No Estado, nas empresas, na sociedade.

Depois: um governo com os melhores do PS e seus próximos, como António Costa Silva (o pai do PRR), a cientista Elvira Fortunato e Pedro Adão e Silva, formalmente um não militante, pese já o ter sido e ter integrado a direção de Ferro Rodrigues enquanto secretário-geral. Se excetuarmos as recentes declarações sobre o 25 de novembro de 1975, que mostram um grosseiro desconhecimento histórico da data, Pedro Adão e Silva, a surpresa de última hora do governo, é um homem que pode trazer à Cultura uma gestão inteligente e moderna.

A seguir: a reunião, em postos governamentais, dos protocandidatos à sucessão de António Costa, seja lá quando for que isso venha a acontecer. Estão ali todos os delfins oficiais. A Mariana Vieira da Silva, ‘a preferida’ e a Pedro Nuno Santos, ‘o autoproclamado’, juntam-se agora Ana Catarina Mendes e Fernando Medina. Só faltam aqueles que estarão a correr por fora, como bem poderá ser o caso de Sérgio Sousa Pinto ou Francisco Assis.

Finalmente: António Costa reserva para ele a direção dos assuntos europeus. Um sinal para o futuro pessoal?

2. A constituição deste XXIII governo constitucional, o segundo de maioria absoluta para o PS, depois do de José Sócrates, em 2005, talvez ainda não seja, o que seria pena, o ponto de partida para que um governo em Portugal se constitua como um centro de gestão e planeamento do futuro em vez de ser de gestão e direção de negócios, como quase sempre infelizmente tem sido. E se Portugal tem pago um alto preço por esse facto!

O caso de António Costa Silva, agora ministro da Economia e do Mar, é um bom exemplo: quando foi preciso pensar e planear, o primeiro-ministro não tinha ninguém em casa, teve de ir contratar fora. Resultou razoavelmente bem, como quase todos os quadrantes políticos depois reconheceram, mas não pode ser a norma.

Os ministros devem ser menos homens e mulheres de negócios e serem, em cada uma das áreas, planeadores do futuro. E normalmente não são nada disso. Basta olhar as agendas em velocidade cruzeiro: reuniões e mais reuniões, Europa e Portugal, visitas a empresas, almoços e jantares, automóveis a velocidades ilegais. E se eles andam assim, numa roda viva, quem estará a pensar o país?

3. Portugal vai ter, fruto do PRR e dos fundos estruturais, condições únicas para lançar os fundamentos de um país moderno e digital, mais inclusivo, com melhores estruturas físicas (na água – rios e mar, em todas as redes, da energia à saúde, passando pelos transportes).

Convinha, portanto, que os ministros reservassem mais tempo para refletir com especialistas e tomassem decisões de fundo. Já repararam que o Alqueva, por exemplo, vem do Estado Novo; que o SNS foi criado em 1979; que continua a faltar um grande aeroporto a Lisboa; que o equilíbrio entre interior e litoral tarda em ser colocado a níveis aceitáveis? Há muito para fazer mas é preciso, antes, começar a pensar e sempre com os olhos no futuro. Reservem os ministros tempo para isso, sff.