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Pagamentos e liquidação em tempo real são a revolução

Os consumidores agora esperam que todos os serviços financeiros estejam disponíveis on-line 24 horas por dia, sete dias por semana.
20 Maio 2023, 18h00

De repente, tudo muda. Até 2019 toda a gente pagava com cartão multibanco, ou cartão de crédito e os “mais modernos” falavam já do cartão Revolut para as transferências e pagamentos cross-border. Para pequenas quantias o dinheiro físico ainda era o meio de pagamento mais utilizado e havia até algum “medo do contactless”. Mas com a pandemia mundial em 2020 tudo mudou. Os crescimentos registados em número e em valor dos pagamentos realizados desde então e os muitos desenvolvimentos regulamentares e tecnológicos em curso confirmam que as mudanças continuarão em ritmo acelerado nos próximos anos.

O recurso à tecnologia contactless, seja com cartões físicos ou através de dispositivos móveis (telemóveis e relógios), fortemente impulsionado pela pandemia, continuou a crescer em 2022, segundo revela o último Relatório dos Sistemas de Pagamentos do Banco de Portugal, que traça a evolução dos sistemas de pagamentos e os principais desenvolvimentos perspetivados para os próximos anos.

Globalmente, os pagamentos contactless aumentaram 58,6% em quantidade e 65,7% em valor em relação a 2021. O valor médio por transação contactless foi de 24,5 euros (14,5 euros antes da pandemia), e o peso das compras contactless no número total de compras com cartão ascendeu a 48,8% (8,2% antes da pandemia). As compras contactless foram mais preponderantes no comércio a retalho (representando 60,6% do número total de compras com cartão) e na restauração (22,1%). O peso das compras contactless no número total de compras com cartão chegou a 48,8% (8,2% antes da pandemia). Sendo que as compras online com cartões nacionais aumentaram 28,4% em número e 32,2% em valor em 2022.

As compras online com cartões nacionais também continuaram a aumentar (28,4% em número e 32,2% em valor). Estas operações corresponderam a 14,0% da quantidade e 15,4% do valor total. Os instrumentos de pagamento eletrónicos foram usados em 99,7% dos pagamentos de retalho realizados sem recurso a numerário, em 2022. Mais 0,2 pontos percentuais do que em 2021. Já as transferências imediatas nacionais cresceram 34,3% em quantidade e 54,4% em montante, apesar de continuarem a ter um peso reduzido nos pagamentos de retalho.

“Os consumidores e os comerciantes estão cada vez mais presentes no ecossistema digital, valorizando a rapidez e a conveniência dos pagamentos, sem descurar a segurança”, defende Hélder Rosalino, administrador do Banco de Portugal (BdP) no último Relatório dos Sistemas de Pagamentos.

Os consumidores agora esperam que todos os serviços financeiros estejam disponíveis on-line 24 horas por dia, sete dias por semana. Os prestadores de serviços de pagamentos, dos incumbentes aos mais inovadores, procuram oferecer soluções de pagamento que vão ao encontro destas preferências, “com proteção acrescida em matéria de prevenção da fraude e de incidentes e sempre com a preocupação de cumprir o necessário enquadramento regulamentar”, destaca o administrador do BdP.

Hélder Rosalino lembra ainda que “através da supervisão e da superintendência dos sistemas de pagamentos, o BdP contribui — e continuará a contribuir — para a remoção das barreiras técnicas e legais que ainda subsistem e para uma maior concorrência neste mercado”.

No mundo do dinheiro digital, há também o projeto do euro digital, da reestruturação do reporte de informação sobre pagamentos e da implementação de todas as alterações regulamentares que “em perspetiva parecem longínquos, mas que depressa se materializarão”, realça Rosalino.

Os pagamentos em tempo real, através dos quais uma transferência electrónica é creditada na conta do destinatário, é uma área em crescimento. Qual a importância da plataforma de pagamento instantâneo denominada Target Instant Payment Settlement (TIPS) de pagamento instantâneo, que está a ser implementada na UE e quais os desafios do Banco de Portugal? São algumas das perguntas subjacentes a esta temática.

Uma nova estratégia para os pagamentos de retalho será implementada até 2025. O BdP lançou o projeto PAY, que vai reformular o reporte de informação de pagamentos e entrará em produção de forma faseada, entre maio de 2023 e julho de 2024. “Vamos passar a ter informação de pagamento a pagamento”, já admitiu Rosalino.

O BdP lembra que a próxima estratégia para esta área terá como vetores “a proximidade e transparência, a segurança, a inovação e eficiência, e a resiliência e sustentabilidade”.

Segundo dados do BdP, as transferências imediatas pan-europeias cresceram 10 vezes em quantidade e 6 vezes em valor em 2022.
A comunidade nacional enviou e recebeu através do Target Instant Payment Settlement (TIPS), que funciona a nível pan-europeu, 7,5 milhões de transferências imediatas, no valor global de 6,5 mil milhões de euros.

Recorde-se que em março deste ano foi lançado o novo sistema TARGET. Trata-se de uma plataforma do Eurosistema dedicada à liquidação de pagamentos em euros em tempo real e representa a maior transformação nos sistemas de pagamentos europeus desde 1999, quando foi lançado o euro. Esta plataforma representa uma evolução na integração e na modernização das infraestruturas de pagamento na Europa. Para além de alargar o horário para a liquidação de pagamentos, aumenta a segurança dos serviços perante as ameaças emergentes e continua a assegurar a liquidação de pagamentos em moeda de banco central.

Segundo um estudo da Boston Consulting Group, a disrupção digital começou em 1998 (quando nasce o sistema de pagamento PayPal, por exemplo). Mas o cenário está montado para novas disrupções tecnológicas, como IA (Inteligência Artificial) generativa e DLT (Distributed Ledger Technology) que já estão a fazer sentir a sua presença.

Já no que toca à preocupação maior com riscos de cibersegurança, o relatório do BdP dá dados nas fraudes de pagamentos. Foram reportados 50 incidentes de “carácter severo” de natureza operacional e cinco de segurança provocados por ação maliciosa de agentes externos. Os canais comerciais mais afetados continuaram a ser o homebanking e o mobile banking. Foram afetados 1,9 milhões de utilizadores.

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