Um eminente governante dizia a um grupo de colegas meus, de uma empresa envolvida numa operação mediática que decorreu há uns dez anos, que era “uma maçada” termos residência, e sede da empresa, no Porto. Porque isso nos forçava a colocar condições relativamente às horas das reuniões e implicava desagradáveis restrições de agenda por contraponto com as pessoas que viviam “aqui”, onde é suposto, onde é normal, onde deveria ser – em Lisboa.

Na altura, fiquei um pouco incomodado com aquela manifestação de agastamento com os escolhos que as opções de periferia colocam no caminho dos negócios e da economia – pareceu-me mais um assomo da clássica pulsão centralizadora do Terreiro do Paço, que abomina a província e ambiciona normalizar o país. Nada de mais errado! Constato hoje, perto de uma década depois, com o privilégio que a maturidade oferece e a sabedoria que o tempo empresta, que o responsável da tutela não era menos do que um sagaz visionário, que procurou explicar-nos, com a bonomia e a paciente humildade dos anfitriões, como as coisas devem ser, para benefício de todos.

Tinha razão e o tempo assim tem demonstrado, com acutilância crescente e âmbito cada vez mais alargado. Chega a ser irresponsável, quando não mesmo obscena, a ineficiência de tempo, o desperdício de recursos e o incómodo que provoca a necessidade de deslocação a Lisboa! E como seria fácil obstar a esse incómodo, pôr fim a essa maçada, encontrar uma solução de esquadria simples e balanço positivo, à qual a província teima, por embirração bairrista, em resistir!

Senão, vejamos: se todos vivêssemos em Lisboa, acabava a ponte aérea da TAP, com os seus atrasos constantes que convocam o desejo dos utentes de fazerem a ponte a pé; se os oito milhões de portugueses que teimam em agarrar-se às suas raízes paroquianas abraçassem de vez os encantos da capital, todas as reuniões poderiam realizar-se às 8 da manhã perto do Marquês, sem inconveniente para ninguém; se a teimosia não norteasse todos os gauleses que permanecem infiéis a Roma, ninguém se lamentaria a propósito da distribuição desigual de recursos, não haveria quem sentisse descontentamento pela falta de coesão territorial e terminaria de uma assentada a triste guerrilha Norte-Sul que põe em questão a escolha de Lisboa como casa natural da Agência Europeia de Medicamentos.

Não se trata já de meter o Rossio na Betesga! Trata-se de meter Portugal na CRIL (numa segunda fase apenas, porque de início, numa demonstração de tolerância e bom-senso, deveria ser permitido haver habitantes em Oeiras, Cascais e Almada).

Então e os velhos? – questionarão alguns de imediato, de pé atrás. E eu respondo – vão para o Restelo!

O autor escreve segundo a antiga ortografia.