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Parceiros do Pacífico queixam-se de negligência da Casa Branca

Uma inesperada consequência do problema do teto da dívida: Joe Biden foi à cimeira do G7 mas cancelou uma série de presenças, nomeadamente na cimeira do Quad. Os parceiros sentem-se negligenciados.
  • Michael Reynolds/EPA via Lusa
26 Maio 2023, 17h18

O presidente norte-americano Joe Biden iniciou a sua presidência com a região da Ásia-Pacífico como ponto central da sua política externa – tendo prometido uma abordagem mais próxima – e mais musculada – face ao desenvolvimento dos interesses chineses na região, necessariamente conflituantes com os interesses dos Estados Unidos. O início do conflito entre a Ucrânia e a Rússia obrigou a uma mudança de foco – com a guerra na Europa a tomar grande parte da energia do presidente e um pedaço não-negligenciável do orçamento federal.

Por estes dias, Biden deslocou-se à cimeira do G7 no Japão e o plano inicial era que aproveitaria a viagem para o ‘outro lado’ do mundo para cimentar contactos com os seus parceiros locais e abrir novas frentes de entendimento que pudessem ajudar ao assédio em torno da China. Mas a urgência de resolver o problema do teto da dívida – uma questão meramente do foro da ‘politiquice’ interna e dos desentendimentos entre democratas e republicanos – fez com que o presidente norte-americano cancelasse tudo o que não tinha a ver com o G7.

Assim, não houve uma viagem planeada à Austrália – considerada central para cimentar a relação entre os dois países, sendo certo que os australianos são uma parte fundamental da política norte-americana para a região. Biden cancelou a sua participação na cimeira do Diálogo de Segurança Quadrilateral (Quad, com a Austrália, Japão e Índia), o que foi visto como péssimo para a região.

Tanto mais que, recorde-se, a Índia é um dos países que definitivamente não estão alinhados com a defesa intransigente dos interesses da Ucrânia, o que é o mesmo que dizer que está a ‘resvalar’ para o lado da dupla China-Rússia – o que são péssimas notícias para a Casa Branca. Aparentemente, uma possível viagem à Papua Nova Guiné, onde se encontraria com 18 líderes de ilhas do Pacífico, também terá sido cancelada.

Sem surgir em movimentações recentes está também o AUKUS, agregado trilateral onde estão mais uma vez os Estados Unidos e a Austrália, desta vez em conjunto com o Reino Unido. O último desenvolvimento do grupo, indireto, foi a decisão de a Austrália comprar ao Reino Unido – e não à França, como estava inicialmente previsto – submarinos com propulsão nuclear.

A questão financeira também não é negligenciável. Com o esforço de respaldar a guerra na Ucrânia – que já consumiu aos Estados Unidos qualquer coisa próxima dos 30 mil milhões de dólares – e os problemas caseiros em torno do teto da dívida, com certeza que a disponibilidade da Casa Branca para atender às necessidades dos parceiros do Pacífico não será tão expedita como até aqui.

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