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Parcerias e alianças: construtores evitam investir a solo nos carros autónomos

Cada vez mais construtores de automóveis anunciam parcerias e alianças entre si e com empresas tecnológicas para o desenvolvimento de veículos autónomos. A razão? Dividir o investimento e os riscos de um mercado que, em 13 anos, só valerá entre 10% e 15% do mercado europeu.
12 Agosto 2017, 09h00

BMW e Daimler são os exemplos mais recentes de construtores que levam a cabo alianças com parceiros do setor tecnológico, beneficiando de um maior conjunto de engenheiros no sentido de mais rapidamente desenvolver modelos autónomos.

Mas esse não é o único motivo. Alguns executivos e peritos da indústria afirmam à Reuters que entre os vários players existe a preocupação de que os carros autónomos não estejam à altura das expectativas de lucro que levaram as marcas a começar a investir nestes projetos.

De facto, assiste-se a uma viragem na estratégia dos construtores, que agora estão dispostos a abdicar de possuir um sistema próprio de condução autónoma, em troca de uma divisão do investimento – e dos riscos – envolvidos na criação e operacionalização de um veículo autónomo.

Novamente à Reuters, um administrador de um dos construtores alemães afirma que “apesar de ser um mercado substancialmente grande, pode não valer a escala dos investimentos que atualmente estão a ser feitos.” Ou seja, existem dezenas de empresas – incluindo os construtores e as tecnológicas como Google e Uber – apostadas em entrar num mercado que, segundo a consultora Frost & Sullivan, só deverá valer entre 10% e 15% de todos os veículos a circular na Europa em 2030.

John Hoffecker, vice-presidente da consultora norte-americana AlixPartners, considera mesmo ser “impossível acreditar que existam 50 produtores de sucesso no mercado do software para veículos autónomos”.

Foi em julho de 2016 que a BMW anunciou a parceria com a Intel e a Mobileye para a criação de uma plataforma tecnológica para veículos autónomos até 2021, tornando-se assim a primeira marca automóvel de renome a dar este passo. A decisão – disse na altura Klaus Buettner, vice-presidente de projetos de condução autónoma da BMW –, surgiu no seguimento de uma visita a várias start-ups da área: “Toda a gente está a investir milhões nesta tecnologia. Na nossa opinião, faz sentido juntarmo-nos para desenvolver alguns sistemas de base como uma plataforma para o futuro”, disse, em comunicado, o responsável. Desde então, a Daimler anunciou a parceria entre a Mercedes-Benz e a Bosch, ao passo que a Honda já admitiu estar aberta a alianças para o desenvolvimento de veículos autónomos. A mudança de estratégia não envolve apenas os construtores. Exemplo disso é a aliança entre a Lyft e a Waymo (da Alphabet, dona da Google), anunciada em maio passado.

Partilhar o esforço
A autonomia parcial nos automóveis já é uma realidade em modelos de segmentos superiores, capazes de manter-se na faixa de rodagem, adaptar a sua velocidade ao tráfego e mesmo travar de forma autónoma caso detetem um obstáculo. Apesar disso, os próximos patamares de autonomia demorarão ainda alguns anos até serem alcançados.

Para Klaus Froehlich, administrador da BMW responsável pelo Desenvolvimento, o construtor bávaro deverá perder dinheiro com os seus primeiros modelos autónomos, tal com aconteceu com os seus primeiros esforços no campo dos elétricos. Mas desenvolver esta tecnologia é determinante para que a empresa se mantenha relevante no panorama comercial: “Isto [desenvolver carros autónomos] não é uma ideia de negócio, é uma tecnologia necessária”, afirmou, acrescentando que, “se o esforço pode ser partilhado através de uma plataforma comum, não tenho nada contra”.

Um dos mercados mais promissores que emergirão dos veículos autónomos serão que comummente se apelida de “robotáxis”, veículos de transporte de passageiros sem condutor, chamados através da web, que poderão – futuramente – substituir totalmente os táxis e parte das redes de transporte público nas grandes cidades. Alavancando-se no atual modelo de negócio de empresas como Uber e Cabify, esta nova área de negócio pode valer até dois biliões de dólares em 2030, segundo um estudo publicado recentemente pela consultora McKinsey.

Talvez por isso Ford e General Motors estejam a investir cerca de dois mil milhões de dólares (cada uma) no desenvolvimento de carros autónomos para frotas de carsharing, prometendo as primeiras unidades já para 2021.

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