As últimas semanas de campanha eleitoral têm trazido alterações significativas nas sondagens, tendo tornado mais prováveis dois eventos que, pouco tempo antes, passariam por inverosímeis: a vitória do PSD e uma maioria de direita na AR.

Antes de mais, convém rever a possibilidade de uma maioria de esquerda em dois sub-cenários: com vitória do PS ou sem esta vitória. O primeiro caso corresponde, grosso modo, ao resultado eleitoral de 2019, cuja solução parece esgotada, tal como este sufrágio antecipado sugere.

Se a esquerda não se conseguiu entender há poucos meses atrás, que condições há para um entendimento agora? Ainda por cima, porque o PC e o BE sairiam mais fragilizados. É concebível que haja algumas cedências a contragosto, no imediato, mas que dificilmente durarão muito tempo.

Nestas condições, o próximo executivo seria tão ou mais instável do que o que está de saída, mas poderá ser melhor para o país? Ainda que o programa eleitoral do PS assuma – finalmente – alguma ambição na convergência com a União Europeia, é difícil de acreditar que António Costa faça qualquer reforma digna desse nome nestas circunstâncias: um governo a prazo num parlamento com maioria de esquerda.

Se houver uma maioria destas mas sem que o PS vença, será a reedição de 2015, sendo totalmente lírico imaginar que a Assembleia da República permita um primeiro-ministro de direita em tal contexto. Seria o caso anterior, mas com a agravante de o líder socialista aparecer com uma legitimidade ainda mais diminuída.

Finalmente, se o PSD ganhar e houver maioria de direita, coloca-se o problema dessa maioria depender do Chega, um partido com muitos anti-corpos na própria direita. Assim sendo, também se imagina difícil que consiga completar a legislatura.

Em relação ao país, a fazer fé nos programas eleitorais, teríamos muitas reformas necessárias, o que seria positivo. Seria também uma grande novidade: pela primeira vez desde 1995, a direita não governaria em regime de emergência, podendo trabalhar com relativa normalidade e perder o estigma que a tem acompanhado durante os últimos 20 anos.

Nestas circunstâncias, a instabilidade governativa poderia ser favorável se o parlamento seguinte visse o grupo parlamentar do Chega diminuir, reconfigurando a maioria de direita em torno de partidos mais fiáveis.

Em resumo, mais importante do que a estabilidade do próximo governo será a qualidade da sua governação, em particular no que diz respeito ao mais grave problema económico do país, que está na raiz de mil outros: a estagnação das últimas duas décadas.

O próximo executivo pode ser apenas de transição e, assim, quanto mais breve for a transição tanto melhor para Portugal, porque já perdemos demasiado tempo.

O autor escreve de acordo com a antiga ortograa.