Sempre se disse que “o segredo é a alma do negócio”, mas o adágio popular parece estar a cair em desuso. Hoje, as empresas não só competem entre si como cooperam umas com as outras. O conceito de “coopetição” (competição + cooperação) veio, justamente, consubstanciar uma ideia que está muito em voga nos setores da economia do conhecimento, dada a maior necessidade de troca de ‘know-how’ e informação entre empresas de base tecnológica.

O conceito de “coopetição” foi criado, aliás, por um empreendedor das tecnologias digitais, o então CEO da Novell, Raymond Noorda, durante a emergência da indústria informática norte-americana, na década de 1980. Na altura, a cooperação entre empresas de ‘hardware’ e de ‘software’ revelou-se fundamental para o crescimento desta indústria. Um pouco mais tarde, o sucesso de Silicon Valley veio reforçar a importância dos ‘clusters’, locais onde se concentram empresas de um setor específico e com características comuns. Partilhando o mesmo espaço geográfico, estas empresas cooperam entre si e tornam-se assim mais competitivas.

Recentemente, a emergência dos ecossistemas empreendedores acentuou as vantagens de reunir ‘startups’ num ambiente sinérgico e em rede. Nestes ecossistemas, as ‘startups’ usufruem serviços de formação, incubação, aceleração, inovação, ‘fundraising’ e transferência de tecnologia. A ideia é promover a partilha de conhecimento altamente especializado entre empreendedores, inovadores, mentores e investidores. Deste modo, as ‘startups’ podem crescer num ambiente protegido e com acesso, não só a recursos básicos para o arranque do negócio, como também a programas de aceleração.

Em Portugal, os ecossistemas empreendedores já incorporam as melhores práticas mundiais nesta área. Mas há que melhorar a gestão dos nossos ecossistemas, algo que pode ser promovido através da criação de um quadro legal e fiscal mais favorável à atividade dos centros de incubação/aceleração. A boa gestão dos ecossistemas empreendedores traduz-se no aumento da taxa de sobrevivência das empresas, do número de postos de trabalho e dos volumes de investimento.

Sendo Portugal um país periférico e com uma economia pequena, a internacionalização dos ecossistemas empreendedores é um objetivo de difícil concretização, mas não impossível. O baixo custo de vida, os níveis de segurança, o clima agradável, as boas infraestruturas e a oferta turística do país aliam-se às qualificações do capital humano, à sofisticação dos centros de I&D e à notoriedade internacional de algumas das nossas ‘startups’ para criarem as condições adequadas à atração de talento empreendedor.

Creio, pois, que os ecossistemas portugueses podem vir a funcionar como ‘hubs’ onde circulam e se cruzam empreendedores, conhecimento, mentores e financiamento provenientes de diferentes pontos do globo. Tudo isto numa lógica de partilha e entreajuda mais do que de competição.

 

Nota: a dinâmica de um ecossistema empreendedor pode ser observada na Startup Village, um espaço da Feira do Empreendedor da ANJE (6 a 8 de outubro, no Porto) onde vão estar presentes, num ambiente de rede, cerca de 50 empresas de base tecnológica.