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Paulo Macedo diz que juros vão subir porque as pressões inflacionistas manter-se-ão depois da guerra

O presidente da Caixa Geral de Depósitos antevê que os custos da energia “vão manter-se altíssimos” mesmo depois do conflito na Ucrânia acabar. “Depois esta questão das sanções, ninguém sabe muito bem como se processam, congelar as reservas de um Banco Central ninguém sabe ainda os efeitos desse congelamento na economia”, alertou ainda Paulo Macedo.
  • Cristina Bernardo
11 Março 2022, 21h35

A desalavancagem da economia portuguesa, no que toca aos agentes privados, está pela primeira vez a níveis europeus começou por afirmar o presidente da Caixa Geral de Depósitos. “Já a dívida pública está totalmente desajustada face à média europeia”, começou por salientar o presidente da CGD, Paulo Macedo na conferência da Ordem dos Economistas que tem como tema “Portugal: Objetivo Crescimento”.

Em defesa do papel da banca, disse que “não só vai conseguir dar, como deu o crédito nesta última crise e ao contrário da anterior”, disse o CEO da Caixa que lembra que na crise da Covid-19 “não houve uma crise bancária como na crise de 2007”.

A banca deu crédito para necessidades de tesouraria e reservas, disse o presidente da CGD, que acrescentou que neste momento há mais capacidade para os bancos darem crédito, mas há menos pedidos de crédito pelas empresas.

“As empresas, em média, nunca tiveram tantas disponibilidades financeiras como agora” o que explica que “não haja solicitações adicionais de crédito” disse o presidente da Caixa que frisou que “claramente no crédito não houve uma falha de mercado”. As falhas de mercado ocorreram na crise de 2007 quando a própria banca como não conseguia financiar e isso obviamente interrompeu o financiamento, recordou o CEO.

“Os únicos sectores que têm falha de mercado são startups, o que é uma questão de capital de risco, não é bancário e depois são as empresas que têm um histórico de incumprimento”, para estas não há crédito, frisou o banqueiro que lembrou que “uma boa PME (pequena e média empresa) não tem três bancos a querem financiá-la, neste momento tem sete ou oito. Já as grandes empresas, disse o CEO, só têm três bancos a financiá-las.

Depois da pandemia o crédito ao consumo subiu, mas Paulo Macedo acredita que os agentes económicos, são, em média, bastante racionais.

“O crédito à habitação durante todo este período tem crescimento significativo porque nós temos as taxas de juro mais baixas de sempre”, lembrou.

Um estudo do Banco Europeu de Investimentos de 2020 revela que o acesso das empresas a financiamento mais ou menos estabilizou ou melhorou ligeiramente na Europa e nos Estados Unidos, em Portugal claramente esse acesso melhorou porque as restrições baixaram.

“Nós temos os custos financeiros mais baixos de sempre e nesta crise tivémos os custos financeiros mais baixos de sempre e depois a nossa questão é o que é que vai acontecer as taxas de juro? Não só temos taxas de juro historicamente baixas, sem comparação com as da última década, mas o Banco Central Europeu optou por cortar o Quantitative Easing e não mexer nas taxas e portanto basicamente os futuros das Euribor a três meses dizem que a taxa de juro poderá estar em Janeiro entre 0 a 10 pontos base”, disse Paulo Macedo que defende que os juros vão acabar por subir porque as pressões inflacionistas foram agravadas de uma maneira muito clara e essa subida é “independentemente de terminar a guerra, e esperamos todos que termine”.

“Os juros estão perto de zero no final de 2022 e depois, e estou a falar da Euribor, mais 100 pontos base, tipicamente seriam quatro subidas de 25 pontos base, ou seja no final de 22 portanto ainda taxas negativas mas a subir em 2023”, disse o CEO.

Paulo Macedo antevê que os custos da energia “vão manter-se altíssimos” mesmo depois do conflito na Ucrânia acabar. “Devido ao restabelecimento de fornecimentos de gás, devido ao facto de as empresas e os países não quererem ficaram tão dependentes da Rússia, mais a transição climática vai fazer os custos da energia manterem-se em alta mesmo depois da guerra acabar”, prevê o banqueiro que é economista.

O malparado tem se mantido controlado e os NPL (Non-Performing Loans) têm vindo a descer por força da vendas de carteiras, de muita recuperação por parte dos bancos, mas também porque não houve um comportamento de regresso ao risco, explicou.

O presidente da CGD lembrou ainda que a banca reduziu o seu rácio de alavancagem (rácio de transformação de depósitos em crédito) que passa de uma média de 158% para 82% em Portugal.

“Eu diria que o pior fator é claramente o da rentabilidade estrutural da banca, que não paga o custo do capital”, disse o presidente da Caixa Geral de Depósitos.

Depois o desafio dos riscos climáticos que no futuro será cada vez mais relevante para a concessão de crédito, alertou.

Paulo Macedo falou ainda da autonomia financeira das empresas, dizendo que “cresceu alguma coisa”, apesar de continuar com muitas assimetrias. “Por outro lado nós vemos também é que na banca, e é o caso da Caixa, ano após ano, os depósitos aumentam em todas as classes, seja depósitos de empresas de grande dimensão, de média dimensão pequena dimensão, institucionais e particulares”, revelou.

O CEO da CGD citou o Governador do Banco de Portugal que disse que apenas 17% do investimento das empresas foi financiado através do programa PRR. “Agora temos aqui uma emergência por causa do arrefecimento da economia”, lembrou Paulo Macedo apelando à necessidade da eficácia da aplicação do dinheiro do PRR. “Neste momento é preciso executar”, frisou.

“Em termos de desafios económicos há algumas questões que penso vão afetar as empresas em Portugal. A questão geopolítica vai afetar as relações das nossas empresas, portanto vai afetar as cadeias de produção (onde é que nos vamos abastecer? Quem vão ser os fornecedores?) e portanto eu acho que vai haver um aumento da inflação a juntar à transição climática. Ninguém quer ficar dependente da Rússia, mas toda a gente está a pensar também na China, como é que vão ser as relações com a China?”, disse Paulo Macedo.

“Depois esta questão das sanções, ninguém sabe muito bem como se processam, congelar as reservas de um Banco Central ninguém sabe ainda os efeitos desse congelamento na economia”, alertou ainda o presidente do banco do Estado.

Em resposta à crise, Paulo Macedo diz que lhe “parece indispensável que continue a haver uma articulação da política monetária e orçamental” e que, tal como aconteceu na crise da Covid, onde foram apoiadas as empresas de restauração, da hotelaria, do retalho, haja um apoio direcionado. “Neste momento temos empresas de alguns sectores que, pura e simplesmente, podem fechar, é o caso da siderurgia, das cerâmicas etc”, alertou o banqueiro que defende o pacote está a ser preparado em termos da União Europeia que para Portugal será indispensável para preservar o sector produtivo.

“As PME são determinantes, mas são as grandes empresas que exportam e que inovam”, avisou ainda o presidente da CGD.

Paulo Macedo chamou também à atenção para a elevada volatilidade dos mercados acionistas que estão em queda. “As ações dos bancos caíram em média 20%, a maior de todos os tempos”,  disse.

“Temos uma venda forçada dos ativos russo (ações, crédito e moeda), lembrou o presidente da Caixa que citou o exemplo do dono do Chelsea, que antes do congelamento do bem o queria doar”.

O banqueiro lembrou que os bancos mais expostos a ativos russos são conhecidos, é o caso do Societé Generale, mas que nos bancos em Portugal a exposição é reduzida, “no entanto chamo a atenção para o efeito da redução brutal nas taxas de juro reais”.

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