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Paulo Portas: “2023 vai ser um ano muito mais difícil do que 2022”

O antigo vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, afirmou esta terça-feira, na VI Cimeira do Turismo, que 2023 vai ser muito mais difícil do que o ano em curso e que é preciso explicar isso para que as pessoas entendam. 
27 Setembro 2022, 15h33

Falando na VI Cimeira do Turismo Português, que esta terça-feira, 27 de setembro, decorre na Fundação Champalimaud, em Lisboa, Paulo Portas, antigo ministro da Defesa e dos Negócios Estrangeiros, disse que 2023 “vai ser um ano orçamental muito difícil” que se tem de partir de uma “base realista” e que é preciso explicar isso para que as pessoas entendam.

No contexto de enorme incerteza em que vivemos, há, no entanto, certezas de que podemos falar. A primeira, adiantou Paulo Portas, é que 2023 não poderá contar com um primeiro trimestre extraordinário como foi o de 2022, muito à conta do turismo e à boleia do revenge spending, expressão anglo-saxónica que significa, em português, algo como “consumo de vingança”.

A segunda certeza é de que haverá que contar com uma inflação ainda significativa e a terceira é de que o aumento das taxas de juro significará que os custos de financiamento continuarão a subir. “Só falta saber até onde irá o BCE (Banco Central Europeu)” no seu esforço para combater a inflação, salientou.

Por outro lado, adiantou Portas, há coisas que dependem de nós e só de nós. Neste plano apontou as opções de política fiscal, nomeadamente o IRC, e o aeroporto de Lisboa. Numa crítica direta à decisão do primeiro-ministro, António Costa, e do líder do PS, Luís Montenegro, de terem eleito a metodologia de abordagem à questão do novo aeroporto de Lisboa, como prioridade, afirmou: “decidiram não decidir e a ideia da indecisão vai prolongar-se”.

Luís Amado, que teve as mesmas funções que Portas mas em diferentes Governos, também presente no painel, caracterizou o mundo de hoje como de “incerteza radical”, salientando que é muito difícil fazer previsões sobre o futuro. “Vamos ter duas décadas em que os efeito da realidade geopolítica, do poder, da economia e do sistema financeiro se vão prolongar durante bastante tempo”.

Vivemos atualmente uma crise geopolítica que abala a estrutura mundial – uma guerra, a fria, vive o seu derradeiro capítulo na Ucrânia, enquanto começa no pacífico uma nova guerra para os próximos 30 anos. Trata-se de uma crise diferente de todas as outras com a agravante de cavalgar em cima de uma crise pandémica e das alterações climáticas. É “uma crise existencial, rodeada de  fatores imponderáveis” que ninguém controla e tudo “tudo pode piorar”.

“Vai ser duro”, salientou Amado, indicando, por um lado a desvalorização da libra, do euro e do iene e, por outro, que nem a Europa nem o Japão têm condições de responder ao problema energético. “Ainda não há alternativas ao fóssil”, disse, confessando-se expectante sobre o que vai fazer a Alemanha.

O antigo ministro dos governos PS lembrou a importância neste cenário dos bancos centrais – entidades independentes, cuja função é combater a inflação. O seu instrumento são os juros e para controlar a inflação têm que os subir, estão a fazê- lo e vão continuar.

A longo prazo, Luís Amado acredita que “Portugal vai beneficiar da reconfiguração geopolítica mundial”. Para isso, acrescenta, tem de reorganizar-se do ponto de vista da sua inserção na Europa e no Atlântico.

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