Tempos complexos se avizinham. A falta de transparência e credibilidade política, as constantes falhas do Estado, a falta de responsabilização dos intervenientes públicos, económicos e políticos em episódios dramáticos como os incêndios, a pedreira de Borba e o roubo das armas de Tancos marcaram a agenda dos últimos meses e dificilmente deixarão de estar presentes na mente dos portugueses nos próximos tempos.

Será preciso uma generosa dose de fé e esperança divina para acreditar que 2019 poderá ser um bom ano, porque, em boa verdade, conjuga-se uma tempestade perfeita para os próximos 12 meses. Com a sucessão de eleições europeias, nacionais e regionais, o previsível abrandamento da economia portuguesa, a escalada da tensão social, o Brexit e o seu impacto no presente e no futuro da União Europeia, nada parece garantido este ano a não ser a incerteza.

Na sua habitual mensagem de ano novo, o Presidente da República lançou o mote, ao evidenciar “os tempos muito difíceis” em que ainda continuamos a viver e num mundo marcado pela injustiça, pelo desrespeito pelo direito, pela ética, pela justiça, pela paz e pelo diálogo.

Marcelo Rebelo de Sousa sentiu necessidade de, em ano eleitoral, apelar aos políticos que evitem promessas eleitorais que não podem cumprir e que analisem, com cuidado, o percurso passado e assumam o compromisso de não desiludir os eleitores. O Presidente não governa nem vai fazer campanha eleitoral, mas deixou bem claro junto dos portugueses a importância do voto como arma para evitar a destruição da democracia, “com arrogâncias intoleráveis, com promessas impossíveis, com apelos sem realismo, com radicalismos temerários, com riscos indesejáveis”.

Esperava-se que o Presidente não deixasse passar em branco a disparidade entre salários públicos e privados por decreto governativo, o desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde, o lançamento de um novo pacote de investimentos públicos, quando 80% do previsto nos últimos anos não foi concretizado, as cativações das finanças como ilusão contabilista, a perda de poder de compra dos portugueses face ao PIB per capita e comparativamente com os europeus.

Esperava-se que exigisse ao Governo mais crescimento económico, menos carga fiscal, menos recurso ao endividamento público – dos mais elevados do mundo – e menos manipulação ideológica da educação, saúde ou justiça, setores vitais do Estado.

É de políticas que temos de falar e, através delas, avaliar o “estado do Estado” e não recorrentemente dos políticos que serão, neste ano eleitoral, devidamente escrutinados.

A democracia portuguesa não está de boa saúde, precisa de mais cuidados para atingir em pleno a sua maturidade. Precisa de uma verdadeira reforma do sistema eleitoral, que só fará sentido integrado numa outra reforma, a do sistema político. Os portugueses têm de acreditar nas instituições, na justiça, na equidade, na proporcionalidade e no equilíbrio do Estado Social, para que esse sentimento de confiança se traduza em mais participação política. Só assim será possível construir um país melhor, com uma economia mais robusta e uma sociedade mais justa.