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Pelosi visita Taiwan esta terça-feira. Saiba que consequências podem surgir da China em resposta

Incursões particularmente grandes ou incomuns de aviões de guerra, aviões de guerra a voar sobre Taiwan ou sobre a linha mediana do Estreito de Taiwan, teste de mísseis perto de Taiwan, restrições e sanções económicas a Taiwan, retirar o embaixador da China nos EUA são algumas das consequências possíveis.
2 Agosto 2022, 13h11

Com a presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, prestes a desembarcar em Taiwan na terça-feira, o mundo agora está expectante para a resposta da China, que gerou várias advertências por parte de representantes chineses relativamente às consequências para os EUA.

De acordo com a “Bloomberg”, nem o presidente chinês, Xi Jinping, nem o seu homólogo norte-americano, Joe Biden, têm interesse em desencadear um conflito que poderia causar ainda mais danos económicos numa altura de instabilidade internacional, e a chamada na semana passada — em que Xi pediu a Biden para “não brincar com o fogo”, referindo-se à visita de Pelosi — indicou que se estavam a preparar para a sua primeira reunião presencial como líderes nos próximos meses. Contudo, a retórica belicista e a crescente animosidade em ambos os territórios aumentaram a pressão sobre Xi para dar uma resposta forte, particularmente enquanto ele se prepara para uma reunião do partido no final deste ano, na qual deve garantir um terceiro mandato.

Segundo a “Lusa”, na semana passada, o porta-voz do Ministério da Defesa chinês, Tan Kefei, declarou que o exército chinês “não ficará de braços cruzados” se tal visita se realizar. O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês também declarou que os Estados Unidos terão de “assumir todas as consequências que surjam” dessa viagem.

A mesma agência informou que o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse esta segunda-feira ignorar se Pelosi visitará Taiwan, tendo, contudo, pedido ao Governo chinês para agir “com responsabilidade”, não elevando a tensão se tal viagem ocorrer.

Ora, a China tem as seguintes opções, segundo a “Bloomberg”:

Incursões particularmente grandes ou incomuns de aviões de guerra

A norma para o Exército de Libertação Popular (ELP) são incursões diárias na zona de identificação de defesa aérea da ilha. Assim, para enviar um sinal de força, precisaria de enviar uma série particularmente grande ou incomum de voos. A China poderia manter esse nível de agressão durante dias ou semanas, esgotando os recursos da sobrecarregada Força Aérea de Taiwan, que tentaria expulsar os aviões.

O recorde diário é de 56 aviões a 4 de outubro, que coincidiu com exercícios militares nas proximidades liderados pelos EUA. Em novembro, após uma visita de uma delegação do Congresso dos EUA, cerca de 15 aviões voaram pelo lado leste de Taiwan, em vez das rotas habituais a sudoeste.

A China terá que responder militarmente “de uma maneira que seja uma clara escalada em relação a demonstrações de força anteriores”, disse Amanda Hsiao, analista sénior do Crisis Group, com sede em Taiwan.

Aviões de guerra a voar sobre Taiwan

O jornal “Global Times”, do Partido Comunista, sugeriu que a China deveria realizar um voo militar diretamente sobre Taiwan, forçando o governo da presidente Tsai Ing-wen a decidir se deve abatê-lo. No ano passado, o ministro da Defesa, Chiu Kuo-cheng, alertou: “Quanto mais perto chegarem da ilha, mais forte será a resposta”.

Em alternativa, enviar uma ofensiva profunda ou estendida através da linha mediana do Estreito de Taiwan, uma zona tampão que os EUA estabeleceram em 1954 e que Pequim não reconhece, pressionaria os militares. As aeronaves do PLA violaram repetidamente a linha em setembro de 2020, quando o então subsecretário de Estado dos EUA, Keith Krach, viajou para a ilha.

Teste de mísseis perto de Taiwan

Já não seria a primeira vez. No verão de 1995, Pequim testou mísseis no mar perto da ilha depois de o presidente Bill Clinton deixar o primeiro presidente democraticamente eleito de Taiwan, Lee Teng-hui, visitar os EUA. Na altura, a China declarou zonas de exclusão em torno das áreas-alvo durante os testes, interrompendo o transporte marítimo e o tráfego aéreo. Mais recentemente, o PLA lançou mísseis balísticos “carrier-killer” no Mar da China Meridional em agosto de 2020, no que foi visto como uma resposta aos exercícios navais dos EUA nas proximidades.

Restrições e sanções económicas a Taiwan
Como a China é o maior parceiro comercial de Taiwan, Pequim pode aproveitar essa vantagem sancionando exportadores, boicotando alguns produtos taiwaneses ou restringindo o comércio bilateral. Contudo, deve agir com cuidado, pois precisa da ilha por causa de semicondutores.

Pequim já atingiu vários líderes taiwaneses com sanções, incluindo proibições de viajar para o continente. Mais autoridades poderiam enfrentar ações semelhantes, mas teriam pouco impacto uma vez que e é improvável que os políticos locais viajem para o continente ou lá realizem negócios.

A China também pode interromper o transporte marítimo no Estreito de Taiwan, uma importante rota comercial global. Oficiais militares chineses nos últimos meses disseram repetidamente aos colegas dos EUA que o local não é de águas internacionais. Ainda assim, qualquer movimento que prejudique o transporte comercial prejudicaria apenas a economia da China, nota a “Bloomberg”.

Protesto diplomático com o retiro de embaixador nos EUA

A nível diplomático, a deterioração da relação entre as duas superpotências mundiais pode significar retirar o embaixador da China nos EUA, Qin Gang. Em 1995, Pequim retirou o seu então embaixador dos EUA, Li Daoyu, depois de Washington permitir que o então presidente de Taiwan, Lee Teng-hui, visitasse o país. No entanto, essa disputa ocorreu num nível diplomático mais alto do que o atual, dado que Pelosi é a segunda na linha de sucessão à presidência.

No ano passado, a China retirou o seu embaixador na Lituânia depois de o país báltico ter permitido que Taiwan abrisse uma embaixada na sua capital com o seu próprio nome, em vez de Taipei chinês (um termo que Pequim considera mais neutro).

Capturar uma ilha de Taiwan

Pequim pode ainda capturar uma das menores ilhas periféricas mantidas pelo governo de Taipei.

Durante os primeiros dias da Guerra Fria, o bombardeamento militar do ELP às Ilhas Kinmen Taiwan, localizadas ao largo da costa sudeste da China, atraiu grande apoio militar dos EUA. Taiwan repeliu o avanço chinês, mas perdeu centenas de soldados. A Ilha das Pratas, a 400 quilómetros da costa de Taiwan, é outro ponto vulnerável.

Em 2012, a China ocupou o Scarborough Shoal, um recife de coral aproximadamente do tamanho da ilha de Manhattan, que as Filipinas reivindicaram como sua, numa disputa territorial no Mar da China Meridional.

Os EUA veriam qualquer apreensão do território de Taiwan como uma grande escalada das tensões que poderia testar os limites do compromisso militar de Biden com a democracia insular. E tal ação também traz riscos diplomáticos para Pequim porque pode adicionar mais sanções à China e alarmar os países vizinhos da Ásia, muitos dos quais também têm disputas territoriais com Pequim.

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