Pensar o fim do conflito na Ucrânia

Muitos no Ocidente apostaram na derrota militar da Rússia, na expulsão das suas tropas do território ucraniano e na adesão da Ucrânia à NATO. Contudo, a entrega de equipamento militar a Kiev não conseguiu, até agora, que esses objetivos fossem atingidos.

Volvido quase um ano sobre o início da operação militar russa na Ucrânia justifica-se uma reflexão sobre o seu futuro. Até agora, nenhuma das partes prevaleceu no campo de batalha, encontrando-se a contenda num impasse. Para tal, muito contribuiu o apoio prestado pelo Ocidente às forças ucranianas, com os EUA à cabeça, assim como o da NATO em matéria de intelligence.

São várias as estimativas sobre a dimensão desse apoio. Algumas fontes referem um montante superior a 110 mil milhões de dólares apenas em nove meses.

Ao contrário daquilo que muitos vaticinaram, a Rússia não claudicou, e os seus paióis não ficaram vazios de munições. A economia resistiu consideravelmente bem às sanções que lhe foram impostas (o rublo valorizou-se e o PIB caiu apenas cerca de 2%). Por outro lado, o conflito trouxe à tona de água o estado calamitoso em que se encontra a base industrial de defesa e as forças europeias, em particular as alemãs, inglesas e francesas.

Afinal, os europeus não dispunham das munições insistentemente pedidas pelos ucranianos, assim como dos equipamentos militares por estes exigidos. O apoio à Ucrânia serviu, em muitos casos, para libertar material já não utilizado e em depósito.

Perante estes desenvolvimentos, coloca-se, pois, uma questão incontornável. Quais são os objetivos estratégicos a atingir pelos EUA neste conflito, e como o reiterado fornecimento de equipamento militar à Ucrânia pode ajudar a atingi-los? E precisamos perceber qual o end state que a Casa Branca pretende obter. A ausência de uma resposta esclarecida a esta pergunta pode conduzir-nos àquilo que conhecemos por mission creep, ou seja, a um resultado que pode vir a comprometer o objetivo inicial.

Muitos no Ocidente apostaram na derrota militar da Rússia, na expulsão das suas tropas do território ucraniano e na adesão da Ucrânia à NATO. Contudo, a entrega de equipamento militar a Kiev não conseguiu, até agora, que esses objetivos fossem atingidos. O aumento da sua letalidade não levou à vitória ucraniana no campo de batalha, tendo servido apenas para evitar a sua derrota e prolongar o conflito.

A interpretação errada dos desenvolvimentos militares no outono de 2022, isto é, a recuperação pelas tropas de Kiev dos territórios situados na região a Leste da cidade de Kharkiv, e mais tarde a retirada das forças russas dos territórios de Kherson, situados na margem direita do rio Dniepre, criaram a perceção de que a vitória militar ucraniana era possível e estava ao alcance.

Contudo, por muito que possa custar, começou a ser evidente para muitos analistas insuspeitos, nomeadamente para o Chefe de Estado-Maior-General norte-americano Mark Milley, que esse cenário otimista é altamente improvável de concretizar. Assim, poderá ser mais realista considerar como ponto de partida para se iniciarem negociações o statu quo resultante da campanha militar em curso, em vez da reversão ao statu quo ante de 1991, proposto pelo lado ucraniano.

Os fortes indícios de que prevalecerá a primeira situação sugerem que poderá fazer pouco sentido prolongar a guerra, uma vez que as consequências desse prolongamento agravarão uma situação já extremamente penosa para Kiev e aumentarão significativamente a probabilidade de uma confrontação militar com a Rússia.

Será que o Ocidente está disponível para correr esse risco? Nesta matéria, como noutras, os EUA têm responsabilidades acrescidas.

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