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Perguntas e respostas sobre o exército de ‘hackers’ da Coreia do Norte

A crescente atividade dos piratas informáticos norte-coreanos reforça o progresso da Coreia do Norte na infiltração de sistemas informáticos em todo o mundo. “Não há dúvida de que estão a usar as capacidades de forma criativa”, refere Fergus Hanson, chefe do “International Cyber Policy Centre” do Instituto Australiano de Políticas Estratégicas.
18 Outubro 2017, 10h36

Sabe-se pouco sobre a Coreia do Norte, o país que tem feito correr muita tinta, especialmente este ano, devido à crescente tensão com os Estados Unidos da América (EUA) e a troca de insultos entre o presidente Donald Trump, e o líder norte coreano, Kim Jong-un. A Coreia é o país mais isolado do mundo, e a sua população vive no escuro, sem acesso a tecnologias de informação e a outros produtos da globalização.

No entanto, o regime de Kim Jong-un tornou-se cada vez mais adepto da utilização da informática para benefícios estratégicos. Nas últimas semanas, os “guerreiros cibernéticos” (hackers) estão a ser o centro das atenções, uma vez que soube-se agora que roubaram, em setembro do ano passado, informações vitais sobre planos de guerra da Coreia do Sul e do aliado norte-americano. Os documentos eram altamente classificados e incluíam planos de um “decapitation strike”, uma estratégia militar que tem como objetivo retirar da liderança ou do comando o controlo de um governo ou grupo hostil, de acordo com um legislador sul-coreano.

Além disso, um grupo norte-coreano chamado de ‘Bluenoroff’, alegadamente, roubou dinheiro do banco central de Bangladesh. Em maio, outro grupo – o ‘Lazarus’ – ficou conhecido pela ligação ao ataque global de ransomware que afetou mais de 300 mil computadores.

A crescente atividade dos hackers do país reforça o progresso da Coreia do Norte na infiltração de sistemas informáticos em todo o mundo. “Não há dúvida de que estão a usar as capacidades de forma criativa”, disse Fergus Hanson, chefe do “International Cyber Policy Centre” do Instituto Australiano de Políticas Estratégicas, em Camberra. Pela maior ousadia deste exército tecnológico,  a agência de notícias Bloomberg respondeu a seis perguntas.

Que tipo de tecnologia possui a Coreia do Norte possui? 

O país de Kim tem acesso imitado à Internet, de forma a evitar o fluxo de informação livre. Apenas algumas pessoas têm acesso a sites internacionais, embora as suas atividades sejam monitorizadas de perto. Durante vários anos, a Coreia do Norte tinha apenas um link para um site internacional através da ‘China United Network Communications, mas assegurou em outubro um segundo link através de uma empresa russa de telecomunicações. O país emprega cerca de seis mil hackers, segundo uma investigação do New York Times.

Como se formou o exército dos hackers no país?

Kim Jong Il, pai do atual líder, foi um dos primeiros defensores da tecnologia como arma central da guerra moderna. Os seus militares treinaram formas de intercetar sistemas de GPS e outras formas de manipulação eletrónica. Acredita-se que a Coreia do Norte tenha criado  a Unidade 121, o primeiro exército tecnológico no país, há cerca de duas décadas. A Unidade 121 começou a chamar a atenção internacional em 2004, por ter supostamente infiltrado uma rede de comunicação sem fio dos militares da Coreia do Sul. Os hackers também roubam dinheiro: em 2011, a polícia sul-coreana prendeu cinco pessoas por alegadamente trabalhar com hackers norte-coreanos para roubar milhões de dólares através de jogos online.

Quando é que começaram a mostrar sinais de estarem a melhorar as suas capacidades?

As tropas cibernéticas chegaram às manchetes internacionais em 2014, quando alegadamente invadiram o negócio de filmes da Sony, enquanto se preparava para lançar “The Interview”, uma comédia de Seth Rogen e James Franco sobre o líder norte-coreano. A ação dos hackers tinha como objetivo proteger a imagem de Kim e punir o estúdio. Além disso, houve também casos de fugas de documentos que comprometeram carreiras em Hollywood, o que levou a Sony a pagar até 8 milhões de dólares em danos, por causa do roubo de informações pessoais. Os EUA identificaram publicamente a Coreia do Norte como o responsável. O governo de Kim negou qualquer envolvimento.

O que está a acontecer neste momento?

A Coreia do Norte tem intensificado os seus ataques cibernéticos, em resposta à crescente tensão com os EUA e o resto do mundo. No ano passado, um grupo vinculado ao país estava supostamente por trás do roubo de 81 milhões de dólares de uma conta do banco central de Bangladesh. Em maio, investigadores da segurança cibernética fizeram a ligação a outro um grupo afiliado à Coreia do Norte, chamado ‘Lazarus’ relativamente ao ataque de ‘Wanschry Ransomware’, que afetou mais de 300 mil computadores. A Europol chamou o hack de “ataque sem precedentes”. O ransomware ameaçou as pessoas com a perda de dados dos computadoesr, a menos que pagassem um resgate, normalmente no valor de 300 dólares, em bitcoins, dentro de 72 horas.

Os hacks servem apenas para fins financeiros?

Não. Em outubro, um legislador sul-coreano revelou que os soldados tecnológicos de Kim roubaram planos militares desenvolvidos pelos EUA e pela Coreia do Sul, em caso de conflito armado. Os documentos eram altamente classificado e tinham como objetivo o de retirar o líder norte-coreano do poder.

Lee Cheol-hee, um membro do Partido Democrata, disse que os hackers conseguiram entrar numa base de dados de defesa, em setembro do ano passado. Os documentos roubados incluem o Plano Operacional 5015 – o mais recente plano dos aliados para uma possível guerra com a Coreia do Norte. Os planos incluem procedimentos detalhados para um ataque contra o regime da Coreia do Norte – uma proposta que enfureceu Kim Jong Un, líder supremo do país. Citando funcionários de defesa sul-coreanos, Lee disse que 235 gigabytes de dados foram roubados, embora 80% dos documentos ainda não tenham sido identificados. Entre os arquivos identificados havia planos de contingência para as forças especiais de Seul, bem como informações sobre as principais instalações militares e fábricas, afirmou o legislador.

O que estão a fazer os Estados Unidos e a Coreia do Sul para responder a esta ameaça?

Os EUA não estão serenos com as ameaças e os ataques cibernéticos. Antes de a Coreia do Norte ter tido acesso ao segundo site internacional, fornecido pela Rússia, o outro site (disponibilizado pela China), ficou desativado. Ao mesmo tempo, o presidente Donald Trump criticou Kim pelo desenvolvimento de mísseis e armas nucleares, dizendo que os EUA podem e vão usar a força militar contra o regime, se for necessário. A Coreia do Norte avisou esta terça-feira que a guerra nuclear “pode acontecer a qualquer momento”, uma vez que os EUA e a Coreia do Sul começaram a fazer exercícios navais conjuntos.

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