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Novo Banco: Perímetro avaliado justificou diferenças nas exposições dos devedores

O antigo presidente do Fundo de Resolução José Ramalho disse, esta segunda-feira, no parlamento que as diferenças entre as exposições dos grandes devedores do Novo Banco identificadas em dois relatórios se deveram ao perímetro avaliado das empresas em causa.
29 Março 2021, 20h19

“O âmbito dos devedores era diferente. Havia um que avaliava exposições mais a nível individual e outro mais a nível de grupos económicos. O perímetro de cada grupo não era o mesmo”, disse José Ramalho na Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução.

José Ramalho respondia à deputada Mariana Mortágua (BE), que questionou o depoente acerca de diferentes exposições de devedores identificadas em dois relatórios (da EY e da PwC), de várias centenas de milhões de euros por devedor.

A deputada referia-se a “imparidades que não estavam registadas e tinham que ser registadas nas contas do Novo Banco”, encontrando a auditoria da EY “enormes ausências de registos de imparidades”, como, por exemplo, “115 milhões [de euros] na conta de José Guilherme”.

“As exposições de crédito que ela mostra a 31 de dezembro de 2014 são muito superiores às exposições de crédito que existiam a 03 de agosto de 2014” na auditoria da PwC, referiu a parlamentar.

Na segunda auditoria, essas posições foram revistas e “os mesmos grupos devedores, seis meses depois, avaliados pela Ernst & Young [EY] chegam a ser de 100, 150, 200 milhões superiores”.

“Em seis, cinco ou quatro meses, o Novo Banco não tinha possibilidade de aumentar a exposição a esse devedor [referia-se ao caso do construtor José Guilherme] ou a outro qualquer. Nem tinha meios. Estava limitado por aquilo que podia fazer em termos de compromissos europeus”, estando “com a corda na garganta”, disse José Ramalho.

O responsável máximo do Fundo de Resolução entre 2014 e 2017 disse que o que acontecia nesse caso “é uma diferença de perímetro de cada cliente”, dependendo “se era a empresa-mãe só ou o grupo”.

Porém, segundo a deputada Mariana Mortágua, “ambos os relatórios alegam que estão a olhar para o grupo, inclusive o da Price [PwC]”.

“Eu não estou a pôr em causa que o Novo Banco tenha desatado a dar crédito a este tipo de clientes, a minha questão é se quando a Price fez a sua análise olhou para todos os elementos e tinha uma noção da real exposição do banco a estes clientes, ou se pecou precisamente por não ter conseguido ter uma noção clara destas exposições”, questionou a deputada bloquista.

Na audição do antigo vice-governador do Banco de Portugal Pedro Duarte Neves, em 12 de março, Mariana Mortágua já tinha abordado o tema, em que deu o exemplo de empresas como a Martifer, que no relatório da PwC tinha uma exposição de cerca de 281 milhões e, seis meses depois, a EY identificava 557 milhões, ou de José Guilherme, que passou de 137 para 262 milhões de euros, sendo ainda apontados os casos de José Berardo (de 282 para 308 milhões de euros) ou da Promovalor, ligada ao presidente do Benfica Luís Filipe Vieira (de 304 para 487 milhões de euros).

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