Quem tem a longanimidade de ser meu amigo sabe que, por altura do seu aniversário, receberá invariavelmente a assinatura anual da MIT Technology Review. Comecei a ler esta revista quando estava a dar os primeiros passos na atividade científica e, desde então, tem-se revelado o meu astrolábio para a inovação tecnológica. Trata-se de uma publicação com rigor científico, mas com o cuidado de apresentar temas complexos de forma clara, simples e acessível (como só os norte americanos sabem fazer).

A MIT Technology Review tem o hábito de apresentar perspetivas tecnológicas, reunindo um painel de especialistas em várias áreas. Aproveitando o facto de estarmos no dealbar de um novo ano, atrevo-me a mimetizar o exercício desta publicação do MIT e perspetivar as tecnologias que poderão despontar em 2018.

  • Atlas celular: o objetivo deste megaprojeto consiste em mapear as células humanas, através de um catálogo de 37,2 biliões de células que visa desenvolver um modelo biológico que suportará a criação de novas terapias.
  • Armazenamento eletroquímico de energia elétrica: durante os últimos anos têm surgido soluções de baterias para armazenamento de eletricidade para instalações residenciais. Devemos esperar que a partir de 2018 comecem a surgir tecnologias comercialmente disponíveis para armazenamento eletroquímico de eletricidade em grande escala, para suprir os desafios da produção distribuída e do transporte de energia elétrica.
  • Reinforcement learning: a digitalização da economia está a fomentar o aparecimento de soluções de BigData e o desenvolvimento de algoritmos baseados no poder da computação (regressão logística, algoritmos genéticos, árvores de decisão, redes neuronais, etc.). Se o machine learning gera soluções de forma mais rápida do que um ser humano mas não supera o intelecto do analista de dados, já o reinforcement learning apresenta resultados através de um processo de experimentação que um programador não pode ensinar.
  • Terapia genética: há milhares de doenças que resultam de um erro residente num único gene. Se algumas doenças raras hereditárias já beneficiaram desta terapia, espera-se que em breve esta abordagem seja alargada a doenças oncológicas e cardíacas.
  • Smart Metering 2.0: os contadores inteligentes de eletricidade, gás e água representam os alicerces da inovação e transparência destas utilities. Há uma década, era eu um jovem engenheiro na Iskra e já participava em projetos-piloto com a EDP (p.e., torres Vasco da Gama no Parque das Nações). Depois de muitos anos de impasses políticos e tecnológicos (a peculiar mania de em Portugal querermos “inventar a roda”, em vez de trabalharmos em rede no espaço da UE), em 2018 teremos a massificação dos contadores inteligentes (pelo menos para a eletricidade).
  • Camiões autónomos: depois de terem sido realizadas experiências em circuitos privados, em 2018 podemos assistir a mais desenvolvimentos na automação de veículos pesados de mercadorias.
  • Cibersegurança: com a irreversível tendência de sensorização de equipamentos, transição de tecnologias analógicas para digitais, massificação de smartphones, adoção de soluções de domótica (com webcams e outros gadgets) e utilização de serviços na cloud, a sociedade tornou-se mais permeável a ciberataques. 2018 trará novidades na área da cibersegurança, mas também em termos de regulamentação.
  • Reconhecimento facial: na China já é possível efetuar transações financeiras através de sistemas de reconhecimento facial. A globalização desta tecnologia poderá ocorrer à boleia do aumento da segurança e da conveniência, não obstante ser necessário acautelar a privacidade dos utilizadores.