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Pharol passa de lucros a prejuízos devido aos custos operacionais e à Rio Forte em 2020

Segundo as contas veiculadas pela CMVM, a ‘holding’ liderada por Luís Palha da Silva justifica o resultado negativo com os custos operacionais de 3 milhões de euros e com “a redução do valor expectável do crédito sobre a Rio Forte”, que gerou uma imparidade de 11,1 milhões de euros.
  • Luís Palha da Silva, CEO da Pharol
16 Março 2021, 10h01

A Pharol registou um prejuízo de 14,3 milhões de euros em 2020, um valor que compara com o lucro de 20,7 milhões registado em 2019, de acordo com os resultados anuais apresentados pela sociedade gestora de ativos na segunda-feira.

Segundo as contas veiculadas pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a holding liderada por Luís Palha da Silva justifica o resultado negativo com os custos operacionais de 3 milhões de euros e com “a redução do valor expectável do crédito sobre a Rio Forte”, que gerou uma imparidade de 11,1 milhões de euros.

“Na sequência da limitada evolução no processo de falência da Rio Forte e da desvalorização acentuada moeda brasileira (e, em menor grau, da paraguaia), com forte depreciação do valor dos ativos naqueles países, o montante expectável do crédito sobre a Rio Forte sofreu uma redução de 11,1 milhões de euros no ano de 2020″, lê-se.

Acresceu o efeito da pandemia e o “consequente reforço da política de contenção e disciplina orçamental”, que levaram a “uma redução nos custos operacionais recorrentes de 29%, que atingiram, no final do ano, três milhões de euros”.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) recorrente em 2020 foi negativo em três milhões de euros, contra os 4,2 milhões negativos no período homólogo.

A Pharol destaca, ainda, que os capitais próprios reforçaram-se em 33,8 milhões de euros, ascendendo no final de dezembro aos 165,4 milhões de euros. A antiga PT justifica o aumento dos capitais próprios com a valorização da participação na Oi em 47 milhões de euros e o resultado líquido negativo no montante de 14,3 milhões de euros.

“A participação da Pharol na Oi, que no final do ano atingiu o valor de 110 milhões de euros, terminou o segundo semestre com uma valorização de 47 milhões de euros, o ganho na cotação (68,8 milhões de euros) foi parcialmente anulado pelo efeito cambial (21,1 milhões de euros)”, lê-se.

A 31 de dezembro de 2020, a Pharol controlava 5,37% do capital social total da empresa de telecomunicações brasileira Oi, através da Bratel.

Perante os resultados do exercício fiscal de 2020, o presidente executivo da Pharol assegurou, não obstante, que a sociedade gestora “não estará entre as empresas que mais sofreram” com a conjuntura pandémica, que se refletiu na atividade e nos negócios das empresas. Isto porque “poucas, se é que algumas, terão sido as empresas que colocaram previamente um surto pandémico entre os diversos fatores exógenos mais críticos”.

“Os capitais próprios registaram um acréscimo muito positivo, de 33,8 milhões de euros, e a cotação das nossas ações, que, à semelhança de muitas outras, havia sofrido com a queda abrupta dos mercados no último trimestre do ano anterior, acabou por concluir 2020 com uma forte revalorização. A economia brasileira revelou as mesmas fragilidades das restantes economias mundiais o que impulsionou uma forte desvalorização do real . No entanto, no caso concreto da Oi, há a registar diversos desenvolvimentos positivos ao longo do ano reflexo das medidas estratégicas implementadas pela nova equipa executiva conseguindo reforçar a capacidade de investimento o que se reflete no bom comportamento bolsista desta nova Oi em 2020”, escreveu Palha da Silva na ‘mensagem do presidente’, inscrita no relatório de contas.

O caso da Rio Forte
A relação da Pharol com a Rio Forte data de 2015, quando foram “obtidos os instrumentos Rio Forte na sequência da execução da permuta relativa às ações da Oi”. A sociedade gestora previa, então, receber cerca de 15% dos 897 milhões de euros que a então PT tinha aplicado em títulos de dívida da Rio Forte, empresa do ramo não-financeiro do então Grupo Espírito Santo, entre abril e julho de 2014 (a resolução do BES data de agosto desse ano).

Ora, nos últimos seis anos, a previsão inicial da Pharol sofreu sucessivas revisões em baixa. “A 30 de setembro de 2016, com uma redução no valor nocional para 9,56% e a 31 de dezembro de 2017 e 2019, para 8,32% e 7,02% respetivamente. A 31 de dezembro de 2020, existiu uma nova revisão em baixa de recuperação do valor nominal para 5,79%, o que equivale a uma redução de 11,1 milhões de euros para o montante de 51,9 milhões de euros”, lê-se no relatório de contas da Pharol.

As obrigações dos títulos de dívida da Rio Forte relativos aos quase 900 milhões de euros aplicados pela então PT acabaram por vencer em julho de 2014. Mas a Rio Forte não liquidou as suas obrigações dentro do prazo. A Rio Forte acabou por pedir a proteção contra os credores, no Luxemburgo, país onde a empresa geria os interesses não-financeiros do Grupo Espírito Santos. Mas o tribunal rejeitou o pedido e abriu a porta à falência da Rio Forte.

A Pharol queixa-se agora de “uma certa apatia processual”, não se “tendo podido contar, no Luxemburgo, com desenvolvimentos significativos nos processos legais em que a Pharol se encontra envolvida”.

“Continua sem ser tornada pública a lista dos credores aceites pela administração da falência e algumas decisões judiciais e trabalho de peritos sofreu um atraso considerável. Em Portugal, já no segundo semestre de 2020, tomou-se conhecimento de que a Rio Forte se viu acusada no caso universo Espírito Santo, não sendo ainda claras as consequências que tal facto pode vir a ter no desenrolar do processo de falência no Luxemburgo. É assim claro, que este é um processo com uma elevada complexidade e morosidade, sem um prazo temporal à vista”, lê-se no relatório de contas de 2020.

Desta forma, com o tempo a passar sem uma solução à vista para os créditos que estão nas mãos da Pharol – e que a Rio Forte nunca saldou face aos compromissos com a então PT -, o valor a receber previsto pela sociedade gestora continua a decrescer. Se em 2015, a Pharol previa receber cerca de 135 milhões de euros, hoje os créditos valem menos de 52 milhões.

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