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Plano de Recuperação: “Não tenho certeza absolutamente nenhuma se sairá da gaveta”, diz António Costa e Silva

O autor do Plano de Recuperação e Resiliência, António Costa e Silva, diz que procurou dar o seu contributo para “desenvolver um país que seja mais justo e coeso” e alerta que o “falhanço” na implementação do plano “poderá ditar o fim de uma geração”. 
  • António Costa e Silva
16 Outubro 2020, 11h16

O CEO e gestor da petrolífera Partex, António Costa e Silva, autor do Plano de Recuperação e Resiliência, não tem “certeza absolutamente nenhuma” se o plano apresentado esta quinta-feira a Bruxelas sairá da gaveta. António Costa e Silva refere que procurou dar o seu contributo para “desenvolver um país que seja mais justo e coeso” e alerta que o “falhanço” na implementação do plano “poderá ditar o fim de uma geração”.

“O país já teve muitos programas e foram todos parar à gaveta. Não tenho certeza [de que não acontecerá o mesmo com o Plano de Recuperação e Resiliência, cujo esboço foi entregue esta quinta-feira pelo primeiro-ministro, António Costa, à Comissão Europeia]. Não tenho certeza absolutamente nenhuma. As coisas estão extremamente difíceis”, afirmou António Costa e Silva, em entrevista à rádio “Antena 1”.

António Costa e Silva quer acredita que “o programa possa ser implementado” na próxima década, mas dá conta de que Portugal é um “caso paradigmático” no que toca aos “falhanços coletivos”. “Toda a gente diz que temos de fazer reformas e que temos de mudar, mas depois quando olhamos à volta há uma falta de crença profunda se somos capazes de mudar”, referiu o economista.

O CEO e gestor da Partex reconheceu que “as crises são muito frequentes e as transformações fundamentais das sociedades são raras” e que “tem de haver a conjugação de muitas vertentes” para tornar possível a implementação do Plano de Recuperação e Resiliência. Para isso, sublinhou, é preciso que haja “abrangência política para suportar o programa” e impedir que o país entre “numa espécie de deriva”.

“Imagine que não há uma abrangência para desenvolver estas ideias e hoje em dia há uma fragmentação cada vez maior na luta contra essa crise. Imagine que não há uma abrangência política para suportar o programa. Ou nós, que somos especialistas em autofagia e em guerras de alecrim e manjerona, agora com o desenvolvimento da crise e o seu aprofundamento, vamos entrar numa espécie de deriva. Isso pode acontecer”, afirmou.

António Costa e Silva antevê que a dimensão da crise provocada pela pandemia da Covid-19, que “já se transformou numa crise económica e social profunda” seja “brutal” e, por isso, defende que é preciso “desenvolver uma plataforma abrangente que permita fazer face aos problemas com que estamos confrontados”.

“Temos mais de um milhão de pessoas que vivem em Portugal abaixo do limiar da pobreza e isso deve acentuar-se com esta crise. Mas também não nos podemos esquecer que estamos sentados em cima de uma crise climática e ambiental, sem precedentes. Se não aproveitarmos esta oportunidade para fazermos a transformação adequada, com uma transição energética e para a descarbonização da economia e desenvolver um país que seja mais justo e coeso, vamos enfrentar problemas muito graves no futuro”, sentenciou.

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