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Polónia cancela espetáculos de Roger Waters em Cracóvia

Autoridades da cidade dizem que o fundador dos Pink Floyd está contra a Ucrânia. O músico que compôs o mítico “The Wall” diz que está contra a guerra e lembra a sua luta contra outros muros.
26 Setembro 2022, 18h30

O homem que cantava que “We don’t need no thought control” (Não precisamos de controlo de pensamento) e o fez em regime de total apoteose num concerto em Berlin pago pela autarquia local (The Wall Live in Berlin) para assinalar a queda do muro que dividia a cidade e a Alemanha, Roger Waters, fundador dos Pink Floyd, viu os seus espetáculos previstos para a cidade de Cracóvia, capital da Polónia, cancelados.

Tudo por causa de declarações suas a propósito da guerra na Ucrânia. Waters assinou uma carta aberta à primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska, em que a aconselhava a pedir ao marido que escolhesse “um caminho diferente” e criticava o Ocidente por fornecer armas à Ucrânia.

“A Live Nation Polska e Tauron Arena Krakow cancelaram o espetáculo de Roger Waters” previsto para o próximo mês de abril, disseram os organizadores em comunicado, sem contudo detalharem o motivo do cancelamento. Segundo a agência de notícias estatal polaca PAP o governo local da Cracóvia votou uma resolução declarando Waters “persona non grata”.

Nas redes sociais, o antigo elemento da maior banda de rock do mundo criticou o vereador polaco Lukasz Wantuch pela resolução. “Lukasz Wantuch ameaçou realizar uma reunião pedindo ao conselho que me declarasse ‘persona non grata‘ por causa dos meus esforços públicos para encorajar todos os envolvidos na desastrosa guerra na Ucrânia, especialmente os governos dos Estados Unidos e da Rússia, a trabalhar para uma negociação paz”, escreveu Waters no Facebook.

“Se Lukasz Wantuch atingir o seu objetivo e os meus espetáculos em Cracóvia forem cancelados, será uma triste perda para mim, porque estou ansioso por partilhar a minha mensagem de amor com o povo da Polónia. Lukasz Wantuch parece não saber nada da minha história de trabalho de toda a minha vida, com algum custo pessoal, ao serviço dos direitos humanos”, acrescentou.

Roger Waters foi convidado em 2006 para visitar a Cisjordânia, a pedido de movimentos ligados aos palestinianos – e na sequência dessa visita cancelou um concerto previsto para a capital de Israel, Tel Avive, tendo-o alternativamente realizado em Neve Shalom, para que a sua presença não pudesse ser tomada como um apoio ao regime israelita. Waters foi na altura acusado de antissemitismo, mas manteve sempre algum tipo de ligação à causa palestiniana.

Em outubro de 2016, Waters perdeu cerca de quatro milhões de dólares em patrocínios depois de a American Express se recusar a financiar uma sua digressão na América do Norte devido à “retórica anti Israel” manifestada num espetáculo anterior; em novembro de 2016, o Citibank juntou-se à American Express.

Waters criticou o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e a sua decisão de acabar a construção do muro de separação entre o país e o México. Em 2017, o músico disse que o álbum “The Wall” era “agora muito relevante, com o Sr. Trump e toda essa conversa de construir muros e criar tanta inimizade quanto é possível entre raças e religiões”.

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