“Se pensa que a educação é cara, experimente a ignorância” é uma frase comum quando se fala de conhecimento e, na realidade, a mesma acerta em cheio num dos grandes problemas da sociedade moderna, que navega mais com ruído do que com conhecimento, fruto é certo das task forces da propaganda, mas também dos próprios cidadãos, que não procuram o pensamento crítico e preferem o “conforto” do seguidismo.

Tal como referi no meu artigo de opinião anterior, um dos temas onde existe mais ruído é o do ambiente. Muito poucos factos reais e muita politiquice por detrás, não sendo por acaso que os mesmos que supostamente “defendem” o ambiente também atacam o capitalismo, as empresas e o modo de vida ocidental, que desde já afirmo são tudo menos imaculados, mas também não são o diabo.

Anda por aí um histerismo generalizado de que o mundo vai acabar se não mudarmos de vida enquanto civilização, nomeadamente no que diz respeito ao aquecimento global.  E estando totalmente de acordo que o problema existe e que é preciso mudar muita coisa, sou frontalmente contra os actos cegos de protagonismo político disfarçados de consciência ambiental.

Concretamente, queremos passar do 80 para o 8 sem primeiro discutir o mais importante: quem é que anda realmente a poluir o planeta?

Deixemo-nos portanto de tretas e vamos a factos, chamemos os bois pelos nomes para mal do PAN. Os principais poluidores não somos nós, europeus, nem os EUA, nem muito menos somos os que poluem cada vez mais. Não, esses são outros, nomeadamente a China e a Índia, os dois países mais populosos do mundo. Mas vamos por partes.

O plástico, demonizado pelos mesmos que contestam o gás e o petróleo, apesar de não passarem sem eles, está hoje na lista dos produtos a abater. Mas vejamos, quando pensamos em poluição por plástico em que é que pensamos imediatamente? Nas gigantescas manchas de lixo de plástico no oceano Pacifico, com cerca de três vezes o tamanho de França.

O segundo pensamento é “temos de parar com isto e deixar de usar garrafas de plástico ou sacos de plástico”, só que nunca ninguém se questionou quem é que de facto construiu essa lixeira no mar. Hoje, felizmente e devido a este estudo de 2017 do Helmholtz-Centre for Environmental Research, resumido neste artigo do Dailymail, temos factos.

Podemos afirmar que cerca de 90% do plástico nos oceanos advém de apenas dez rios, oito dos quais na Ásia e dois em África. Cerca de 28% ou 2,4 milhões de toneladas de plástico que todos os anos chegam aos oceanos são provenientes da China, em comparação os EUA, único país do ocidente no top 20 dos mais poluidores, que contribui “apenas” com 77.000 toneladas, ou menos de 1%.

Não quero com isto dizer que nós, Europa, não devemos melhorar os nossos sistemas de reciclagem e reutilização de produtos. Obviamente que sim, mas numa lógica sustentável, não de histerismo, “acaba com tudo”, como estão a fazer com o plástico e com os carros de combustão interna. Aliás, tal como afirmou Erik Solheim, chefe da UN Environment, o problema não é o plástico, é o que fazemos com ele, sendo que reciclamos muito pouco – em 2015, foram apenas 14%.

E na questão da reciclagem há que estar informado, porque proibem-se copos de plástico para se usarem de papel sem que ninguém se questione se é uma opção melhor…

Em termos de embalagens, a escolha actual é composta por papel, plástico, vidro e alumínio. Desde logo é importante ter a noção de que plástico e papel têm limitações no número de vezes que podem ser reciclados, cerca de duas e cinco, respectivamente.

Em termos energéticos, a reciclagem do alumínio é a mais eficiente com uma poupança de 95% em relação à energia utilizada para fazer alumínio de matéria-prima virgem, já o vidro é o menos eficiente com uma poupança de 15%. Nesta página da United States Environmental Protection Agency (EPA) poderá fazer as contas à poupança por produto se reciclado. Depois há que considerar os gastos energéticos no transporte dos materiais reciclados. Por exemplo, uma carrinha cheia de garrafas de vidro consome bastante mais energia que uma carrinha com garrafas de plástico ou de alumínio.

Por último, a questão ambiental na extracção das matérias-primas. Sim, porque se vamos substituir plástico por papel e este não pode ser reciclado vezes ilimitadas, a opção é devastar ainda mais a já escassa mancha florestal mundial? Importa não esquecer que em 2017 desapareceu, por segundo, o equivalente a um campo de futebol de floresta.

Se não for o papel escolhemos o vidro? Vamos esgotar ainda mais os já parcos recursos de areia existentes? Sim, porque pode não parecer, mas o mundo está a ficar sem areia, com graves consequências ecológicas, como refere este estudo, ou esta notícia recente sobre a destruição das praias moçambicanas pela exploração chinesa.

Vamos então optar pelo alumínio? Um produto com um processo de fabrico muito poluidor para o ambiente, nocivo para os trabalhadores e de necessidade energética elevada, para não falar na destruição e poluição provocada pela extracção da bauxite necessária para a sua produção, em minas gigantescas ao ar livre, destruindo toda a área de extracção?

Então, qual a solução? Simples, reciclar, reciclar e reciclar, mas com estratégia e apoios públicos sérios, com empenho, tal como na Suécia, que atingiu os 100% de reciclagem de resíduos domésticos. Já em Portugal, o Estado mais uma vez falha estrondosamente. Aliás, a incompetência é tal que, em 2017, o Estado nem sequer sabia o que se reciclava.

E a poluição atmosférica, onde mais uma vez a China lidera destacada? Essa parte deixo para o próximo artigo de opinião. Hoje termino com um resumo do que escrevi: a poluição não é um problema de um qualquer material, é um problema de mentalidade, a começar pela do Estado, que impostos e taxas sabe cobrar, já fazer o que lhe compete é que nada. Depois, aos ambientalistas pouco esclarecidos sugiro que deixem de gritar à porta das empresas nacionais e vão antes protestar para a porta das embaixadas chinesa e indiana, é lá que estão os principais poluidores.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.