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População em risco de pobreza vai aumentar para 21,2% em Portugal com guerra na Ucrânia

O BEI publicou uma analise ao impacto económico do conflito na Ucrânia e consequências associadas, para as famílias, empresas, bancos e governos. Portugal está em sexto lugar no conjunto de 27 países analisados pelos economistas do BEI, no que toca ao aumento do risco de pobreza.
14 Junho 2022, 11h14

O Banco Europeu de Investimento publicou um relatório intitulado “The impact of the war on Europe’s economic recovery”, onde analisa o impacto económico do conflito na Ucrânia e consequências associadas, para as famílias, empresas, bancos e governos.

Portugal está em sexto lugar no conjunto de 27 países analisados pelos economistas do BEI, no que toca ao aumento do risco de pobreza.

As subidas dos preços aumentaram a proporção de pessoas em risco de pobreza e numa análise que tem por base a percentagem de pessoas em risco de pobreza em 2020 e o crescimento, em pontos percentuais, decorrente da crise provocada pelos efeitos do conflito, verifica-se que em Portugal a percentagem de pessoas em risco de pobreza com a guerra da Ucrânia, cresce 1,2 pontos percentuais. Isto significa que se em 2020 era de 20% agora a percentagem de portugueses em risco de pobreza sobe para 21,2%.

O estudo do BEI conclui, no que se refere ao aumento do risco de pobreza, que as famílias serão atingidas de forma diferente entre e dentro dos países.

A inflação desencadeada pela guerra pode reduzir o consumo privado real na União Europeia em 1,1%, embora o impacto varie entre os países. O impacto será mais sentido em países onde o consumo é mais sensível aos preços da energia e dos alimentos e onde uma parcela relativamente grande da população está em risco de pobreza. Os países da Europa Central e do Sudeste europeu tendem a ser mais afetados, diz o BEI.

“O aumento dos preços dos alimentos e da energia atingirá as famílias de baixos rendimentos de forma desproporcional, mas em graus variados entre os Estados-Membros da UE. As famílias de baixos rendimentos nos países mais ricos da Europa do Norte e Ocidental são mais capazes de absorver o aumento de preços do que as famílias da Europa Central e do Sudeste, em grande parte porque as taxas de poupança e os rendimentos em geral tendem a ser mais altos”, explica o relatório.

O aumento da incerteza e os preços mais altos dos alimentos, das commodities e da energia estão a afetar o investimento e o desenvolvimento económico sustentável e inclusivo”, alerta o vice-presidente do BEI, Ricardo Mourinho Félix, no comunicado.

O português que está na cúpula do BEI disse ainda que “manter uma boa coordenação de políticas públicas será crucial para gerir o impacto económico da guerra e enviar um sinal claro aos mercados, reduzindo a incerteza e atenuando os riscos de uma nova recessão. O Grupo BEI está pronto para conceder financiamentos de longo prazo a taxas favoráveis ​​para abrigar uma recuperação verde e sustentável e apoiar o crescimento inclusivo”.

“A inflação e os preços mais altos da energia representam um novo risco para as empresas da UE já enfraquecidas pela pandemia”, alertou a instituição que diz que os modelos de análise do BEI “mostram que, num ano, a proporção de empresas em risco de incumprimento do crédito aumenta de 10% para 17%. Em resposta, precisamos de implementar políticas claras para proteger as empresas e garantir que o investimento público seja totalmente usado para catalisar o investimento privado”, defende a economista-chefe do BEI, Debora Revoltella, cuja equipa que lidera foi autora do relatório.

As interrupções no comércio e a subida da inflação estão a pesar sobre as empresas e famílias, ameaçando travar a recuperação da Europa e empurrar muitos cidadãos para a pobreza, diz o BEI. A desaceleração do crescimento é particularmente pronunciada em países próximos à Ucrânia, mas os outros países da UE também estão a sentir a pressão.

As políticas públicas podem ajudar a reduzir os riscos para famílias e empresas vulneráveis, com vista a manter afastadas a pobreza e as falências.

Estas são algumas das principais conclusões de um novo relatório do BEI que detalha que os preços de energia mais altos e as interrupções no comércio podem desestabilizar as empresas da UE já enfraquecidas pela pandemia.

Ao mesmo tempo, os modelos económicos do Banco Europeu de Investimento (BEI) mostram que o aumento da inflação pode empurrar mais europeus para a linha da pobreza.

Espera-se agora que o crescimento económico real na União Europeia caia abaixo de 3% em 2022, abaixo dos 4% estimados pela Comissão Europeia antes da guerra. Uma recessão pode acontecer, e mais interrupções no comércio ou aumento das sanções económicas aumentariam o risco para a economia europeia.

Contexto induzido pela guerra apresenta novos riscos para as empresas da UE

As empresas da UE, especialmente as PME, ficaram muito afectadas durante a crise da Covid-19 e a sua capacidade de resistir à retirada dos apoio políticos já era incerta. Agora a guerra exacerbará a vulnerabilidade das empresas por meio de três canais, pela redução das exportações; pela queda dos lucros devido a preços de energia mais altos; e pela dificuldade em encontrar financiamento, pois os bancos evitam o risco.

As simulações ao nível das empresas realizadas pelo BEI sugerem que a proporção de empresas que perdem dinheiro aumentará de 8% para 15% num ano e que a proporção de empresas em risco de incumprimento aumentará de 10% para 17% no mesmo período.

Os setores dos produtos químicos e farmacêuticos, transportes, alimentos e agricultura são os mais atingidos.

O BEI diz ainda que as empresas de países mais próximos da Ucrânia e da Rússia, como a Hungria, a Polónia, a Letônia e a Lituânia, sentirão a pressão. As empresas na Grécia, Croácia e Espanha também sofrerão mais do que a média da UE.

As empresas portuguesas serão sobretudo afetadas pelo aumento dos preços da energia e numa lista de 27 surgem em 11º lugar nas com mais risco, logo a seguir às italianas. Num ranking de aumento na proporção de empresas que reportam perdas.

Bancos sob pressão

O impacto sobre os bancos deve permanecer contido, diz o relatório do BEI, mas o acesso a fontes externas de financiamento pode piorar.

No geral, o sistema bancário europeu tem pouca exposição direta à Ucrânia, Rússia e Bielorrússia, exceto um pequeno grupo de bancos. No entanto, esses bancos reforçaram seus buffers de capital o suficiente para suportar as perdas contabilizadas com alguns dos seus ativos na Ucrânia e na Rússia. Apesar disso, os requisitos para a concessão de crédito começaram a tornar-se mais rígidos, especialmente na região da Europa Central, Oriental e do leste.

As finanças dos Estados-Membros da UE irão provavelmente deteriorar-se

Os gastos podem aumentar à medida que os países acolhem refugiados, implementam medidas redistributivas para ajudar as famílias a lidar com os aumentos dos preços da energia e aumentam os gastos militares.

A receita também deve ser menor do que o previsto, dada a desaceleração da atividade económica, assim como os gastos militares devem aumentar.

“No geral, espera-se que os orçamentos sejam mais afetados nos membros da UE vizinhos da Ucrânia e nos países bálticos. Os fundos disponíveis do Mecanismo de Recuperação e Resiliência podem dar margem de manobra fiscal aos governos”, defende o BEI.

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