População de Vila Velha do Rodão alerta: “Se Almaraz rebentar, nada nos safa”

A cerca de cem quilómetros da central nuclear de Almaraz, a vila de Castelo Branco encontra-se numa zona vulnerável. Os ambientalistas dizem que Rodão ficará afetado se houver emissão de radioatividade para o Tejo.

Rafael Marchante / Reuters

A funcionar desde o início da década de 1980, a central de Almaraz está situada junto ao Tejo e faz fronteira com os distritos portugueses de Castelo Branco e Portalegre, sendo Vila Velha de Ródão a primeira povoação portuguesa banhada pelo Tejo depois de o rio entrar em Portugal.

De acordo com o Boletim Oficial do Estado, uma resolução de 14 de dezembro de 2016, da Direção-Geral de Política Energética e Minas, o Governo espanhol “autoriza a execução e montagem da modificação do desenho correspondente ao Armazém Temporário Individualizado da Central Nuclear Almaraz”.

Os ambientalistas consideram que a construção do armazém indicia um prolongamento da vida da central nuclear de Almaraz, que tem tido vários problemas e já não terá, dizem, condições para continuar a funcionar além do prazo previsto de 2020, representando um perigo para as populações.

“Se Almaraz rebentar nada nos safa. Quando chegar a notícia, já cá está a água. Então não vale a pena estarmos com coisas sobre o que é que se há-de fazer ou não”, refere ao “Público” Ana Almeida, de 52 anos, uma das 1.700 habitantes de Vila Velha do Rodão.

Ao diário, o meteorologista e activista antinuclear Costa Alves indica que o risco dependerá da situação meteorológica e que, se houver ventos do quadrante leste, a primeira localidade a ser atingida é Idanha-a-Nova, mas se vierem de oeste, a nuvem radioactiva pode chegar a Vila Velha do Ródão.

“Se houver emissão de radioactividade para o Tejo, que pode acontecer porque os reactores são refrigerados pelas águas do rio, a primeira povoação a seguir à fronteira é Ródão”, corrobora Carla Graça, da associação ambientalista Zero.

A via situa-se a cerca de cem quilómetros da central nuclear de Almaraz e a Agência Portuguesa do Ambiente explica que existem estudos que recomendam “numa perspectiva muito conservadora, a existência de reservas de iodo estável em todos os hospitais com maternidade, jardins-de-infância e escolas numa área até aos cem quilómetros de centrais nucleares”.

A Autoridade Nacional de Protecção Civil tem avisos para emergências radiológicas:

O que fazer em caso de aviso de contaminação radioactiva?

  • Ouça as estações nacionais de radiodifusão e a televisão
  • Não vá buscar as crianças às escolas. Elas serão acompanhadas pelos responsáveis
  • Volte para casa ou vá para qualquer outro local construído em cimento, pedra ou tijolo
  • Feche todas as portas e janelas que dão para o exterior
  • Desligue todos os sistemas de ventilação e ar condicionado
  • Desligue a chama dos aparelhos de aquecimento e apague as lareiras
  • Desligue os botões do aquecimento e feche a ventilação das chaminés
  • Coloque camadas de papel de jornal ou panos húmidos nas frestas das janelas e portas
  • Desligue os sistemas de recolha de água da chuva
  • Traga para dentro de casa os seus animais domésticos
  • Beba água da torneira e coma só os alimentos que estiverem dentro de casa
  • Só utilize o telefone em caso de necessidade absoluta
  • Mantenha-se ocupado, embora atento à difusão dos avisos.
  • Leve o gado para locais fechados
  • Reduza a ventilação natural ou artificial desses locais
  • Prepare e conserve em local fechado, forragens e alimentos empacotados para a alimentação do gado
  • Cubra o feno que se encontra ao ar livre com plástico
  • Feche as estufas
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