Perante a guerra, seria expectável que o abastecimento energético russo fosse cortado, o que não aconteceu. Atualmente, a Europa ainda recebe diariamente 2,2 milhões de metros cúbicos de gás e derivados vindos da Rússia. Uma vez que este problema já é datado, é importante perceber a sua origem e a razão pela qual é tão complicado aplicar sanções.

Enquanto segundo maior exportador mundial e principal a nível europeu, 43% do PIB russo deriva da exportação de gás e crude. Diariamente, circulam cerca de 285 milhões de dólares em transações entre a Rússia e a Europa, aumentando a subordinação europeia ao poder negocial russo.

A Ucrânia, com a sua posição geográfica, representa uma porta direta entre a Rússia e a Europa. Este fator torna-a no principal recetor e vincula economicamente os dois países. Episódios como o da exportadora russa Gazprom, que por alegado roubo acabou por cortar o abastecimento de gás à Ucrânia, têm vindo a aumentar a pressão e a tensão entre as duas economias. Para reduzir a dependência, a Rússia começou a diversificar os métodos de exportação para o continente europeu.

Em 2010, iniciou-se a construção do Nord Stream, situado no Mar Báltico, com ligação direta à Alemanha. Em 2020, a maior reserva russa estava ligada à Europa via Turquia e previa-se que a capacidade do Nord Stream fosse duplicada. Com o aumento da tensão entre russos e ucranianos, a Alemanha cortou o investimento para esta infraestrutura.

Por um lado, o espoletar da guerra veio acelerar a transição energética na União Europeia (UE). No cenário pré-guerra, o objetivo europeu era ser o primeiro continente com neutralidade carbónica em 2050, reduzindo as emissões em 55% até 2030. Nas circunstâncias atuais, esta transição quer-se mais rápida.

No dia 8 de março de 2022, a UE estabeleceu um plano para reduzir a importação dos combustíveis russos. A Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla inglesa) divulgou um blueprint com dez pontos chave para esta mudança. O documento prevê, entre outras ações, que os contratos expirados não sejam renovados e que se opte por energias renováveis, como a solar e a eólica.

Por outro lado, esta mudança é morosa e dispendiosa, tornando o gás americano na alternativa mais direta ao gás russo, como se tem vindo a verificar com a crescente importação europeia, desde 2020.  Como a capacidade produtiva norte-americana atingiu o limite, as companhias energéticas têm desviado para a Europa os navios de combustível que tinham como destino o continente asiático.

Ora, a oferta energética mundial, excluindo as reservas russas, está abaixo da procura crescente, situação que contribui para o contínuo aumento da inflação. Como solução, para além da recente proposta de Mario Draghi, os EUA pretendem investir na capacidade produtiva e de armazenamento.

Em suma, e de acordo com alguns peritos, os níveis preocupantes de inflação levarão, a curto prazo, ao abrandar do investimento nas energias renováveis, dando primazia às alternativas, como o metanol, para reduzir a dependência russa. Embora não seja ideal, parece que o ambiente vai ter de esperar.

O artigo exposto resulta da parceria entre o Jornal Económico e o ITIC, o grupo de estudantes que integra o Departamento de Research do Iscte Trading & Investment Club.