Esta segunda-feira milhares de famílias por todo o país vão pôr as suas crianças nos jardins de infância pela primeira vez em meses, mas ninguém consegue perceber porque é que os profissionais destes estabelecimentos não foram testados.

É um momento importante e uma grande decisão para cada família, visto que a socialização com outras crianças e educadoras, ainda que todas as regras sejam cumpridas, comporta sempre um aumento do risco de infeção da criança e da família pela Covid-19.

Na Escola Pública, os agrupamentos, as juntas de freguesia e as câmaras municipais fizeram o seu trabalho em passo acelerado, após terem recebido as instruções do Ministério apenas uma semana antes. As escolas foram limpas, os planos de contingência desenhados e aplicados, os circuitos pensados e os equipamentos de proteção individual distribuídos. As comunidades educativas mobilizaram-se para garantir segurança às crianças e confiança aos pais.

Mas há uma pergunta que todos fazem: por que razão testaram os 19 mil profissionais das creches, mas não se aplicou o mesmo critério aos profissionais dos jardins de infância?

A razão não é inteligível, na medida em que não há qualquer diferença epidemiológica entre as crianças dos 0 aos 3 anos nas creches e as que têm entre 3 e 6 anos nos jardins de infância. Mais difícil é ainda explicar que se tenham testado os profissionais das creches, que são do setor privado, e não se tenham testado os trabalhadores dos jardins de infância, muitos deles públicos.

As recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) são claras: “testar, testar, testar”; e o Governo português tem seguido essa indicação, sendo o quarto país europeu com mais testes por milhão de habitantes. No entanto, a OMS não tem dúvidas: foram os adultos que introduziram a Covid-19 na maior parte das escolas onde ocorreram infeções.

Infelizmente, não foi avançada uma única razão para não se realizarem os testes nos jardins de infância. Era necessária uma explicação clara e as dúvidas são tantas que a moção apresentada pelo Bloco de Esquerda na Câmara Municipal de Lisboa, exigindo a testagem nos jardins de infância, foi aprovada por todos os partidos.

No dia de reabertura dos jardins de infância, os testes teriam sido muito importantes para dar confiança aos pais, às educadoras e auxiliares, assim como para reforçar a segurança das crianças. O Governo perdeu essa oportunidade, e o pior que podia acontecer para a credibilidade dos esforços do combate ao vírus neste momento era descobrir que um foco de infeção numa escola tinha tido origem numa pessoa que já estivesse infetada antes da reabertura das escolas.