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Portos do Continente com quebra de 11,4% nas mercadorias movimentadas até final de julho

Recuo de quase seis milhões de toneladas deve-se à ausência de importação de carvão em função da paragem quase total das centrais de Sines e do Pego.
18 Setembro 2020, 09h00

Os portos do Continente registaram um recuo de 11,4% nas mercadorias movimentadas nos sete primeiros meses deste ano, em comparação com o período homólogo de 2019, de acordo com os dados da AMT – Autoridade da Mobilidade e dos Transportes, a que o Jornal Económico teve acesso.

Segundo o órgão regulador do setor dos transportes, presidido por João Carvalho, o carvão foi “a principal carga responsável por esta variação negativa, recuando 85,7% no mesmo período”, ou menos 5,95 milhões de toneladas em termos absolutos.

“Entre janeiro e julho deste ano, os portos do Continente movimentaram um total de 46,3 milhões de toneladas, um recuo de 11,4% face a igual período de 2019. A grande maioria dos portos apresenta comportamentos negativos, com especial destaque para Sines, que neste período recua 2,4 milhões de toneladas. Figueira da Foz e Faro são as únicas exceções, ao registarem acréscimos de 2,6% e de 37%, respetivamente”, adianta uma informação da AMT.

De acordo com o documento a que o Jornal Económico teve acesso, “o carvão detém a maior quota de responsabilidade na variação negativa global, ao perder 1,88 milhões de toneladas nos primeiros sete meses do ano”.
A informação recolhida pela AMT assinala ainda que o porto de Sines mantém a liderança do movimento global portuário do Continente, com uma quota de 49,8% do total, um acréscimo de 1,1 pontos percentuais face à do período homólogo de 2019.

“O volume de carga movimentada no mês de julho de 2020 confirma a manutenção do abrandamento do ciclo negativo a que se vem assistindo, reduzindo 17,3 pontos percentuais à variação negativa de junho, para um decréscimo de 8,6% face a julho de 2019”, assinala a AMT, acrescentando que “estes números são explicados pelo comportamento negativo da maioria dos portos, com destaque para Sines, que diminuiu 2,4 milhões de toneladas, bem como para Lisboa, que recua 1,6 milhões de toneladas, e para Leixões, cujo movimento reflete um decréscimo de 1,4 milhões de toneladas”.

A quebra de cargas movimentadas nos sete primeiros meses do ano nos portos do Continente derivada da variação negativa em relação ao carvão justifica-se, de acordo com a AMT, “após ausência de registo de qualquer importação nos últimos três meses, na sequência da suspensão quase total da atividade das centrais termoelétricas de Sines e do Pego no período em análise”.

A AMT esclarece que as decisões de suspender a atividade destas centrais “não resultam da crise pandémica que se atravessa, mas sim da sustentabilidade comprometida das unidades, fortemente penalizadas economicamente pela elevada emissão de CO2 que originam”.

Também os mercados de petróleo bruto e dos produtos petrolíferos “merecem particular destaque, ao registarem uma significativa diminuição do volume, que ascende a menos 827,8 mil toneladas (-11,9%) e a menos 1,66 milhões de toneladas (-15,5%), respetivamente.

Estas sim, “quebras que resultam inequivocamente da crise pandémica, uma vez que esta levou a uma forte retração do consumo de combustíveis, a nível nacional e internacional, a uma interrupção e redução da sua produção por falta de capacidade de armazenamento, com significativos efeitos nefastos nos desempenhos dos portos de Leixões e de Sines”, destaca a AMT.

Também a carga contentorizada registou quebras nos primeiros sete meses de 2020, “muito pela retração da atividade económica motivada pela pandemia de Covid-19”, tendo-se verificado uma redução de 603,9 mil toneladas nos portos do Continente, mesmo assim inferior à registada no mês anterior em cerca de 250 mil toneladas, “explicada quase exclusivamente pelo comportamento do porto de Lisboa, que vê o seu volume reduzido em 1,2 milhões de toneladas (-43,6%), comportamento esse que não pode ser dissociado do clima de perturbação laboral existente, decorrente dos persistentes pré-avisos de greve dos trabalhadores portuários”, de acordo com os responsáveis da AMT.

O órgão regulador do setor dos transportes destaca ainda que “Leixões regista em julho a terceira variação mensal negativa consecutiva, enquanto Setúbal e Sines registam respetivamente a quinta e a quarta variação mensal positiva consecutiva”, acrescentando que “o mês de julho regista globalmente uma variação positiva (+9,5%), após dois meses de comportamento negativo”.

No que respeita às restantes tipologias de carga, que no seu conjunto representam 28,1% da tonelagem total movimentada, a AMT salienta, “pela positiva, a dos minérios, por ser a única a apresentar um registo positivo na variação do seu volume portuário no período janeiro-julho de 2020, de mais 43,2 mil toneladas (+6,5%)”.

“Em termos globais, sublinha-se que a variação homóloga negativa observada no mês de julho (-8,6%), tem subjacente variações positivas registadas na carga contentorizada, carga fracionada e outros granéis líquidos, anuladas por variações negativas registadas nos outros mercados de carga, sendo ligeiramente menos intensa do que a variação homóloga do Índice de Produção Industrial publicado pelo INE [Instituto Nacional de Estatística], cujo valor se cifra em -9,6%, recuperando cinco pontos percentuais ao seu valor apurado em junho”, observa o referido documento.

A AMT sublinha também que “o porto de Sines passa a deter uma quota de 49,8% do total do movimento de carga movimentada, que se traduz num acréscimo de 1,1 pontos percentuais à do período homólogo de 2019, embora esteja ainda a menos 4 pontos percentuais do seu máximo registado em 2016”, enquanto “Leixões permanece no segundo lugar, com uma quota de 22%, seguido por Lisboa (10,9%), Setúbal (8,1%), Aveiro (6%) e Figueira da Foz (2,5%), sendo que Viana do Castelo, Faro e Portimão representam no seu conjunto 0,7%”.

O documento a que o Jornal Económicot teve acesso indica igualmente que, “nos primeiros sete meses deste ano, o segmento dos contentores registou um volume total de 1,55 milhões de TEU [medida padrão equivalente a contentores com 20 pés de comprimento], uma redução de 6,4%, correspondente a menos 106,7 mil TEU, e surge na sequência de um acréscimo global de 0,9% ocorrido no mês de julho, após registo negativo nos dois meses imediatamente anteriores”.

“A maioria dos portos registou variações negativas, com exceção para Setúbal que fechou o mês de julho com um total acumulado superior a 12,5% ao volume registado no mesmo período de 2019. Lisboa é o porto que regista o volume de TEU inferior ao do ano de 2019 com maior expressão, ao movimentar um total de menos 111,5 mil TEU (menos 41%). O porto de Leixões apresenta em julho o terceiro registo mensal consecutivo negativo, refletindo, no entanto, um ligeiro abrandamento desse ciclo negativo”, avança a AMT.

Os responsáveis da AMT consideram que, “tendo em conta o peso que representa no mercado de contentores do porto de Sines, importa sublinhar que o tráfego de ‘transhipment’ representou 67,7% do volume movimentado neste porto e recuou 2,8%, sendo que o tráfego com o ‘hinterland’ aumentou 6%”.

“No entanto, as operações de ‘transhipment’ não se esgotam em Sines. Em Leixões, representou 7,7% do total e registou um acréscimo de 7,7% no período janeiro-julho de 2020, sendo que em Lisboa representou cerca de 1,5% do total, após um decréscimo no volume de TEU superior a menos 70%”, refere o documento em causa.

A AMT refere ainda que no mercado de contentores, “o porto de Sines mantém a liderança com uma quota maioritária absoluta de 56,4%, seguindo-se Leixões, com 26,5%, Lisboa, com 10,4%, Setúbal, com 6,1%, e Figueira da Foz, com 0,6%”.

“Relativamente ao número de escalas de navios, nas diversas tipologias, o conjunto dos portos registou nos primeiros sete meses deste ano um total de 5.479 escalas, um recuo de 12% (menos 748 escalas no total) face ao período homólogo de 2019, correspondente a uma arqueação bruta de cerca 98,8 milhões, menos 15,3% face a igual período do ano anterior”, explica a AMT.

De acordo com os responsáveis do órgão regulador do setor dos transportes, “este comportamento global resulta de diminuições do número de escalas observadas na maioria dos portos, excetuando-se apenas a Figueira da Foz e Faro, que registam mais nove (mais 3,4%) e mais seis escalas (mais 33,3%), respetivamente”.

“Dos portos com variações negativas, merece particular destaque o porto de Lisboa, que regista menos 480 escalas, Leixões, com menos 98, Sines, com menos 86, Aveiro, com menos 38, e Portimão, com menos 35”, revela a AMT, acrescentando que “a quota mais elevada do número de escalas no período total dos sete meses é detida pelos portos de Douro e Leixões, com 26,1% do total, seguidos de Sines (com 21,2%), Lisboa (17,9%), Setúbal (16,7%), Aveiro (10,4%), Figueira da Foz (5%) e Viana do Castelo (2,1%)”.

Por fim, a AMT conlui que “os portos que apresentam um perfil de porto ‘exportador’, registando um volume de carga embarcada superior ao da carga desembarcada, entre janeiro e julho de 2020, são Viana do Castelo, Figueira da Foz, Setúbal e Faro, que apresentam um quociente entre carga embarcada e total movimentado com valores respetivos de 72,4%, 65,2%, 52,8% e 100%”.

“A estes portos confere uma quota de 15,5% do total de carga embarcada no sistema portuário do Continente, sendo que 10,3 pontos percentuais desta quota pertencem a Setúbal”, conclui o referido documento da AMT.

 

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