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Portugal com défice externo de 2,8 mil milhões até julho, revela BdP

Em julho, as balanças corrente e de capital atingiram um excedente de 437 milhões de euros, o que corresponde a uma redução de 559 milhões relativamente ao mesmo mês de 2021. Já o saldo da balança financeira foi de -1,6 mil milhões de euros. O facto de a banca ter investido em dívida emitida por entidades não residentes contribui para o saldo negativo.
20 Setembro 2022, 12h25

Até julho de 2022, a economia portuguesa apresentou um défice externo de 2.778 milhões de euros, revelou esta terça-feira o Banco de Portugal (BdP). Em igual período de 2021, tinha sido registado um excedente de 275 milhões de euros.

Isto significa que a economia portuguesa tem uma necessidade de financiamento de 2,8 mil milhões de euros até julho, refere a nota de informação estatística de julho de 2022 sobre a Balança de Pagamentos.

Em julho de 2022, o excedente da balança de serviços aumentou 1,6 mil milhões de euros em relação ao mês homólogo do ano anterior, para 2,7 mil milhões de euros, “o valor mais elevado observado num mês de julho em toda a série”, diz o BdP que acrescenta que o aumento dos ativos financeiros de entidades residentes perante o exterior (3,8 mil milhões de euros) foi superior ao incremento dos passivos (3,3 mil milhões de euros).

No período em análise, as balanças corrente e de capital atingiram um excedente de 437 milhões de euros, o que corresponde a uma redução de 559 milhões relativamente ao mesmo mês de 2021.

A balança corrente inclui as transações entre residentes e não residentes sobre ativos produzidos (bens e serviços), rendimento primário (rendimento proveniente da utilização dos fatores de produção, capital e trabalho) e rendimento secundário (transferências correntes).

“É de salientar que, em julho de 2021, tinha sido registado o recebimento excecional de uma transferência de capital de cerca de 1.100 milhões de euros, proveniente da devolução da margem financeira retida aquando do empréstimo do Programa de Assistência Económica e Financeira”, ressalva o banco central. Aliás, a redução do excedente da balança de capital, em 1.223 milhões de euros, é explicado, pelo recebimento excecional, no mês de julho do ano passado, da devolução da margem financeira relacionada com o Programa de Assistência Económica e Financeira.

“A evolução do saldo das balanças corrente e de capital refletiu o aumento dos défices das balanças de rendimento primário e de bens. Estas variações foram parcialmente compensadas pelo incremento dos excedentes das balanças de serviços e de rendimento secundário”, explica o BdP.

O aumento do défice da balança de bens, para 1.671 milhões de euros, é explicado por um crescimento das importações superior ao das exportações em relação a julho de 2021 (com taxa de variação homóloga de 28,4% e 27,6%, respetivamente).

As exportações e as importações de serviços aumentaram, respetivamente, 83,0% e 33,5% relativamente a julho de 2021. Para esta subida contribuíram, em particular, as rubricas de viagens e turismo e de transporte aéreo.

As exportações e as importações de viagens e turismo cresceram, em termos homólogos, respetivamente, 144,7% e 57,1%, “permitindo que o excedente desta rubrica aumentasse 1.415 milhões para 2.122 milhões de euros”.

Os valores registados na rubrica de viagens e turismo — nas exportações, nas importações e no saldo — são os mais elevados num mês de julho em toda a série.

No que toca ao défice da balança de rendimento primário, este aumentou 666 milhões de euros, refletindo o crescimento do pagamento, por parte de entidades residentes, de rendimentos de investimento sob a forma de dividendos a investidores não residentes. O excedente da balança de rendimento secundário aumentou 89 milhões.

O Banco de Portugal destaca que as variações do défice da balança de bens aumentou, tendo as importações crescido mais do que as exportações (34,5% e 23,5%, por esta ordem).

Resumindo, o excedente da balança de serviços subiu, influenciado, sobretudo, pelo crescimento da rubrica de viagens e turismo; o défice da balança de rendimento primário aumentou devido ao incremento de pagamentos líquidos de rendimentos de investimento, nomeadamente sob a forma de dividendos; a menor atribuição de fundos europeus aos beneficiários finais determinou a redução do excedente do rendimento secundário e da balança de capital; a acentuada redução do excedente da balança de capital deveu-se ainda ao recebimento excecional, em julho de 2021, da devolução da margem financeira relacionada com o Programa de Assistência Económica e Financeira.

As balanças corrente e de capital são as duas componentes da balança de pagamentos onde se registam a vertente real das transações entre os residentes e não residentes de uma economia. A terceira componente da balança de pagamentos é a balança financeira, onde é registada a vertente financeiras das transações.

Balança financeira com saldo negativo

Até julho deste ano, o saldo da balança financeira foi de -1,6 mil milhões de euros, refletindo um aumento dos passivos perante o exterior (7,5 mil milhões de euros) superior ao incremento dos ativos (5,9 mil milhões), diz o BdP.

Isto justifica-se com os aumentos relacionados com o investimento de não residentes em dívida pública portuguesa e em títulos de dívida emitidos por sociedades não financeiras. Mas também com o crescimento do investimento direto do exterior em Portugal, com destaque para o investimento imobiliário. Também contribui para este saldo da balança financeira as reduções dos passivos do Banco de Portugal junto do Eurosistema.

O aumento de ativos é explicado principalmente pelo investimento do setor financeiro residente em títulos de dívida pública emitidos por não residentes e em depósitos junto de bancos não residentes. O aumento dos ativos deveu-se, em grande medida, aos investimentos realizados por bancos e sociedades de seguros em dívida titulada de longo prazo emitida por entidades não residentes”, detalha o BdP.

Em julho de 2022, o saldo da balança financeira ascendeu aos 548 milhões de euros, resultante de um aumento dos ativos (3,8 mil milhões) superior ao crescimento dos passivos (3,3 mil milhões de euros).

Quanto aos passivos, a evolução deveu-se sobretudo ao aumento dos passivos do Banco de Portugal, quer sob a forma de numerário e depósitos, quer sob a forma de empréstimos, assim como ao aumento dos depósitos de não residentes junto das outras instituições financeiras monetárias residentes.

Estes valores foram parcialmente compensados pelo vencimento de títulos de dívida pública portuguesa que se encontravam na posse de não residentes, conclui a análise.

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