Utilizando a parábola bíblica (Mateus 7.24) da casa construída sobre a rocha, não resisto a pensar na comparação, por semelhança, com o que este Governo faz ou, rigorosamente, não faz. Caiu a pandemia e Portugal, assente na areia, desabou. Pois se tivesse sido assente em rocha, cairia a pandemia e ele não desabava.

Tudo é concebido, desenhado, anunciado e não executado em cima do joelho, na lógica do desenrasca, no caos instalado e sempre bem comunicado nos media e nas redes sociais.

O plano de António Costa Silva para a economia caiu em saco roto, o plano da inoculação é um mistério e rodeado de peripécias que seriam cómicas se não fossem trágicas (veja-se o caso das escoltas policiais e o ministro da tutela agarrado ao poder como uma lapa) e os propalados apoios à economia não chegam em tempo útil à mesma.

Singapura anunciou que iria vacinar toda a população (cerca de 5,8 milhões de pessoas) no terceiro trimestre de 2021! É um anúncio ambicioso mas que em Singapura é real e exequível! Em Portugal, nem no final do ano teremos metade da população vacinada…

Mais de 19% do PIB de Portugal advém de actividades turísticas e afins. Mais do que nunca Portugal deveria ter-se preparado para ser o primeiro país da Europa a ser imunizado, oferecendo um destino turístico “covid free”!

Porque não aproveitar a enorme capacidade de comunicar deste Governo (leia-se propaganda) e anunciar, tal como Singapura, que temos um plano de inoculação da população portuguesa até ao segundo trimestre! Só assim se salvariam milhares de postos de trabalho, se retomaria o sucesso do país como destino turístico seguro (todos se devem lembrar do crescimento do turismo em Portugal por força da insegurança dos países do norte de África).

Naturalmente, não basta anunciar, é necessário planear e executar. Mas fixando essa meta, anunciando-a, confio que com a enorme capacidade de desenrascar dos portugueses conseguiríamos atingir uma elevada taxa de sucesso. No ínterim, os turistas regressariam, confiantes num destino seguro, numa comunidade vacinada e numa capacidade hospitalar que rivaliza com o que de melhor existe nos países ocidentais (e sim estou a falar também do sector de saúde privado).

Com essa medida anunciada e executada, milhares de moratórias teriam sido úteis e não em vão. Salvar-se-ia a jusante o sistema financeiro, preservar-se-iam milhares de empregos e o produto interno bruto cresceria novamente.

E já agora reintroduzir o golden visa em Lisboa e Porto, oferecendo oportunidades de investimento a quem nos visita de países terceiros, ajudando igualmente os sectores imobiliário e o da construção, sectores não despiciendos na nossa economia de serviços, a recuperar!

O país entretanto está entretido com fait-divers, tais como se putativos candidatos a presidentes da República dariam ou não posse ao candidato do partido Chega ou se este ao defender a revisão da Constituição da República Portuguesa, nos termos nela previstos, devia ser ilegalizado; se um procurador nomeado pelo Governo português para a procuradoria europeia, com base na antiguidade (para ser politicamente correcto) e não no mérito, com base num curriculum vitae falso, deveria justificar ou não a demissão da ministra da tutela.

Mais. Se o ministro da Administração Interna tem condições para se manter no cargo depois dos sucessivos e tristes episódios, se a ministra da Saúde o deve continuar a ser depois do fracasso da campanha da vacina da gripe, do lamentável mas cómico discurso do subdirector da DGS no Natal, desacreditando a DGS e a ciência; se um jornalista da televisão pública cumpre ou não os princípios éticos mínimos ao entrevistar os candidatos à presidência e muitos mais episódios poderiam ser elencados… É isto Portugal?

Os alicerces do país estão construídos sobre areia (movediça) e quando vierem os novos ventos (leia-se a retoma da economia mundial) Portugal desabará…

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.