Creio ter sido Carlos Carreiras, ainda em 2017, quem em plena “geringonça” foi o primeiro a recorrer à muito adequada metáfora do sapo que, aquecido, não dá pela sua própria cozedura. Disse ele então: “Se pusermos um sapo numa panela em que a água vai aquecendo, o sapo não salta e morre cozido. Se tivermos uma panela a ferver e o sapo saltar lá para dentro, imediatamente salta e sobrevive. Nós estamos a ser aquecidos em lume brando”.

Na verdade, essa metáfora ganhou, entretanto, um duplo sentido, externo e interno.

Internacionalmente, todos os dias assistimos ao acumular global de sinais de inquietação, uns mais pequenos do que outros, desde a deteção de estranhos objetos voadores não identificados sobre o continente americano, até ao mais recente encerramento do espaço aéreo moldavo e à denúncia do presidente daquele país sobre a instabilidade territorial lançada pela Rússia, passando obviamente pelas afirmações do secretário-geral Jens Stoltenberg de que a NATO está numa “corrida contra o tempo”, para fornecer armamento à Ucrânia antes de uma nova ofensiva russa. Com efeito, não só a guerra permanece sem fim à vista, como recrudescem e se intensificam os meios materiais e humanos envolvidos.

Por outro lado, a nível interno, também as notícias vão surgindo, paulatinamente, dando corpo a uma sensação de instabilidade que – para além do acumulado de casos políticos e judiciais a nível nacional e local – mostram uma economia em transição para um estado de maior fragilidade. Esta semana, foi notícia neste mesmo jornal o comunicado da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico revelando que Portugal foi o país da OCDE onde a taxa de desemprego mais aumentou entre julho e dezembro de 2022 (oito décimas de 5,9% para 6,7%), numa evolução “claramente contrária à tendência geral dos membros da organização”.

Uma recessão não é apenas evidenciada pelo indicador da queda do PIB em dois trimestres consecutivos. Ela está também associada ao aumento do desemprego agora mencionado, à queda do rendimento das famílias – evidente como consequência do aumento dos preços derivado da inflação – e à diminuição dos níveis de investimento e do número de falências, por exemplo. Numa leitura atenta de todos os indicadores, a impressão gerada é que a nossa “temperatura da água” aquece. Lenta, mas visivelmente.

No Fórum Portugal 2030, organizado esta semana pelo Jornal Económico, vários responsáveis deixaram alertas. Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEP, fui um deles e sublinhou que as empresas enfrentam uma inflação elevada, a subida dos juros e a falta de mão de obra. Os fundos comunitários poderão agora ajudar a inverter esta situação? Sem dúvida. Mas apenas se forem aplicados com os critérios adequados e para os destinatários certos. Caso contrário, quando dermos por ela, já estaremos irremediavelmente “cozidos”.

 

Enquanto vereador da CML tive ocasião de liderar na oposição o movimento que levou a que agora a Praça do Império surja renovada mantendo uma ligação à nossa História. Gostaria por isso de aqui deixar os meus sinceros parabéns ao atelier ACB, da arquiteta paisagista Cristina Castel-Branco, pelo excelente trabalho desenvolvido.