Há poucas semanas, o Financial Times publicou “FT 1000: Europe’s Fastest Growing Companies”. Trata-se de uma lista de mil empresas na Europa que alcançaram o maior crescimento percentual nas receitas entre 2018 e 2021.

O ranking abrange empresas com sede na Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Bósnia e Herzegovina, Croácia, Chipre, República Checa, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Islândia, Itália, Letónia, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Mónaco, Noruega, Países Baixos, Polónia, Portugal, Reino Unido, Roménia, Suécia e Suíça.

O ranking foi criado por meio de um procedimento complexo. Embora a busca tenha sido muito extensa, o ranking não tem a pretensão de ser completo, pois algumas empresas não quiseram divulgar os seus números ou não participaram por outros motivos. O projeto foi anunciado on-line e impresso, permitindo que todas as empresas elegíveis se registassem nos sites criados pela Statista e pelo Financial Times (FT). Além disso, foram utilizados bancos de dados de empresas e outras fontes públicas.

A Statista identificou dezenas de milhares de empresas na Europa como potenciais candidatas ao ranking FT 1000. Estas empresas foram convidadas a participar por correio, e-mail e telefone.

A fase de candidatura decorreu de 1 de outubro de 2022 a 30 de novembro de 2022. Para ser incluída na lista, uma empresa tinha de cumprir os seguintes critérios: Receitas de pelo menos 100.000 euros em 2018; receitas de pelo menos 1,5 milhões de euros em 2021; empresa independente (a empresa não é uma subsidiária ou filial de qualquer tipo); o crescimento da receita entre 2018 e 2021 foi principalmente orgânico (ou seja, estimulado “internamente”); se uma empresa está listada na bolsa de valores, o preço de suas ações não caiu 75% ou mais desde 2021.

Os dez primeiros lugares são ocupados por empresas do Reino Unido (5), Itália (3), França (1), e Alemanha (1). A lista inclui muitas empresas britânicas talvez refletindo o facto do FT ser um jornal britânico e, portanto, mais habitual no meio empresarial daquele país.

Os resultados para Portugal não são lisonjeiros. Poderá dar-se o caso de muitas empresas não terem respondido ao inquérito, o que desde logo não é abonatório, pelo que não constam da lista. Mas também poderá acontecer que Portugal quase não tenha empresas de elevado crescimento pelo que a sua representação na lista é diminuta.

Fiz a contagem das empresas referidas em países com os quais nos comparamos atualmente tendo excluído outros mais desenvolvidos como a Dinamarca, Bélgica, Países Baixos, Suécia, Áustria. Também não tive em conta o volume de receitas. Apenas contei a inclusão na lista. Os resultados são os seguintes: República Checa, Hungria e Lituânia cada uma com 10 empresas; Croácia e Bulgária 4 empresas; Estónia, Grécia e Eslovénia três empresas; Portugal e Roménia 2 empresas; Chipre, Eslováquia e Letónia 1 empresa.

Muitas das mil empresas são tecnológicas ou de fintech, mas há de tudo. As duas empresas portuguesas na lista são Plásticos Dão (sacos de papel e de plástico reciclável) e Mixprice (comércio por grosso de produtos alimentares de valor acrescentado). De certeza que não há mais empresas de crescimento rápido em Portugal com faturação acima dos 100.000 euros, uma fasquia baixa? Pelos menos dez? Ou retraíram-se?

Portugal precisa de ensino para a vida, para estimular o “engenheiro que há dentro de cada de um nós”, para instilar o conceito de que é preciso rapidez (os franceses são mestres nisso) e, para isso, é preciso ensino adequado.

O nosso ensino é demasiado teórico e segue o modelo clássico, fastidioso. Por exemplo, um caderno de exercícios de Ciências Naturais do 7º ano. Muito interessante, mais profundo do que quando andei no liceu. Mas não há nenhuma relação entre a matéria lecionada e a vida do dia a dia. Por exemplo: qual a aplicação de rochas magmáticas na construção? Ou qual o impacto da atividade sísmica nas técnicas de construção? Coisas que demonstrem aos estudantes porquê é importante aprender a identificar minerais e a conhecer as suas propriedades, de preferência utilizando modelos informáticos.

A fundação dos filhos do empreendedor Richard Branson criou uma “aventura anual” chamada Big Change. O objetivo é obter fundos para Big Change, uma instituição de solidariedade social que desenvolver projetos de apoio a jovens para que avancem em todas as áreas da vida e não apenas obterem boas notas nos exames. O foco é na educação: skills for life, aprender os basics, coisas como taxas de juro, como funcionam as hipotecas, quanto dinheiro entra e sai, aquilo a que Branson chama a vida real, a matemática que é precisa no dia a dia, aquela que é precisa quando se tem de fazer um orçamento, ou comprar uma casa, ou começar um negócio.

Branson diz que no Reino Unido há pouco deste tipo de ensino e que na sua experiência a vida é olhar para um problema e perceber como resolvê-lo. A matemática funciona quando serve para melhorar a experiência das pessoas ou criar alguma coisa positiva.

Entretanto, em Silicon Valley, desde há sete anos que The Knowledge Society ensina jovens que se interessam por nanotecnologia, blockchain, biologia sintética, inteligência artificial e outras disciplinas para as quais há perguntas e ainda não há soluções. O princípio é ensinar as pessoas a sentirem-se confortáveis com a ambiguidade num programa de dez meses sobre novas tecnologias. Esta é apenas uma escola entre muitas outras, ou programas para as férias de verão, que ensinam fazendo (learning by doing). Trata-se menos de ensinar código ou os fundamentos de negócios e mais como resolver problemas, promover o falhanço e a iteração, enaltecer a individualidade sobre o desempenho.

Em Portugal também há iniciativas da sociedade civil que vão no sentido de dotar os jovens com conhecimento prático para o futuro. SIC Esperança, uma instituição de solidariedade social promovida pela Impresa e dirigida por Mercedes Balsemão, lançou recentemente o projeto Programar o Futuro financiado por Google.org para a capacitação de pessoas entre os 18 e os 30 anos em situação de emprego precário nas áreas da programação, código e robótica. O objetivo é formar 400 jovens para os avanços tecnológicos que gerarão novos empregos.