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“Portugal é um dos países mais amigos das startups”

Jason Nadal, responsável pela área de Desenvolvimento e Empreendedorismo da Microsoft, considera que o país está no caminho certo para o desenvolvimento de microempresas. Em entrevista ao Jornal Económico, Nadal revela os segredos para o sucesso de uma startup.
7 Novembro 2016, 10h57

O que é que podemos esperar da Microsoft no Web Summit?

Há quatro coisas que eu acho que são verdadeiramente importantes para as startups saberem daqui para a frente. Primeiro, temos este grande evento da final do Startup Challenge. Segundo, temos três aulas grátis online, que qualquer startup pode ver e participar, diariamente, que têm início entre as 15h e as 16h. As aulas são sobre negócio e tecnologia e vão decorrer até ao final do mês. Em terceiro lugar, vamos transformar o nosso espaço aqui, até porque estamos apenas a 700 metros de distância do evento. O nosso piso vai tornar-se num touchdown space, para que as pessoas consigam ter as suas próprias reuniões, trabalhar, relaxar e criar uma comunidade juntas. Por exemplo, temos uma startup que quer ter um Hackfest [evento centrado em programação] aqui, no último dia e no dia a seguir ao Web Summit.

Como é que está organizado esse espaço?

Nós chamamos-lhe o “Microsoft Reactor”, mas é um espaço onde se pode efetivamente utilizar as nossas infraestruturas para promover as ideias e trabalhar. Podem também chamar algum CEO do evento que queiram para ter um encontro mais pessoal aqui. Se não se quiserem sentar numa mesa de café a conversar sobre finanças ou sobre o montante que tem a empresa, venham para cá! Temos Tuk Tuks para trazer as pessoas e levar de volta ao recinto do evento. Vamos também ter uma festa de lançamento deste Reactor, no dia 7 de novembro. Todas as startups são bem-vindas, não apenas as portuguesas, mas também as restantes europeias.

A última coisa tem que ver com aquilo que tradicionalmente já vão esperar da Microsoft no Web Summit. Vamos ter uma grande presença no evento, num espaço cerca de oito metros de comprimento e seis metros de largura, onde as pessoas vão poder ver os nossos produtos. Vamos ter 20 startups, de toda a Europa e do resto do mundo, no nosso expositor.

Em Portugal, há startups a mais?

Em Portugal, ao longo do ano, crescemos significativamente no número de startups. Não há a mais. Precisamos de ter mais e de continuar a melhorar a qualidade dessas empresas. Este Startup Challenge que organizámos tem oito finalistas, mas tivemos cerca de 150 inscrições. Tivemos perto de 30 startups que definitivamente conjugavam com o nosso critério em relação àquilo que devia ter uma startup para ser uma das oito finalistas.

Eu tenho de viajar pelo mundo inteiro e observar startups e empresas de software. Aquilo que lhe posso dizer é que este é um dos países com o ambiente mais dinâmico e amigo destas empresas que já conheci. Portugal tem uma energia autêntica. Conheço diversas venture companies externas que querem investir aqui e daí eu só tiro uma conclusão: estamos no caminho certo. Podemos acelerar esse processo e fazê-lo de forma sustentável? Eu quero pensar que sim, mas teremos de ver depois do Web Summit.

Jason referiu que o processo de escolha foi difícil. O que tinham estas oito startups de especial?

De facto, foi um processo difícil. No ano passado, provavelmente diria que o número não teria sido 30, mas sim significativamente inferior. Nós ainda não teríamos oito com estas características de qualidade. O que é que avaliamos? Como é que é a dinâmica de grupo; que clientes têm; qual a tecnologia que utilizam e em que medida é diferenciadora no mercado; qual é o seu plano de estratégia; que financiamento de risco têm e como é que a equipa funciona – se trabalha toda em regime de full-time e se há membros a part-time – e qual o seu principal foco.

O número de pessoas na empresa não interessa?

Não interessa o número. Podem ser 30 ou duas. Eu diria que tipicamente estamos a falar de empresas com pelo menos quatro membros na equipa, talvez dez. Estes são elementos muito importantes na equação, para as startups poderem mostrar que estão no caminho certo e que têm uma tecnologia promissora. O nosso trabalho é disponibilizar as infraestruturas para elas se desenvolvam, orientar e conectar. Ou seja, proporcionar tutoria numa perspetiva tecnológica e de negócios: o que é que estão a pensar sobre o que diz respeito à captação de recursos, à estrutura da organização, ao roteiro de vendas. Acho que é um sucesso quando estamos a trabalhar com uma aceleradora e com startups que se integram dentro dessa aceleradora e elas estão abertas a essa tutoria. Eu não sei todas as respostas corretas e se fosse uma startup, provavelmente, também não saberia. Mas se estou disponível para receber tutoria e não me sinto à vontade para ouvir os conselhos que têm para me dar estou a ter uma mente fechada e vou demorar muito mais a perceber aquilo de que preciso para ser bem-sucedido.

Assumiu novas na Microsoft em julho. Que balanço faz dos primeiros meses?

Os primeiros três meses foram uma junção de coisas extremamente emocionantes. Vim para um país completamente novo, porque sou de Seattle, em Washington. Fui recebido de uma forma verdadeiramente calorosa por parte desta equipa. Até as pessoas com as quais nos cruzamos na rua percebemos que são incrivelmente boas anfitriãs e simpáticas. Acho que se deve à cultura portuguesa, que nos recebe muito bem. E, quando de facto as pessoas perceberam que me ia mudar para aqui para trabalhar, para viver e para partir à aventura, os braços ficaram maiores e os abraços mais fortes. Assim que cheguei aqui, foram todos completamente cordiais.

O que é que planeou antes de começar?

Preocupei-me em conhecer a nova equipa e o novo departamento da empresa, em compreender o ecossistema com o qual iria passar a interagir no dia-a-dia, quer se tratasse de uma aceleradora, de uma startup, de uma venture company ou de um tradicional parceiro de software. Começamos a pensar e a idealizar tudo aquilo que é preciso fazer mas, assim que chegamos aqui, há uma série de coisas que acontecem com o decorrer dos dias para a qual não há maneira de planear antes. Pode tratar-se simplesmente de olhar para a prioridade das tarefas. Como por exemplo, prepararmo-nos para o Web Summit ou para este grande evento [apresentação dos finalistas do Startup Challenge] com a Embaixada dos Estados Unidos da América e criar essa parceria. Posso dizer que, nos meses de junho e julho, pouco depois de ter chegado a Portugal, esta parceria ainda não tinha sido desenvolvida ao ponto de me envolver pessoalmente, onde nós pudéssemos dar vida a um evento desta natureza, trazer oradores de todo o mundo. Não há forma de planear isto até se estar efetivamente aqui, a trabalhar, a criar relações e perceber de maneira se quer montar as peças do puzzle.

Em relação ao próximo ano, qual é a estratégia da Microsoft?

Eu tenho muita sorte por dois motivos. Primeiro, a minha equipa é brilhante. Tenho a honra de liderar uma equipa cheia de gente muito talentosa, com boas referências na comunidade e que estão sempre a criar desafios a eles próprios e a mim para pensar naquilo que podemos fazer de maior e melhor. Eu até já tenho no meu OneNote [bloco de notas digital da Microsoft] uma lista de coisas que quero fazer de forma diferente para este evento da próxima vez. Fi-la durante a sessão da manhã. A equipa vai reunir-se, olhar para trás, refletir sobre aquilo de que gostámos, aquilo de que não gostámos. E essa análise vai começar já amanhã. No próximo ano, vou pensar nas experiências que tive nos últimos meses, trata-las como experiências de aprendizagem e tentar perceber isto: “Caso eu voltasse a fazer de novo, que partes iria manter, que partes iria retirar, onde é que iria acrescentar alguma coisa?”.

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