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Poupança e literacia digital serão chave para enfrentar crise

Apesar da redução de rendimento que muitos portugueses experienciaram, a diminuição da atividade económica e o confinamento também levam a menor consumo, pelo que a poupança é possível e desejável.
22 Novembro 2020, 08h00

Num ano que fica inegavelmente marcado pela pandemia de Covid-19, que tem condicionado a atividade económica em todo o mundo, importa relembrar alguns conceitos que, em tempos de crise, ganham uma importância acrescida para a saúde financeira de famílias e empresas.

“O conhecimento do funcionamento dos mercados e das consequências das crises económicas podem limitar os investidores na sua impulsividade e reatividade face a notícias menos boas e ao mesmo tempo conduz à tomada de decisões de proteção do seu futuro”, explica Pedro Lino, o presidente executivo da Optimize Investment Partners.
Num período difícil como aquele que se vive desde a proliferação do novo coronavírus, que se carateriza pela elevada incerteza em relação ao futuro de curto prazo, um dos comportamentos chave é “constituir poupança de longo prazo”, que passa pela definição de objetivos e de um plano para os alcançar, defende Pedro Lino.

Também a DECO identifica as competências de literacia financeira como cruciais para “tomar decisões de forma responsável”, especialmente em momentos de dificuldade. Neste contexto, a associação de defesa do consumidor apela a que sejam feitos esforços no sentido de reforçar a poupança, para fazer face ao aumento da despesa e/ou quebra de rendimento que poderá surgir num futuro próximo.

A questão das moratórias, por exemplo, é outro dos aspetos mais relevantes desta crise. A Defesa do Consumidor lembra que alguns destes mecanismos já expiraram em outubro, nomeadamente as associadas às instituições financeiras de crédito, o que levou a pedidos de ajudas de várias famílias no mês corrente.

“Temos famílias que já estão a ter que retomar o pagamento dos seus créditos, mas a verdade é que os seus rendimentos estão muito reduzidos ou, simplesmente, desapareceram”. Para quem ainda beneficia deste tipo de instrumento, “uma atitude correta seria olhar para o seu orçamento e retirar todos os meses uma verba destinada ao pagamento das prestações”, aconselha Natália Nunes, responsável pelo Gabinete de Apoio ao Sobre-endividado da DECO.

A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) destaca, na perseguição desses objetivos num contexto tão incerto, o papel dos seguros, na medida em que estes contribuem para “reforçar a resiliência financeira da população, preparando-a para choques futuros”.

Além disso, as peculiaridades de uma crise pandémica causada por um vírus determinam um novo conjunto de prioridades a que os supervisores terão de estar atentos no seu papel de promotores de uma maior educação financeira. As regras de distanciamento social, que obrigaram à digitalização de inúmeras atividades e serviços, poderão constituir uma nova oportunidade para agentes mal-intencionados tentarem defraudar ou burlar indivíduos singulares ou coletivos.

Isso mesmo é reconhecido pela ASF e pelo Banco de Portugal, que “tem vindo a adaptar as suas ações de formação financeira a este novo contexto, dando uma atenção crescente aos temas relacionados com a resiliência financeira e a utilização segura de canais digitais”, especialmente por populações tecnologicamente menos conhecedoras, como os idosos, ou por aqueles que fazem maior uso destes veículos, os jovens.

Ainda assim, é importante manter a noção de que nem tudo é negativo; pelo contrário, nas crises nascem oportunidades e “frequentemente são catalisadoras de uma nova classe”, recorda Pedro Lino. Mas, para tal, é necessário “conhecimento e ponderação”. “É importante manter a estratégia que levou ao investimento, seja por motivos de reforma, viagens, compra de casa, automóvel, ou simplesmente para constituir uma almofada financeira que dê segurança e liberdade de ação”, argumenta Pedro Lino.

Este comportamento não deveria ser exclusivo de situações de crise, como encoraja a DECO. “Nos momentos de incerteza, os consumidores tendem a ser mais cautelosos e a privilegiar a poupança. (…) Mas o que devem também fazer é continuar com este comportamento responsável no futuro”, conclui Natália Nunes, projetando já a recuperação.

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