No dia 31 de Outubro celebra-se o Dia Mundial da Poupança, numa altura em que os depósitos à ordem e a prazo dos portugueses atingem máximos de sempre – mais de 169 mil milhões de euros aplicados.

As taxas de juro destes produtos atingem mínimos históricos, rendendo, no caso dos depósitos a prazo, menos de 0,10% ao ano. Ou seja, os portugueses detêm 80% do PIB que nada rendem.

Este é o financiamento mais barato a que o sistema financeiro teve acesso, sendo uma das razões para que o sector tenha valorizado mais de 70% na Europa desde o início do ano.

O Banco Central Europeu continua a não deixar que o preço do dinheiro suba, mantendo as taxas de juro de curto prazo negativas. Apesar de existir uma expectativa de início de subida lenta das taxas de juro, a remuneração do capital irá permanecer em níveis perto de zero, pelo menos nos próximos cinco anos.

Simultaneamente, defrontamo-nos com uma subida da taxa de inflação, que começa a ser percepcionada como permanente. O aumento dos preços da energia, por via do gás, da electricidade, do petróleo e do carvão, tem um efeito transversal e irreversível em toda a cadeia de produção económica, fazendo com que a inflação na zona euro tenha ultrapassado os 3% em Agosto.

A inflação, tal como os impostos indirectos, onde não se sente o impacto do aumento, é um imposto que delapida o poder de compra e impede a aquisição dos mesmos bens ou serviços.

Os investidores que não tenham conhecimentos suficientes e que apliquem as suas poupanças em produtos de longo prazo estão a perder 3% ao ano, mitigando desta forma o efeito da estagflação, i.e., períodos de elevada inflação e crescimento anémico da economia, risco muito real nos próximos anos.

Muitas famílias tomam a decisão certa de poupar, mas por razões diversas não investem.

Algumas das razões apontadas para que os portugueses sejam avessos ao risco e prefiram ter o dinheiro a não render nada são as más experiências, desconfiança no mercado de capitais nacional, medo de perder, confiarem no Estado como fonte de rendimento aquando da reforma, não conseguirem pensar a longo prazo e ainda a iliteracia financeira.

Mas existem factores que nos deveriam levar a equacionar o investimento.

A nova fase de incerteza política em Portugal, a instabilidade mundial, com a aproximação de um novo conflito entre EUA e China, o abrandamento económico como resultado da forte subida dos preços, a inversão da pirâmide demográfica – tornando-se impossível para os governos garantir um padrão mínimo de sobrevivência aos contribuintes em idade de reforma –, o investimento para assegurar o futuro dos filhos ou netos, entre outros factores.

O Orçamento do Estado agora chumbado em nada fomentava a poupança e o investimento. Esta é uma decisão que apenas cabe a cada um dos contribuintes – assegurar o seu próprio futuro.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.