A atual conjunta internacional e cenário macroeconómico em que vivemos são complexos, sendo que muitos já recorrem ao jargão da estagflação que foi muito assente nos períodos da década de 1970, com um denominado choque na oferta de petróleo. Sendo as consequências nos preços dos combustíveis semelhantes a origem destes aumentos na atualidade é, no entanto, muito diferente.

Deste modo, as receitas tradicionais de aumento da taxa de juro podem não ter os efeitos económicos esperados, além de um impacto social profundo. Mas é importante sublinhar que a perda de poder de compra é o maior drama atual das famílias portuguesas

Desde o início da pandemia que assistimos a uma rutura das cadeias de abastecimento e produção. A invasão da Federação Russa ao território ucraniano levou ao aumento dos preços da energia, bem como dos cereais e de outras matérias-primas. É dos livros os efeitos inflacionistas desta situação, mas sublinho que os cereais e mesmo a energia tendem a ser bens inelásticos, sendo que a modificação nas taxas de juro não trava significativamente a sua procura.

Sublinho que Portugal é o país que, atualmente, mais cresce na Europa, apresentando uma taxa de desemprego em queda, atualmente nos 5,7%, o valor mais baixo desde 2011. A nossa economia demonstra a sua resiliência. São os números que o atestam.

Perante a crise, os poderes públicos não podiam, simplesmente, deixar o mercado funcionar como até então. E dessa forma, foram tomadas medidas que visaram proteger o rendimento das famílias. Em Portugal a resposta foi muito significativa.

Sublinho que na eletricidade existiu uma baixa de 2,6% na tarifa regulada e também no denominado mercado de spot (mesmo que com muita polémica gerada por declarações infelizes de um responsável empresarial). Em relação aos combustíveis, a descida muito significativa do ISP permite que o preço português esteja bem abaixo da média europeia. Esta é uma realidade que algum populismo não gosta de admitir,

Naturalmente, vivemos um debate sobre os lucros excessivos. E o que penso sobre isso? Mesmo que a função principal de uma empresa se centre na maximização do lucro, as empresas apresentam grandes responsabilidades na sociedade. Obviamente que as entidades reguladoras têm um grande papel a desempenhar como o de garantir que estamos a falar de lucros legítimos e em mercado concorrencial. E devem atuar eficazmente, se não for o caso.

Mas é igualmente importante desmistificar algumas matérias. Portugal, ao contrário de muitos outros países, apresenta uma derrama estadual e, no caso da energia, uma CESE, o que torna a taxação completamente diferente. Este debate sobre os lucros excessivos, sendo importante, deve ser sempre realizado em contexto europeu. E as empresas devem cumprir o seu papel na sociedade.