O Estado tem evidenciado uma perigosa incapacidade para combater a pandemia com a implementação e controlo de medidas assertivas e eficazes, lógicas e coerentes, que poderiam ter evitado este verdadeiro estado de sítio e de desespero coletivo em que nos encontramos.

E agora, com a realização das eleições presidenciais no próximo domingo, dia 24, oferece-se aos portugueses uma exceção para sair de casa no fim de semana, quando o país se encontra numa situação de confinamento (quase) geral por causa da epidemia de Covid-19?

Não teria sido preferível termos, responsavelmente, ponderado consensualizar o adiamento das eleições para uma data posterior, como chegou a apelar o líder do PSD, Rui Rio, logo no início do ano?

Vivemos tempos dramáticos em que os casos novos diários de infeção atingem 20.000 portugueses e já provocaram perto de 300 óbitos. Existe a perceção de a situação estar descontrolada e os serviços médicos se encontrarem em rutura e sem ação, apenas em lenta reação. O número de casos de infetados e de mortos tem atingido recordes atrás de recordes, absolutamente inaceitáveis.

E, perante tudo isto, e apesar dos apelos “fiquem em casa”, assistimos a uma campanha na rua por parte dos candidatos, sem qualquer condição para o efeito. Tudo se resume a um debate surdo pelas televisões, de quem é de esquerda e quem é de direita, em debates extremistas onde apenas parece que Marcelo Rebelo de Sousa corre sozinho, e em que os outros candidatos apenas tentam aproveitar a oportunidade para ganhar espaço para outros ‘tabuleiros’.

Na falta de debate ideológico e de contactos presenciais dos candidatos, avolumam-se as quezílias e as ofensas pessoais entre os próprios, em situações pouco dignificantes em democracia, chegando-se inclusive a algumas situações lamentáveis da parte da imprensa para com candidatos, efetuando reportagens em plena campanha eleitoral a denegrir candidaturas e apoiantes.

O que sobra de todo este cenário de campanha é desolador. Tudo se resume a um conjunto de estratégias para futuros líderes partidários, ou futuros governos ou autárquicas. Tudo menos presidenciais. Obviamente que teria sido mais apropriado, imperioso e de verdadeiro interesse público nacional o adiamento destas eleições. Se assim tivesse sido, Portugal ganharia mais, com mais debate de ideias e contactos mais estreitos com candidatos e, certamente, com menos abstenção.

Vivemos tempos de exceção, tempos muito difíceis, que exigiriam rumo, liderança coletiva, ação, eficácia, estratégia. Tudo o que o que não temos tido. E com tristeza o digo.