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Presidente argentino na Europa com reservas de gás ‘no bolso’

Enquanto enfrenta uma poderosa barragem política protagonizada pela sua aliada política Cristina Kirchner, Alberto Fernández está na Europa para tentar recuperar a depauperada economia do país. As reservas de gás são o incentivo certo para uma Europa com medo do inverno.
11 Maio 2022, 16h00

Alberto Fernández chegou ao poder em 2019 pela mão da ex-presidente (e viúva de outro ex-presidente) Cristina Kirchner, sua atual e poderosa adversária política – que nos últimos meses tem tentado acabar com a vida política do seu pupilo. Fernández tenta sobreviver às punhaladas da sua ex-amiga, ao mesmo tempo que quer dar um novo impulso à economia – na tentativa de aliviar o cerco que o FMI faz há mais de dois anos à sua dívida externa e à ausência de reformas eficazes.

Nesta vertente, Fernández não tem andado bem: poucos dias antes da invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro, o presidente argentino foi a Moscovo (tal como fez o seu homólogo brasileiro) jurar fidelidade à condição de país preparado para serviu de hub aos investimentos russos na América Latina. A Casa Branca entrou em delírio, e Alberto Fernández acabou por ter de viajar até Washington para assinar novo acordo com o FMI, mas tendo sido a administração norte-americana (principal acionista do Fundo) a impor essa deslocação para ter oportunidade de lhe ‘puxar as orelhas’ ao vivo.

Desta vez, o presidente argentino decidiu ser mais canónico: está em viagem na Europa (Paris, Madrid e Berlim), na tentativa de encontrar clientes para as reservas de gás natural argentinas. Não terá com certeza de procurar muito.

“A pandemia, muito dura em toda a América Latina, e o acordo com o FMI acrescentaram tensão numa altura crítica e a oposição está a ganhar força nas sondagens”, disse Fernández em entrevista ao jornal “El Pais”.

A viagem “é o produto da preocupação com a guerra na Ucrânia e suas consequências em todo o mundo, inclusivamente na Argentina. Os preços dos alimentos sobem e já começam a faltar. Pareceu-me necessário falar com Olaf Scholz, Emmanuel Macron e Pedro Sánchez, [chanceler alemão, presidente francês e chefe de Estado espanhol, respetivamente] com quem temos uma visão comum do que está a acontecer no mundo. Passei em algumas coisas que podem ser úteis”.

O presidente argentino recordar que o seu país “tem uma reserva de gás muito importante na região de Vaca Muerta, onde estamos a desenvolver um projeto de liquefação para exportação, e a Espanha tem 30% das fábricas de regaseificação na Europa. Pode ser uma grande oportunidade para a Espanha participar na construção desta fábrica”.

Na entrevista, Alberto Fernández não se atrapalhou com a questão russa. Questionado sobre se estaria arrependido da sua viagem a Moscovo, afirmou: “como posso arrepender-me? Não fui ver Putin por causa da guerra, fui vê-lo porque a Argentina precisa de investimentos e a Rússia manifestou interesse em investir. Dias depois também falei com o presidente chinês Xi Jinping”, esclareceu.

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