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Presidente da EPAL: “Estamos cá para ajudar as autarquias”a reduzir perdas de água”

As faturas dos habitantes de Lisboa vão sofrer mudanças já este mês, com o objetivo de reduzir o consumo de água. José Sardinha, presidente da empresa que abastece a capital portuguesa, revela como é que as autarquias e entidades gestoras do resto do país podem reduzir as perdas na rede.
28 Janeiro 2019, 07h40

Para reduzir o consumo de água, o consumidor precisa de saber primeiro quantos litros é que consome. Perante faturas indecifráveis, a EPAL decidiu simplificar as suas. Em entrevista ao Jornal Económico, o presidente da EPAL, José Sardinha, fala sobre os investimentos, a redução da dívida, e ensina sobre como o resto do país pode reduzir as perdas de água na rede.

Os clientes da EPAL vão ter alterações na sua fatura mensal. Que mudanças são estas?

O cidadão sabe o que é um litro de água, mas raramente sabe o que é um metro cúbico, que são mil litros. Por exemplo, uma família em Lisboa, consome em média cerca de oito metros cúbicos por mês, ou seja oito mil litros. Mas se dissermos às pessoas que oito metros cúbicos são oito mil litros, até tenho pessoas que entram em negação: ‘não consumo tanta água’. Mas as nossas faturas ainda vão um bocadinho mais além na humanização, e dizem “na sua habitação gastou x litros por dia”. E ainda dizem que a média da cidade onde vive é de x litros por pessoa e por dia.

Qual é a média na cidade de Lisboa?

No caso concreto de Lisboa:149 litros diários e por pessoa. Portanto, passamos a dar essa informação na fatura, quanto é que se gasta por pessoa e por dia em Lisboa. Nas restantes empresas do grupo Águas de Portugal, que têm atividades em baixa, as faturas dizem qual é a capitação média nos outros locais.

Como é que o consumidor pode saber quanto gasta em média por casa?

Na fatura, também dizemos que a pessoa pode calcular a capitação média da sua habitação: basta dividir o valor que nós dizemos na fatura. Por exemplo, gastou 250 litros por dia no último mês e se quer saber a capitação divide esse valor pelo número de pessoas. Por exemplo, se estivessem duas pessoas lá em casa correspondia a 125 litros, é muito ou é pouco? As pessoas não sabem, exceto se conseguirem comparar com a média da cidade de Lisboa, e nós, na fatura, dizemos que o consumo médio em Lisboa são 149. Assim, a pessoa fica imediatamente a saber que, “ok, estou abaixo, portanto estou bem”.

Qual o objetivo desta medida?

No fundo, trata-se de uma medida para aumentar a consciencialização das pessoas sobre quanto é que estão a gastar num bem precioso que é a água. Naturalmente, esperamos que as pessoas respondam com a diminuição de consumos. É bom para elas, é bom para o ambiente, é bom para todos, também para a cidade.

Tem alguma expectativa de redução de consumo com esta medida?

Estamos à espera que os lisboetas nos surpreendam.

Sobre o plano de diminuição da dívida da EPAL. Está a correr conforme planeado?

Aqui, cumprimos rigorosamente tudo. Normalmente, diminuímos na casa dos 15, 20 milhões de euros por ano. Foi o que aconteceu em 2018.

Qual o montante total de dívida? E o programa de redução está previsto terminar quando?

Na casa dos 100 milhões de euros. Eu julgo que mais cinco ou seis anos [o programa está concluído].

Em relação a investimentos, o que é que a EPAL tem em curso agora?

Estamos na fase de conclusão da ETA [Estação de Tratamento de Águas] de Vale da Pedra, no município do Cartaxo [distrito de Santarém], para trazer água para Lisboa. Este é um investimento de 13 milhões de euros que será inaugurado já este ano.

Que outros investimentos a EPAL tem em vista?

Temos também investimentos ao nível da eficiência energética. Vai ser lançado agora o concurso para a nossa ETA da Asseiceira se tornar na primeira instalação mundial autossustentável. A Asseiceira é a maior estação de tratamento de água em Portugal e uma das maiores do mundo e vai passar a produzir a sua própria energia, sem painéis solares fotovoltaicos, através da turbinação da sua própria água. A energia que vai produzir será suficiente para manter toda a instalação em funcionamento. Este investimento é de cerca de 4,5 milhões de euros.

Considera que faria sentido separar e ter uma fatura só para a água e não ter os resíduos e o saneamento juntos com a água?

Não, a fatura está bem assim, e naturalmente tem muita informação mas agora irá passar a ter mais informação, nomeadamente sobre a qualidade do serviço mas são serviços públicos essenciais. Repare, o consumo de água aduz também o consumo de serviço de saneamento, por isso, faz sentido que esteja lá. De facto, os resíduos sólidos também faz sentido, porque uma habitação carece de água e produz resíduos e precisa de saneamento. Acho que como está, está bem.

Portanto, Lisboa tem uma média diária de 149 litros de água consumidos por pessoa, mas qual é a média nacional?

Os valores andam na casa dos 180 litros.

Qual a evolução do consumo na cidade de Lisboa em 2018 face ao ano anterior?

Baixou cerca de 4%, é uma tendência. Já nos 34 munícipios à volta de Lisboa registámos uma redução de 4,5%.

Quais as razões para esta redução?

A redução dos 4% está relacionada com uma maior consciencialização. Por um lado, a seguir a secas, normalmente, as pessoas consciencializam-se muito sobre o consumo de água porque há muitas campanhas e muita educação ambiental, portanto, adotam comportamentos mais eficientes. Por outro lado, temos o chamado crescimento económico, que, normalmente, leva a maior consumo. Portanto, quando estamos a ver uma redução de 4%, quer dizer que as reduções efetivas foram superiores porque há, por um lado, o crescimento económico, há mais habitação ocupada, mais atividades económicas, mais lojas em Lisboa.

Mencionou que havia uma tendência de redução de consumo da água. Quando é que começou?

Até 2005, o consumo foi sempre a subir, a partir de 2005, foi sempre a descer. Uma grande seca que tivemos em Portugal foi em 2005. Entre esse ano e até 2015, os consumos todos os anos reduziram. Depois, subiu em 2016 e em 2017, com muito atividade económica.

Um tema complicado no setor das águas a nível nacional são as perdas na rede de distribuição, que atingem os 30% em média….

… nós continuamos, pelo menos, na casa dos 10%.

O que é que o resto do país tem de fazer para imitar a EPAL e reduzir as perdas ?

Numa palavra: investir. Tem de se investir em dois vetores. O primeiro, investir nas pessoas. Na qualificação dos técnicos, na dotação das equipas com técnicos em número, e sobretudo com formação adequada.

Falou primeiro na importância dos quadros qualificados. E o segundo vetor?

É preciso investir na rede, mas para isso precisamos, primeiro, de ter o cadastro da rede. Depois, em vez de substituir a rede toda, temos de saber onde é que estão as fugas e para isso é preciso o software que nós desenvolvemos, que detetam as fugas mesmo antes de aparecerem à superfície para fazer, cirurgicamente, uma intervenção. Nós temos 1.500 quilómetros de rede em Lisboa e não andamos a substituí-la toda, nem de longe, nem de perto. É um pouco como se tivesse um problema cardiovascular, a intervenção é muito localizada e é ali naquele sistema.

As autarquias ainda precisam de fazer esse caminho?

Nós estamos cá para as ajudar. Aliás, temos feito algumas propostas em que até estamos dispostos a partilhar apenas os beneficios, não vendemos nada.

Em relação aos preços, a água devia ser mais cara para tentar reduzir o consumo?

O preço da água, hoje em dia, é um preço regulado e, no fundo, esse preço tem de refletir o equilíbrio de manter uma infraestrutura pública bem gerida e que forneça, não só as gerações atuais, bem como as gerações futuras. É importante investir continuamente na qualificação e na renovação das infraestruturas e tambem dos trabalhadores. Aqui investir na qualificação permanente dos trabalhadores, que operam estas mesmas infraestruturas. Portanto, eu diria que é um preço justo e um preço sujeito a regulação. Muitos países do mundo não têm regulação, nós temos e devemos fazer bom uso dela até porque tem feito um bom serviço ao país.

Para terminar, tem alguma ambição política?

Zero (risos).

Está bem como gestor da EPAL?

Sou gestor, sou apenas gestor. Político não. Uma coisa é política, outra coisa é gestão.

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