A trama política voltou à ribalta numa semana catastrófica em termos de pandemia. As eleições nos Açores animaram um país que parece perdido no caos das micro e PME em busca de soluções para sobreviverem. Vamos à política.

O facto de Rui Rio ter finalmente percebido que não chegará ao poder sem o apoio do Chega de André Ventura parece estar a incomodar muita gente. Por um lado, Rui Rio foi acusado desde que assumiu a presidência do PSD de ter promovido uma viragem à esquerda, com um cariz mais social-democrata e menos liberal, por oposição ao que era o partido sob a liderança de Pedro Passos Coelho; por outro, agora é quase crucificado por dar a mão a Ventura nos Açores e conseguir retirar o PS do Governo Regional, onde estava há mais de duas décadas no poder.

Decidam-se! Ou Rui Rio é um perigoso esquerdista que quer recentrar o PSD e colar-se ao PS e que anda a preparar o terreno para dar a mão a António Costa, ou está em vias de promover a grande coligação de direita que hoje em dia não se fará apenas com o CDS e a IL – esta não dispensa a popularidade (e também o populismo) de André Ventura, que tem um discurso mais radical, é certo, só que também introduziu temas antissistema que dizem muito a um eleitorado farto das soluções do chamado bloco central dos interesses.

Com esta jogada nos Açores, Rui Rio pôs toda a gente outra vez a falar do PSD, das preferências de membros da sua direção, das origens do PPD, da criação da AD e, pasme-se, até das eleições legislativas. Que se saiba não estão marcadas, mas podem acontecer a qualquer momento a partir do segundo semestre do próximo ano.

Rui Rio tem, de facto, muitos defeitos, na realidade todos temos, mas politicamente tomou a decisão certa. Erradicou o PS do Governo nos Açores, ajudou a varrer a esquerda e está a caminhar a passos largos para se tornar um caso sério. Era isto que ele queria? Não sabemos, mas a verdade é que conseguiu em pouco mais de uma semana que o PSD voltasse a ser o centro das atenções, por más razões dizem uns, por razões válidas dizem outros. O certo é que o PSD está vivo, voltou a ser poder e está a aquecer os motores para as eleições que aí vêm.

Costa está desgastado, dizem alguns analistas das fações contrárias, enquanto o candidato-presidente Marcelo vai fazer uma campanha em plena pandemia com adversários mais fracos, mas ossos difíceis de roer (com destaque para Ana Gomes). Rui Rio pode ficar descansado à espera que acabe a presidência portuguesa da UE e a impossibilidade de o presidente dissolver o parlamento, estando ao mesmo tempo a escolher “a sua noiva”.

Para já, André Ventura apresenta-se como um parceiro para uma relação mais duradoura do que um CDS enfraquecido e dividido e uma IL combativa mas sem liderança à altura. A assunção de poder por parte do Chega pode também significar fragilidade, pois aproxima-se do “arco de governação” e o seu antissistema cairá “de maduro”. Mas Rio fez mais do que dar uma prova de vida, assumiu-se como um potencial e próximo primeiro-ministro.