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Pressionado por exigências de Pequim, grupo Wanda vende 17% do Atlético de Madrid

O investimento do império de Jianlin no Atlético de Madrid fazia parte de um objetivo a longo-prazo: transformar o grupo “na maior empresa de turismo do mundo”. Agora, mudanças na política económica e financeira da China fragilizam a empresa, que foi obrigada a vender quase a totalidade da participação no clube espanhol.
  • Wang Jianli, fundador do grupo Wanda
16 Fevereiro 2018, 12h24

O grupo empresarial chinês, fortemente endividado, vendeu quase toda a participação no capital do Atlético Madrid aos israelitas do Quantum Pacific, comunicou esta semana o clube espanhol. O Wanda alienou 17% dos 20% de participação que detinha nos colchoneros. A medida surge ainda na sequência do governo chinês querer reduzir o endividamento excessivo das empresas chinesas.

O grupo Wanda, que opera principalmente no ramo imobiliário, continuará a ser patrocinador do Atlético Madrid, cujo estádio tem a designação Wanda Metropolitano.

“O Quantum Pacific Group chegou a um acordo com o Dalian Wanda Group para adquirir a sua participação no Atlético de Madrid, que representa 17% do capital social do clube”, referem os rojiblancos na sua página oficial.

Propriedade do milionário israelita Idan Ofer, com atividade na área petrolífera, o Quantum Pacific Group já detinha 15% do clube, adquiridos em novembro por 50 milhões de euros, e passará assim a ter 32% do capital.

O conselheiro delegado do clube, Miguel Ángel Gil, e o presidente do clube, Enrique Cerezo, continuam, contudo, a ser os acionistas maioritários do Atlético de Madrid.

Wanda queria ser “a maior empresa de turismo do mundo”, mas já está vender as jóias do portefólio

Wang Jianlin, presidente do gigante imobiliário, tinha assinado em 2015 com grande pompa e circunstância, em Pequim, a compra de 20% do Atlético de Madrid. depois de a China levantar um bloqueio na sua política de crédito para grandes empresas investirem noutros mercados e tornarem-se gigantes globais.

O investimento do império de Jianlin no Atlético de Madrid fazia parte de um objetivo a longo-prazo: transformar o grupo “na maior empresa de turismo do mundo”. Nos últimos cinco anos, o grupo investiu quase 13 mil milhões de euros em aquisições estrondosas, que incluíram a cadeia de cinema AMC, por 2.600 milhões de euros, ou um estúdio da Legendary Pictures, por 3.500 milhões de euros. Seguiram-se propriedades na Austrália, nos Estados Unidos e na Europa. Na capital espanhola, além do investimento nos colchoneros, o grupo comprou o Edificio España por 265 milhões de euros – acabaria por vendê-lo depois de um desacordo com o município de Madrid.

Aquele que é o quarto homem mais rico da China chegou a apresentar-se no Fórum Económico Mundial, em Davos, Suiça, em 2017, com planos de adquirir um grande estúdio de Hollywood e investir 10 mil milhões de dólares um pouco por todo o mundo. A Disney chegou mesmo a ser convidada a criar uma rede de parques temáticos na China.

Mas o cenário inverteu-se repentinamente, depois de o presidente chinês, Xi Jinping ter apostado numa campanha contra a corrupção, aprovada no último congresso do partido comunista da China, intensificando a luta do governo contra os riscos financeiros excessivos. Por agora, essa luta está a concentrar-se na redução do excesso de crédito bancário e investimentos faraónicos dos grandes grupos do país.

Em junho passado, uma comissão reguladora do setor bancário pediu às instituições financeiras que revissem os empréstimos concedidos aos cinco gigantes empresariais mais devoradores. O grupo Wanda foi um dos alvos, sendo que o bloqueio ao crédito promovido pelos governantes chineses afetou também o grupo Fosun, a HNA e a Anbang.

Quanto ao grupo Wanda, o valor total da dívida é desconhecido, embora uma das suas filiais imobiliárias ter sido colocada em 2016 numa lista de maiores devedores em Hong Kong. A Wanda Commercial Properties teria uma dívida superior a 28 mil milhões de euros. Até agora, o grupo Wanda, fundado em 1988, já teve que vender um parque temático por 8,1 milhões de dólares, na China e de dois icónicos imóveis na Austrália e começou a criar parcerias estrategistas para diminuir os riscos de crédito.

No iníco de fevereiro foi anunciado que a Alibaba entrará no capital numa subsidiária de Wang Jianlin, a Wanda Films, para comprar 12,7% das ações.

O objetivo do grupo chinês poderá passar agora por “limpar” a demonstração de resultados e preservar a credibilidade do grupo enquanto investidor. Embora Jianlin já tenha dito publicamente cumprir todas as dívidas do grupo. “Damos mais importância ao crédito do que a ativos ou lucros”, disse em janeiro, antes de adiantar, “nós nunca deixaremos de pagar uma dívida em qualquer lugar do mundo”.

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