Os custos sentidos pelas empresas portuguesas devido a problemas de saúde mental dos trabalhadores dispararam quase 66% em apenas dois anos. Um relatório divulgado esta sexta-feira pela Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) dá conta de que em 2022 o stress e outros problemas de saúde psicológica causaram perdas de produtividade na ordem dos cinco mil milhões de euros aos empregadores, cerca de dois mil milhões de euros a mais do que o balanço feito em 2020.
“Nos últimos anos, os desafios colocados pela pandemia e a crise socioeconómica dela decorrente têm desencadeado profundas e rápidas mudanças laborais, que agravaram os riscos psicossociais pré-existentes e colocam em evidência a relevância da saúde psicológica e do bem-estar dos trabalhadores nas organizações”, começa por sublinhar a OPP, que avisa que esses riscos e a falta de saúde psicológica não têm apenas um “custo humano enorme”, mas impactam também a própria economia.
Prova disso são as perdas de produtividade resultantes de problemas deste foro: “a perda de produtividade devida ao absentismo e ao presentismo causados por stress e problemas de saúde psicológica pode custar às empresas portuguesas até 5,3 mil milhões de euros por ano”, indica a Ordem, referindo-se a 2022. Quanto a 2020, a OPP apontava para 3,2 mil milhões de euros.
Ou seja, em apenas dois anos, houve um crescimento de quase 66%, o equivalente a dois mil milhões de euros. Aliás, como termo de comparação, o custo total identificado para 2022 é o equivalente ao que o Governo gastou em 2021 em medidas para mitigar os impactos da crise pandémica, salienta a OPP.
No relatório divulgado esta sexta-feira, estima-se, além disso, que em Portugal os trabalhadores faltaram oito dias por ano devido a problemas de saúde psicológica, mais 1,8 dias do que em 2020. Já o presentismo é responsável por uma perda de trabalho equivalente a 15,8 dias, mais 3,4 do que em 2020.
“No total, a perda de produtividade pode custar às empresas portuguesas até 1,4% do seu volume de negócios. A prevenção e a promoção da Saúde Psicológica e do bem-estar nas empresas portuguesas podem reduzir as perdas de produtividade pelo menos em 30% e, portanto, resultar numa poupança de cerca de 1,6 mil milhões de euros por ano”, alerta a OPP.
Estes avisos são particularmente relevantes num país que se tem defrontado com níveis de produtividade cronicamente baixos, apesar do número de horas trabalhadas ser dos mais elevados da Europa. Os economistas defendem, de resto, que aumentar os salários exigirá uma subida significativa da produtividade.