Em 1974, Philippe Petit atravessou os 42 metros que separavam as Torres Gémeas, equilibrado num cabo. A 410 metros de altitude, caminhou, dançou, deitou-se e até acenou ao público. Foi uma demonstração de destreza única, que foi o mote de vários filmes e livros.

O que podemos retirar desta história é que grandes resultados não chegam sem preparação: Petit planeou durante seis anos esta manobra de sucesso. Além da exigência do treino físico, descobriu como entrar ilegalmente nas Torres Gémeas, chegar ao topo e instalar o cabo de aço antes do amanhecer. Para superar a passagem, foi preciso antecipar os efeitos do clima e do vento na sua performance.

Nas condições atuais, em que o equilíbrio entre ameaças e oportunidades é vertiginosamente dinâmico, cada empresário é um Philippe Petit. Não só tem de preparar antecipadamente a sua empresa, como, a cada passo, tem de parar, avaliar a direção do vento e avançar cautelosamente.

A linha é fina e a queda mortal. Ao contrário da história do equilibrista francês, nas empresas nem tudo se pode prever. As decisões perante o desconhecido são constantes e o impacto de cada movimento não se mede em tempo real: expandir ou conter esforços publicitários? Arriscar meios financeiros ou preservá-los? Diminuir custos sem afetar a qualidade, o serviço ou o moral das equipas?

No atual contexto de pandemia, as decisões relacionadas com a segurança são tão importantes para os empresários como eram para o equilibrista. Nas duas extremidades do cabo residem cenários opostos: de um lado, suspender todas as operações, do outro, continuar como se não existisse Covid-19. No meio, mil opções.

Mas não ficamos pelas decisões com as quais os empresários são confrontados. Acrescem as sistemáticas e imprevisíveis mudanças legislativas. Se antes da pandemia, já era dificílimo acompanhar a enorme produção legislativa, fosse fiscal, laboral, relativa a subsídios ou com impacto operacional. Agora, só com truques de contorcionista é que conseguimos tal proeza.

De notar que, para além da cuidada preparação, a façanha de Petit teve outros aspetos com os quais podemos aprender. Apesar de ter conseguido executar a acrobacia a solo, aproveitou todas as ocasiões para recrutar aliados para a sua causa, conseguiu motivar esses cúmplices com uma visão partilhada ambiciosa; esteve aberto a novas ideias, originárias da equipa ou fora dela, integrando as que melhor permitiam ultrapassar adversidades. Tudo ações adaptáveis ao contexto empresarial.

Não é só o planeamento, os efeitos da equipa, do vento ou do clima, são milhares os obstáculos que podem desequilibrar as empresas.

Num mundo muito mais rápido e incerto, quando finalmente atravessar o abismo, o empresário não será notícia. Na verdade, terá imediatamente de recomeçar a treinar o dobro, para que na próxima crise continue a resistir em cima do arame.