[weglot_switcher]

Protecionismo conduz à “venezuelização” das instituições, alerta Sérgio Sousa Pinto

Deputado socialista defende que a ineficácia da resposta dos partidos políticos do sistema aos desafios da globalização tem aberto o caminho para os movimentos populistas que defendem medidas protecionistas. “Não há aí nenhuma promessa realista de prosperidade e de bem-estar social; é tudo uma ilusão”, afirma Sérgio Sousa Pinto.
  • Sérgio Sousa Pinto
11 Janeiro 2021, 21h15

Os movimentos populistas têm acompanhado a liberdade política desde que civilização experimentou a democracia. “É uma patologia da democracia e que acompanha a história democrática desde o princípio”, nos tempos idos da Grécia antiga, disse o deputado socialista, Sérgio Sousa Pinto, esta segunda-feira.

O antigo presidente da Juventude Socialista, que participou num debate online promovido pela SEDES com Adolfo Mesquita Nunes, ex-deputado e vice-presidente do CDS, Adolfo Mesquita Nunes, procurou explicar como a esquerda atual — sem esquecer a direita — tem alguma responsabilidade na revitalização dos movimentos populistas por não conseguir dar uma resposta efectiva aos desafios colocados pela globalização, nomeadamente o ressurgimento do nacionalismo, que esteve no centro deste frente-a-frente que será transmitido esta terça-feira nas redes sociais do Jornal Económico e na JE TV.

“O populismo, não nos vamos ver livre dele, nunca”, começou por dizer Sérgio Sousa Pinto, para quem a esquerda tem respondido de forma ineficaz, dando como exemplo, a sua resposta ao aumento da disparidade salarial entre CEOs e “operários” com “mais mulheres e mais minorias étnicas nos conselhos de administração” das empresas.

“Eu sou um progressista clássico. Não sei se há mulheres ou não suficientes no conselho de administração, acho que há questões fundamentais com a condição feminina e não sei se a entrada nos conselhos de administração é a que requer intervenções de ordem política e legislativa mais intrusiva. Em todo o caso, a prioridade seria reverter a relação de poder entre os trabalhadores e os detentores dessas empresas”, disse o deputado do PS, realçando que esta é ” uma conceção de um progressista clássico, que ainda se move nas grandes referências da esquerda anteriores a esta descaracterização que assenta na desconstrução da realidade, em que tudo são ilusões e conceções intelectuais do que pareciam ser factos sociais e biológicos. São apenas construções. Isso tem sido uma tragédia para a esquerda”.

Em resultado, prosseguiu, a esquerda política tem deixado “as multidões em estado de orfandade”, realçando que “as multidões desenquadradas são previsíveis”, procurando respostas em movimentos políticos populistas que defendem medidas protecionistas. “Por isso é que vemos a força de Marine Le Pen, com militantes que vêm do partido comunista, e vemos o cavalheiro André Ventura com gente que vem do partido comunista”, salientou o deputado.

Estas franjas das populações “desenquadradas” são pois uma consequência de “um fracasso colectivo” que carece de resposta. “É muito importante quando se faz pedagogia e se diga [às pessoas] que não se iludam no protecionismo. Não há aí nenhuma promessa realista de prosperidade e de bem-estar social; é tudo uma ilusão. E isso vê-se tanto na esquerda, como na direita, a ideia de que podemos nos isolar do mundo e reconstruir artificialmente o que existe no paraíso. Não existe isso. Só existe Venezuela, só existe empobrecimento e venezuelização do país e das instituições. É preciso fazer essa denúncia e encontrar os mecanismos que respondam ao nosso impacto nacional.

 

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.